PROTEÇÃO
GUIA
CLARIVIDÊNCIA
PODER
PERSISTÊNCIA
RESSURREIÇÃO
...
é isto o que os egípcios queriam.
Ao visitarmos os museus com secções destinados à cultura egípcia antiga, nos deparamos com uma infinidade de objetos estranhos, tais como
machadinhas,
dedos humanos,
patos em atitude de vôo,
rãs,
olhos e orelhas humanas,
feixes de plantas,
pilares,
anzóis,
babuínos,
hipopótamos,
íbis,
estrelas,
insetos e
asas.
Grande é o número desses objetos, feitos com os mais variados materiais :
ouro,
faiança,
pedra,
lápis-lazúli,
madeira ...
As dimensões variam.
A esses motivos os antigos egípcios atribuíam virtudes sobrenaturais : eram seus companheiros mágicos nesta e na outra vida.
COLUNETA DJED
é um dos mais frequentes amuletos.
Tomado como símbolo hierográfico significa :
duração,
conservação,
persistência.
Tomado como símbolo teológico vemos nela
a coluna vertebral de OSÍRIS e
sede do 'fogo da vida'.
Dela emanava o mágico poder do fluído, do fogo vital que OSÍRIS comunica aos defuntos.Segundo a lenda, os assassinos de OSÍRIS teriam mutilado seu corpo e espalhado seus membros por todo o Egito.
ÍSIS e ANÚBIS tê-los iam recolhido e reconstituído.
Esse trabalho de recomposição foi empreendido por ANÚBIS e iniciado pela coluna vertebral e costelas do grande deus.
SÍMBOLO DE ÍSIS
pertence à família do talismã acima descrito.
Como sinal hieroglífico lê-se 'tit'.
Geralmente era talhado em jaspe ou cornalina, por terem coloração vermelha.
O "Livro dos Mortos" declara que 'o sangue todo carregado de virtudes mágicas ' da deusa ÍSIS circulava nesse amuleto.
Ou melhor : o talismã continha o sangue mágico da generosa divindade, esposa de OSÍRIS.
Ele é assemelhado a outro símbolo sagrado : o 'ank'.
OLHO DE HÓRUS
também pertence à mesma família.
Talvez seja o amuleto mais usado.
Conta a tradição que HÓRUS vingou seu pai OSÍRIS, em uma luta com seus inimigos e assassinos.
HÓRUS arrancou os órgãos viris deles ( o pênis ), mas perdeu um olho na refrega.
E é esse olho que THOT depositou cobre a língua de OSÍRIS que, dessa forma, recuperou a vida.
Por isso o amuleto é encontrado sobre a língua de muitas múmias para que, à semelhança de OSÍRIS, pudessem recobrar a vida.
O amuleto concede ao defunto
a clarividência,
a visão direta do mundo invisível.
KHEPER
o escaravelho, é o símbolo egípcio
da ressurreição,
da potência criadora.
Seu nome 'keper' , 'kheper' ou 'akhper' significa
existir,
nascer,
vir à ser.
Os colares e peitorais dos nobre egípcios, encontrados em seus túmulos de várias épocas, trazem, na maioria das vezes, a figura de um escaravelho, pois ele garantia a persistência do ser.
Quem o levasse para a tumba assegurava efetivamente
seu renascimento.
Por isso substituíam nas múmias humanas e de certos animais, o coração carnal do defunto por um outro de ouro, vidro, turquesa, lápis-lazúli, pedra, faiança, marfim ou feldspato, tendo a forma de um escaravelho.
O verdadeiro coração era simbolicamente conduzido ao Tribunal, para o julgamento.
Aumentavam-se as possibilidades do defunto substituindo esse órgão por um mais duro, de pedra.
Muitas vezes o coração-escaravelho apresenta-se alado ou ladeado pelas deusas ÍSIS e NÉFTIS, como um peitoral e era o orgulho das damas nobres.
CETRO DE PAPIRO
aparece em várias estátuas ou em painéis.
Deusas e rainhas aparecem segurando esse cetro.
Era confeccionado em feldspato verde ou faiança.
Significa
verdor,
juventude,
fecundidade.
Múmias de princesas e rainhas frequentemente seguram o cetro de papiro.
Dois capítulos do "Livro dos Mortos" são-lhe destinados.
OUTROS AMULETOS
São frequentes, nos túmulos ou dentro de ataúdes, o uso de um amuleto que tem a forma de apoio, travesseiro ou CABECEIRA.
Na tumba de TUTANKHAMEN, CARTER encontrou muitos desses descansos para a cabeça.
Um deles tem o significado retirado de um antiquíssimo mito da criação do Universo.
O mito conta que o céu e a terra eram unidos e, mais tarde, o ar introduziu-se no meio deles e elevou o céu, separando-o da terra.
Segundo a descrição de CARTER,
"a cabeceira conta a mesma coisa : na superfície terrestre acham-se deitados dois leões, personificando o passado e o futuro.
Entre eles ajoelha-se o deus do ar SHU, que eleva em seus braços a abóbada celeste"
( OTTO NEUBERT - "Gost in Goldenen Särgen Tut-Ench-Amun" ).Outro travesseiro traz gravada esta inscrição :
'Para levantar a cabeça do que aqui repousa'.
Diz o egiptólogo KURT LANGE que "a cabeceira não servia somente para apoiar a cabeça, mas garantia ao morto que teria ele bem ainda uma cabeça para apoiar nela" ( "Piramiden, Sphinx, Pharaonen" ).
Traduzindo isso - já estudamos o esquartejamento de OSÍRIS por seus inimigos. O mesmo ocorria com o defunto. Sua cabeça e seus membros, mesmo simbolicamente, foram arrancados de seu corpo.
Basta-nos só uma linha do Capítulo 16 do "Livro dos Mortos" para entendermos que uma segunda morte não ocasionaria a perda de sua cabeça :
'Tu és HÓRUS, filho das chamas, a quem foi restituída a cabeça após ter sido decepada'.
Um amuleto usado nos tempos do Antigo Império, era a ORELHA.
Em um material qualquer - pedra ou argila - desenhavam uma ou um par de orelhas, simbolizando as do deus.
No restante da placa gravava-se um pedido à divindade.
Funcionava como se fosse um cochicho aos ouvidos do deus.
Depois, colocavam o nome do suplicante - pois a divindade poderia não se lembrar de quem fez tal súplica.
Certos amuletos ou símbolos tinham um caráter mais reservado do contágio popular. São eles :
a chave 'ank' , da vida :
o círculo 'shenu' , senhorio, poder, posse, consciência do dever ;
'sa' , da proteção, amparo ;
'was' , domínio.
As divindades egípcias, para muitos casos, também se apresentavam miniaturizadas na forma de talismãs, como
APET ( hipopótamo ) : deusa protetora da gravidez ;
HEKET ( rã ) : protetora dos partos e da câmara nupcial ;
SERPENTE 'URAEUS'
constitui um símbolo de ação privilegiada dos membros de sangue real da família faraônica : o tempo indivisível.
"Le serpente présent um symbole parfait de l'énergie créatrice appartenant à l'espirit suprême, auteur de l'universe, et de la création ele-même"
( PAUL BRUNTON - "L'Egypte Secrète" ).
Portanto, é signo da descendência divina dos faraós, nascidos do Espírito Supremo.
A uraeus tinha, quase sempre, uma função a desempenhar contra os salteadores de tumbas :
'Que seja aniquilada a mão que se levanta contra mim.
Que sejam estraçalhados os que toquem a minha forma, o meu nome, o meu ká e as imagens de minha aparência.
A real uraeus que coroa minha fronte, vomitará labaredas sobre suas cabeças e elas quedarão onde antes tinham os pés'.
Uma das duas palavras pelas quais os egípcios usavam para a 'uraeus' era 'a brilhante'.
Enquanto umas serpentes representavam a divindade, certas espécies simbolizavam o mal.
Daí encontrarmos vários tipos de desenhos de serpentes :
as boas eram representadas geralmente arrastando-se ;
as más, erguidas.
O "diabo" APEPI ou APAP tinha a forma de uma serpente de muitas volutas, que encabeçava as forças do mal.
RENENUTET , deusa das colheitas, tinha a forma de uma serpente ;
EDJO ou BUTO é a deusa protetora do Baixo Egito, também com forma de serpente.
As cores contribuíam para a correspondência entre a enunciação e a pretensão do talismã :
verde ,
correspondia a uma vida poderosa e fecunda ;
cornalina ,
à saúde ;
vermelho ,
o vigor, renovação, mérito, esplendor ;
amarelo / branco (= cores do sol ) ,
a pureza e elevação ;
ouro ,
duração e indestrutibilidade.
Além do talismã e da cor, havia ainda a palavra certa , a palavra de praxe, a palavra dos preceitos a ser usada corretamente e assim efetivar o efeito do que se pretendia.
Para afugentar uma doença, por exemplo, os egípcios recorriam à magia, recitando com voz forte e compenetrada, certas
frases impregnadas de encantamentos.
Essas frases faziam a doença compreender que será desvantagem, para ela, atacar a vítima.
Havia invocações para curar
resfriado,
febre
e maus espíritos.
Quando desejavam cobrir de bênçãos o sono das crianças,
ou quando retiravam as ataduras de um ferimento,
recorriam a outras tantas fórmulas :
'Libertado ele foi, libertado por ÍSIS.
Libertado foi HÓRUS por ÍSIS de todo o mal que lhe foi feito por seu irmão SETH, quando este matou seu pai OSÍRIS.
Ó ÍSIS, liberta-me, liberta-me de todas as coisas más que venham sobre mim.
Tu és grande mágica !
Cura-me das doenças demoníacas, como libertastes e curastes teu filho HÓRUS'.
A fórmula e a voz com que se pronuncia, completavam-se reciprocamente.
Os textos dizem que deve-se ter 'má khron' (= voz justa) : abrir a boca em sentido místico - isto é, saber formular a palavra com a entonação certa e precisa.
No Egito havia
fórmulas mágicas (= 'hikan' ) ,
conjurações contra os maus espíritos (= 'abentiu' )
e os encantamentos para chamar os espíritos benfazejos (= 'hosin' ).
Não devemos julgar ignorantes os habitantes do Vale do Nilo simplesmente por usarem talismãs de sentido mágico.
Antes, devemos nos lembrar que inúmeras medalhinhas, figurinhas ou fitinhas, de igual misticismo, pendem de graciosas correntinhas de ouro no pescoço de nossas criancinhas e mesmo de nós, adultos ;
ou ainda, amarrarmos fitas coloridas nos nossos pulsos ou nas placas de nossos veículos, simbolizando uma proteção ou bênção recebida.
Assim como é nosso hábito usar figurinhas de santos para nossa proteção pessoal, ou coraçõezinhos gravados com "Deus te guie", nada de extraordinário podemos encontrar no sentido mágico dos amuletos egípcios.
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