1798
NAPOLEÃO BONAPARTE APORTA EM ALEXANDRIA COM 40.000 HOMENS :
NASCE A EGIPTOLOGIA !
"Não se sabe se o principal motivo do Diretório francês para a arriscada expedição era cortar as comunicações inglesas com o oriente, estabelecer uma colônia francesa nessa posição-chave geográfica, ou simplesmente livrar-se de BONAPARTE.
Por sua vez, este já sonhava com um vasto império oriental.
Lá permaneceu um ano, embora seu exército ficasse até 1801, quando foi expulso pelos ingleses.
De um modo geral, a expedição foi um fracasso.
Entretanto, destruiu o prestígio de MURAD BEY [ "Bey" = título turco inferior ao "Paxá", dado aos oficiais superiores do exército otomano e aos altos funcionários da administração pública ], líder mameluco, na Batalha das Pirâmides - mas não o esmagou completamente.
Preparou o caminho para sua exterminação nas mãos de MEHMET ALI, nove anos depois "
( PETER MANSFIELD - "Nasser's Egypt", 1965 ).
Cada página da História está repleta de atos e palavras de bravura, de conquistas e derrotas, de amor e ódio, poder e ambição.
Estas provocaram sangrentas batalhas, aquelas coroaram fatos gloriosos.
Umas amenizaram o fatigável peso da derrota e outras orientaram os caminhos da humanidade.
Mas de todas as palavras, umas têm, para nós, um significado muito especial.
Eram frases de incentivo, encorajando os soldados para um árduo combate - um combate de heroica conquista, não contra nações ou impérios, mas contra o próprio tempo : uma batalha que ainda hoje transforma o mais simples soldado, no maior dos generais.
A luta inicial travou-se no ano de 1798.
O dia, não importa.
Se o comandante estava à frente de 40.000 soldados ou à frente de apenas 75 sábios, também não importa.
O que nos interessa é que o valente general se encontrava no vasto planalto de Gizé, rodeado por homens de sabedoria, completamente envolvidos por uma neblina de mistério, formada por três gigantescas e pomposas massas compactas de granito, reduzindo-os a simples formigas.
O próprio tempo ali meditava com eles.
Três pirâmides e uma Esfinge - "guardiã fiel ao pé de seu senhor" - os desafiavam.
Subitamente, quebra-se o milenar e profundo silêncio: ouve-se uma voz pausada, inquebrantável e promissora :
"Soldados da pena, soldados da Ciência !
Do alto destas pirâmides quarenta séculos vos contemplam !
Tendes aqui um dever a cumprir : o de pesquisar .
O mundo deseja conhecer a história dos egípcios.
Por isso, avante !"
As palavras de NAPOLEÃO inflamaram os quatro cantos do mundo, dando início à batalha da Egiptologia.
Um ano depois, como veremos, encontrara-se a Pedra de Rosetta, com a qual CHAMPOLLION transpõe as portas do mundo desconhecido.
Rompia-se o selo intacto dos túmulos, desvendando-se o segredo da Esfinge, muda e imperturbável !
O inicio desses trabalhos foi um importante achado nas colinas próximas do Forte Saint Julien, situado a 7,5 km. da cidade de Rachid, batizada "Rosetta" pelos franceses.
Quando cavavam trincheiras, um soldado descobriu uma pedra basáltica negra e plana, tendo as dimensões de um pequeno tampo de mesa (1,40 m. X 0,75 m.).
( leia mais detalhes em https://pt.wikipedia.org/wiki/Pedra_de_Roseta )
( leia mais detalhes em https://pt.wikipedia.org/wiki/Pedra_de_Roseta )
Num dos lados, originalmente polido, continha 3 tipos de inscrições :
em cima, 14 linhas hieroglíficas ;
no meio, 35 demóticas ;
embaixo, 54 em grego.
O "Courrier de L'Egypte" nº 37 , 29 fructidor - VIIe. anné de la Republique - Rosette (= 29 de agosto de 1799), noticiou o achado.
Por mais estranho que pareça,
"um exemplar desse jornal veio ter à casa paterna do homem que, 20 anos mais tarde, num genial e inigualável trabalho, devia ler a laje negra".
Por ora, a verdadeira história egípcia ainda jazia, resguardada por um véu, assim como a Kaaba é envolvida pela "kiswa".
O nome do soldado que a descobriu não chegou até nós, exceto seu comandante, General BOUSCHARD - que passou à História.
"Primeiramente a pedra foi levada para o Cairo, onde iriam estuda-la os sábios do Instituto Egípcio, fundado por NAPOLEÃO.
Decalcaram-se as inscrições, fizeram-se cópias, e tudo foi enviado para a França.
Mais tarde a pedra foi levada para Alexandria e instalada na residência de MENOU, comandante-chefe das tropas francesas.
Em 1801, os ingleses desembarcaram e MENOU viu-se obrigado a capitular.
Em 1802, o lajedo chegou a Portmouth, sendo entregue ao Museu Britânico pelo REI GEORGE "
( ERNEST DOBLHOFER - "Zeichen und Wunder", 1957 ).
O texto grego foi lido na própria hora do achado : tratava-se de um decreto do rei da Dinastia Lágida PTOLOMEU V EPIFÂNIO , publicado em 196 aC., em Mênfis.
Restava ler os outros dois textos.
O Egito tornou-se uma sensação : estavam abertas as portas para o profundo estudo da EGIPTOLOGIA !
DOMINIQUE VIVANT DENON
incentivou a pesquisa pelas antiguidades egípcias, editando a "Description de L'Egypte", com 24 volumes de texto e 20 de gravuras.
Ele foi um dos sábios que acompanharam NAPOLEÃO.
A pedra negra havia sido encontrada - filósofos e eruditos do mundo inteiro debruçaram-se sobre seus desenhos e reproduções.
Acreditavam que dentro em pouco seriam capazes de ler as inscrições e desvendar o mistério de séculos : o que os egípcios diziam !
Façamos um retrospecto no assunto :
Por volta de 390, HORÁPOLO DE NILÓPOLIS já publicara 2 livros, provavelmente escritos em copta, sobre os sinais hieroglíficos, sendo traduzidos no Século XV pelos renascentistas.
Numa avaliação do egiptólogo alemão ADOLF ERMAN, tratava-se de "verdadeiras loucuras".
No entanto, até princípios do Século XX, foi tida como última palavra no assunto.
"Quando o cristianismo se tornou a religião oficial de Constantinopla, a moderna Istambul, TEODÓSIO mandou derrubar (em 389) todos os templos, estátuas e tudo quanto se referia aos deuses egípcios e seus livros-papiros, tidos como pagãos "
( GUSTAVE LE BON - "A Civilização Árabe" ).
Quando o representante do segundo sucessor de MUHAMMED IBN 'ABDULLAH IBN 'ABDEL MOTTALIB IBN HASHEM ( = MAOMÉ ), o Califa OMAR, empreendeu a tarefa de conquistar o Egito, aquelas terras serviram de palco de batalhas a numerosas seitas que excomungavam-se com lutas intermináveis.
O dono do Egito era o imperador HERÁCLITO, até que em 639 (= 18 da Hégira), AMRU, lugar-tenente de OMAR, entrou em conquista no país.
As inscrições dos monumentos chamaram a atenção dos árabes, mas suas tentativas de decifração foram também fantasiosas.
O Pe. ATANÁSIO KIRKER (1643),
publicou 4 volumes sobre traduções, onde afirma ser o copta a língua popular do velho Egito.
KIRTER deu a lume dicionários cópticos e até uma gramática como ponto de partida dos estudos de língua copta.
CHAMPOLLION, partindo desses conhecimentos, conseguiu a chave de seu trabalho.
JOSEPH DE GUINES,
historiador e orientalista, leu corretamente o nome de "Menés" , mas afirmou numa conferência proferida na Academia Francesa, em 14/11/1756, que os chineses eram colonos egípcios no extremo oriente.
E os ingleses, para bulirem com ele e contrariá-lo, asseveraram que, ao contrário, os egípcios é que provieram da China.
CARTEN NIEBUHR (1762), foi um dos precursores da decifração.
"Observou certa diferença entre 'caracteres maiores e menores' ; os maiores funcionavam como 'imagens significativas', deixando aos menores o papel de 'explicação e significação dos maiores'.
Contudo, a glória destinava-lhe aos fundamentos de outra escrita : a cuneiforme "
( ERNEST DOBLHOFER - obra citada ).
AMEILLON,
em 1801, publicou o texto grego - "Esclarecimentos sobre a inscrição grega do monumento encontrado em Rosetta" e SYLVESTRE DE SACY
ocupou-se do demótico, em 1802 - "Carta ao cidadão CHAPTAL, sobre a inscrição egipcíaca do monumento"... etc.
DOUGLAS AKERBLAD (1802)
obteve alguns resultados isolando caracteres demóticos.
THOMAS YOUNG ,
médico inglês, reconheceu dentre os hieróglifos alguns símbolos que talvez significassem o nome 'Filho de RÁ, PTOLMAAS'.
Editou em 1814 um livros : "Tradução Provável do Texto Demótico da Pedra de Rosetta".
O italiano GIOVANNI BATTISTA BELZONNI (1778-1823) encontrára na Ilha de Filas, no Egito, a base de um obelisco com os nomes "PTOLMAAS" e "CLAOSPADRA", inseridos dentro de uma forma oval, assemelhada aos cartuchos de fuzil. Daí chamarem essas linhas de "cartouche".
Os mesmos nomes figuravam também na pedra.
Mas a sabedoria terminou e as esperanças foram sepultadas.
Alguns pesquisavam a sério, em pról da causa ; outros já buscavam o sensacionalismo.
Começou a intriga e o debate acirrado.
Isto prosseguiu mesmo depois do dia 17 de setembro de 1822 [ dez dias depois que o Príncipe Regente D.PEDRO aqui proclamou a independência do Brasil de Portugal ], quando o jovem JEAN-FRANÇOIS CHAMPOLLION comunicou à Academia das Inscrições e Belas-Artes de Paris, que o hieróglifos estavam decifrados.
Os que duvidavam de sua vitória, permaneceram no palco, rebatendo sua gramática.
CHAMPOLLION nunca compenetrou-se realmente do caráter da escrita em si, apesar de outros estudos e obras que escreveu :
"Egypte Sous Les Pharaons" ( 1814 )
"Discours d'ouverture du Cours d'Archéologie au Collège Royal de France" ( 1/5/1831 )
"Lettre à M.Dacier, relative à l'alfabet des hiéroglyphos phonétiques" ( 23/91822 )
"Précis du Système Hiéroglyphique" ( 1824 )
"Monuments de L'Egypte et de La Nubie"
"Grammaire Egyptienne".
Outros homens eruditos completaram sua obra :
o alemão WILHELM VON HUMBOLDT ,
os ingleses CHARLES GOODWIN, HENRY SALT e THOMAS YOUNG ,
o austríaco HAMMER-PUGSTALL ,
o italiano ROSSELINI e
o holandês LEEMANS.
Contudo, a compreensão da gramática escrita egípcia coube a CARL RICHARD LEPSIUS ( 1842), que se tornou diretor da secção egípcia do Museu Real de Berlim.
Atualmente os arqueólogos que partem para o Egito com esperanças de novas descobertas, ou se incorporam a entidades que já trabalham nas explorações, leem corretamente os hieróglifos, "como se estivessem lendo um jornal".
O desvendamento permitiu a reconstituição de mais de 5.000 anos, em seus mínimos detalhes,
de uma história fascinante,
até então desconhecida.
Você pode escrever o seu nome usando caracteres hieroglíficos da época faraônica. Durante o domínio greco-romano, principalmente, eles criaram um "alfabeto" para escreverem os nomes estrangeiros.
"Os egípcios desenvolveram sua primeira forma de escrita no Período Pré-Dinástico.
Esse sistema, conhecido como hieroglífico, foi inicialmente composto de sinais pictográficos para designar objetos concretos.
Gradualmente tomaram um sentido convencional e foram usados para representar conceitos abstratos.
Outros caracteres foram introduzidos para formar palavras.
Finalmente foram adicionados, logo no inicio do Antigo Império, 24 símbolos, representando cada um deles um único fonema consonantal da voz humana.
Assim o sistema hieroglífico de escrita em época remota, veio a incluir três tipos separados de caracteres :
silábicos e
alfabéticos.
A última etapa nessa revolução, teria sido a separação dos caracteres alfabéticos dos não-alfabéticos e o uso exclusivo dos primeiros nas comunicações escritas.
Os egípcios relutaram em dar esse passo decisivo.
Suas tradições de conservantismo impeliram-no a seguir os antigos hábitos.
Apesar de fazerem uso comumente dos caracteres consonantais, não os empregavam comumente como um sistema independente de escrita.
Isso foi deixado para os fenícios, que o fizeram 1.500 anos depois.
Não obstante, deve ser atribuída aos egípcios a invenção do princípio do alfabeto.
Foram eles os primeiros a perceber o valor dos símbolos singulares para representar sons isolados da voz humana.
Os fenícios apenas adotaram esse princípio, basearam nele seu próprio sistema de escrita e difundiram a idéia entre as nações vizinhas"
( EDWARD McNALL BURNS - "História da Civilização Ocidental ).
Veja as letras do seu nome e o escreva em hieróglifos :
da esquerda para a direita,
da direita para a esquerda,
na horizontal ou na vertical
( e não esqueça de virar a cabeça dos bichinhos ! )
Gostou ?
"Os egípcios desenvolveram sua primeira forma de escrita no Período Pré-Dinástico.
Esse sistema, conhecido como hieroglífico, foi inicialmente composto de sinais pictográficos para designar objetos concretos.
Gradualmente tomaram um sentido convencional e foram usados para representar conceitos abstratos.
Outros caracteres foram introduzidos para formar palavras.
Finalmente foram adicionados, logo no inicio do Antigo Império, 24 símbolos, representando cada um deles um único fonema consonantal da voz humana.
Assim o sistema hieroglífico de escrita em época remota, veio a incluir três tipos separados de caracteres :
pictográficos ,
silábicos e
alfabéticos.
A última etapa nessa revolução, teria sido a separação dos caracteres alfabéticos dos não-alfabéticos e o uso exclusivo dos primeiros nas comunicações escritas.
Os egípcios relutaram em dar esse passo decisivo.
Suas tradições de conservantismo impeliram-no a seguir os antigos hábitos.
Apesar de fazerem uso comumente dos caracteres consonantais, não os empregavam comumente como um sistema independente de escrita.
Isso foi deixado para os fenícios, que o fizeram 1.500 anos depois.
Não obstante, deve ser atribuída aos egípcios a invenção do princípio do alfabeto.
Foram eles os primeiros a perceber o valor dos símbolos singulares para representar sons isolados da voz humana.
Os fenícios apenas adotaram esse princípio, basearam nele seu próprio sistema de escrita e difundiram a idéia entre as nações vizinhas"
( EDWARD McNALL BURNS - "História da Civilização Ocidental ).
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