"A cerveja era a bebida nacional egípcia"
( PIERRE MONTET - "Vie Privé" ).
Estatueta de cervejeira egípcia. - Museu do Louvre - |
Nada menos que 2.000 cântaros foram postos no túmulo de HEMAKA, vizir de DEN SEMPTI da I Dinastia, para matar sua sede no outro mundo.
As paredes das tumbas do inicio da V Dinastia ( 2.500 aC.) falam da CERVEJA e os relatórios de uma comissão do Museu Metropolitano de Nova Iorque, de acordo com desenhos e estatuetas descobertos nas ruínas de El Lisht, em 1933, nos informam que a bebida predileta dos egípcios, amplamente difundida já na VI Dinastia, era a cerveja.
Mercenário sírio, com sua esposa egípcia, bebendo cerveja através de um 'canudinho'. |
As fábricas eram numerosas e importantes, como os moinhos e as padarias, dos quais eram dependentes.
Os mais altos personagens do reino se orgulhavam de possuir bem organizadas cervejarias em suas propriedades.
No túmulo do chanceler MEKET-RE, figura de realce na corte de HORO SANKHABTANI MENTUHOTEP ( XI Dinastia) estão minuciosas informações sobre a fábrica de cerveja de sua propriedade e o processo de trabalho nela adotado.
Preparando a cerveja - maquete egípcia. |
Começam por triturar o trigo ou a cevada, conforme o tipo de cerveja desejado, em morteiros de pedra ; depois, passavam os grãos para tabuleiros, também de pedra, onde eram reduzidos a farinha usando rolos para macerar.
Mediante adição de água e fermento, faziam com ela uma massa que era distribuída em várias porções com um palmo de comprimento e 1/2 palmo de largura.
Em seguida era depositada numa vasilha de barro, em fogo brando, até começar a fermentar, abrindo bolhas.
Feito isso, era deixada com água suficiente em grandes jarros de boca larga, onde a dissolvia.
Durante muitos dias deixavam fermentar antes de passá-la para outros jarros, 'da Província de Kenya', de boca mais estreita e que pudessem ser bem fechados.
Uma cena reproduzida na tumba (perto de Tebas) de SENET, esposa de INTEFOKER - vizir do rei SENUSERT I, mostra um menino faminto a pedir um pouco de compota fermentada a um cervejeiro.
A resposta é grosseira e rude : 'Que te devore um hipopótamo, a ti e à mãe que te deu à luz. Comes mais que um lavrador quando ara o campo para o rei. Deixe-me ; não vês que interrompes meu trabalho ?
Tumba de NAKHT - pintura mural sobre colheita de uvas. |
Além da cerveja, outra bebida preferida era o VINHO, de uva, "misturado com mel e suco de tâmaras ou romãs, em certas ocasiões".
Na capela de NAKHT ( túmulo nº 52 do Vale dos Reis ), sacerdotes de AMEN e funcionários de AMENHOTEP II ( XVIII Dinastia ), uma pintura mural retrata uma vindima, cena por cena, da colheita da uva à espremedura e à conservação do mosto em jarras adequadas, de terracota, dando-nos uma idéia bem clara de como os egípcios produziam o vinho.
A uva era esmagada com os pés.
Mas o uso do vinho vai mais além dessa época.
40 cântaros estavam na tumba de TUTANKHAMEN.
A maioria estava tombado, pois foram colocados em suportes de madeira que se apodreceram e se despedaçaram em parte. Os que restavam em pé, o vinho havia secado.
As inscrições dos lacres diziam:
'Ano 9, vinho do sítio do rei TUTANKHAMEN, do Rio Ocidental'.
Os vinhos do Antigo Império parecem ter sido vermelho (= tinto) e os do Médio Império em diante, predominantemente branco.
O 'Vinho de Buto' tornou-se particularmente reputado e invejável. As vinhas e as adegas eram cuidadosamente inspecionadas em intervalos.
Por isso os vinhos eram rotulados com a data, o vinhedo e indicação da variedade.
"As mais conhecidas marcas eram
'Vinho de Meh' (Pântano),
'Vinho de Sunt',
'Vinho de Ham' (Pescaria),
'Vinho de Sin' (região de Pelusa), e outros"
( PIERRE MONTET - "La Vie Quotidienne em Egypte au Temps des Ramsés" ).
'Excelente vinho da adega do Rei' - dizem as inscrições noutra série de potes.
O PAPIRO ANASTASI fala que o vinho é 'o brilho do sol', destinado a ativar a vida interior e clarear um pouco a vida diária.
O álcool bebido em excesso dava origem ao mal-estar 'tekhi' (= embriaguez ).
"Quando os egípcios abastados realizam festins em suas casas, têm o hábito de fazer levar à sala, depois da refeição, um esquife contendo uma figura de madeira talhada com perfeição e muito bem pintada, representando um morto.
Essa figura é exibida a cada um dos convivas, acompanhada desta advertência : 'Lança teus olhos sobre este homem. Tu te parecerás com ele depois da morte. Bebe pois, agora, e diverte-te' "
( HERÓDOTO - "História" - II, LXXVIII ).
A comida egípcia, como podemos ver pelos murais e nos túmulos onde se descobriram mesas postas, era bastante variada.
Cozinhavam em casa e a cozinha era sempre separada da "sala de jantar".
NUNCA FALTAVA CARNE
numa refeição dos egípcios.
Segundo WHITE, "havia uma qualidade de bois de chifres alongados, que era engordado para a matança".
G.MASPERO contesta, dizendo que esse boi africano - 'iua' - era rebelde à domesticação, havendo os 'undju' , bois menores, sem córneos (ou curtos), usados para a engorda e abate.
Eles davam o nome de 'bresysa' ao mais belo boi do curral ( P.MONTET - obra citada).
As secções das patas trazeiras recebiam os nomes
'sut' (= côxa),
'iua' (= canela),
'inset' (= pé).
Entre as carnes figurava as de
carneiro,
cabra,
gazela,
órix,
íbex,
'ro' e 'terp' (duas espécies mencionadas no PAPIRO HARRIS)
gansos,
pombos,
codornas,
garças e
grous (= 'djât' , 'âiu' , e 'ga' - PAPIRO HARRIS).
O PORCO , animal consagrado ao deus SETH era impuro, não se comendo sua carne.
MUITOS VEGETAIS E LEGUMES
entravam no "menu" :
feijão,
'hedju' (= cebola -inscrições do Antigo Império)
alho (= chamado 'iaquet' no PAPIRO EBERS e na Lenda do Marinheiro Náufrago / chamado 'khizan' no PAPIRO HARRIS )
lentilha,
ervilha,
cenoura,
espinafre,
alface,
rabanete,
abóbora,
fava,
nabo,
rábano.
AS FRUTAS
mais apreciadas eram :
figos,
tâmaras,
maçãs,
romãs,
melão,
uva e
amora.
"A romeira, oliveira e a macieira foram introduzidas no Egito pelos hiksos" ( PIERRE MONTET - obra citada ).
Bananas, cerejas, laranjas e peras eram desconhecidas.
OVOS (= 'sekhet') eram abundantes.
O LEITE era uma verdadeira guloseima. A nata era denominada 'smy', segundo os PAPIROS HARRIS e EBERS ).
Quanto aos PEIXES 'bu' (= repugnante) e 'chep' (= desgostoso), guardavam certos receios em comê-los.
"Os habitantes de Elefantina e das vizinhanças não consideravam os CROCODILOS animais sagrados, não tendo nenhum escrúpulo em comê-los. Ali também não lhes davam o nome 'miseh'.
Os HIPOPÓTAMOS que ali encontramos, com o nome de 'papremito' , são sagrados e têm a mesma opinião sobre um peixe chamado 'lepidote' e sobre a enguia.
Entre as AVES SAGRADAS , podemos citar a tadorna [ = o 'smon' egípcio - ganso do Nilo / ou 'chenalopex' grega = ganso raposa ], a fênix e a íbis.
Os egípcios dão ao PÃO de que se servem o nome de 'celestis'. Fazem-no com 'dourah' "
( HERÓDOTO - "História")
TRIGO
Havia duas variedades : o 'boti' (titricum spelta), trigo de qualidade inferior e o 'sut' (trigo-candial), que produzia uma farinha muito alva. Talvez o 'dourah' se refira a esta espécie de trigo.
JOHN MANCHIP WHITE - "Ancient Egypt" - London,1952 - qualifica ainda outros tipos deles : "titricum aegilopoides" e "titricum dicoccoides", também cultivados na Síria e Fenícia. "O principal trigo cultivado no Antigo Egito, até a Era Cristã, era o denominado 'emmer' (= titricum dicoccum). Bread wheat (= titricum vulgare) was apparently unknown".
CÉSARE CANTU - "História Universal", opina que "nunca teriam comido trigo". Segundo ele, o pão era feito com 'obyra' , uma espécie de centeio.
A CEVADA ( 'iôt' )
também era usada no fabrico de pães de bolos, embora HERÓDOTO diga que eles consideravam infames os que comiam a cevada e o trigo ("HISTÓRIA" - II,XXXVI).
Afirmam alguns historiadores que o COQUEIRO era um luxo.
AZEITES E ÓLEOS
"Os egípcios servem-se de um óleo extraído do fruto do siliciprião e chamado 'kiki'. Semeiam-no nas margens do rio e perto dos tanques. Depois de colhidos, os frutos, de cheiro forte, são, uns triturados para a extração do óleo, e outros cozidos, recolhendo-se o líquido resultante do cozimento.
Esse óleo é espesso e utilizado nas candeias, com as mesmas vantagens do óleo de oliva, embora de cheiro ativo e desagradável"
( HERÓDOTO - "História" - II, XCIV).
"Os azeites e óleos derivavam principalmente da árvore 'bak', enquanto o óleo de rícino era extraído para fins clínicos e para a iluminação"
( JOHN M.WHITE - "Everyday Live in Ancient Egypt" ).
"O Vale não era propício ao cultivo da oliveira, mas para usar em lugar deste, havia em abundância óleo de mamona, de linhaça e de gergelim. O azeite era um gênero de primeira necessidade e era com ele que cozinhavam, se limpavam e iluminavam as casas"
( PIERRE MONTET - "La Vie Quotidienne em Égypte au Temps des Ramsés" ).
O egiptólogo WALTER B.EMERY e seu colaborador ZAKI EFFONDI SAAD , em 22/12/1938,
"trouxeram a lume a tumba de um grande personagem da II Dinastia, cuja mesa de oferendas estava posta e uma refeição inteira servida em travessas e pratos de terracota.
O cardápio compreendia
pombos assados,
codornizes e
rolinhas com molho (usavam azeite, vinagre e 'bed' =sal),
legumes,
peixes,
uma costela de bezerro,
bolos redondos
e pequenos pães triangulares 'dou'"
( KURT LANGE - "Pyramiden, Sphinxe, Pharaonen" ).
Tumba de NAKHT - damas egípcias, elegantemente trajadas, sendo servidas por uma bela jovem seminua. |
Parabéns pelo post. Utilíssimo!
ResponderExcluirFiquei feliz em encontrá-lo.
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