Já sabemos que a escrita surgiu primeiro na Mesopotâmia, através de caracteres cuneiformes : eles escreveram em tabletes de barro com uma espécie de estilete, imprimindo os sinais na argila ainda mole. Esses tabletes eram postos a secar ao sol.
No Egito, a escrita apareceu na época de transição entre a Pré-História e a História - e quando surgiu já possuía certos elementos que correspondem a uma avançada fase de escrituração.
No reinado de DEM-SEMPT ,cujo vizir se chamava HEMAKA, já houve um certo progresso mas foi sob os últimos reis da I Dinastia que se fixaram as características próprias da forma egípcia de escrever.
Estamos falando de 3.100 aC..
A LITERATURA
de todos os períodos, possuía "Livros de Instrução", contendo ou reunindo conselhos de um pai à seu filho sobre conduta e comportamento morais.
ANTIGO IMPÉRIO
A INSTRUÇÃO DO VIZIR PTAH-HOTEP
foi escrita nas últimas 15 páginas do PAPIRO PRISSE (publicado em 1847) - é da V Dinastia, e está redigida dentro dos padrões do Antigo Império.
Quando o vizir PTAH-HOTEP pediu permissão ao rei DIDKARA ARSA para instruir seu filho, a fim de que este pudesse ocupar seu lugar, o soberano lhe respondeu :
'Ensine-o a falar, primeiramente'.
hieróglifo em alto relevo de Ptah-Hetep
E esse é o título da obra :
'Princípio da expressão e da boa linguagem,
para instruir os ignorantes sobre a sabedoria,
sobre as regras da boa pronúncia,
vantajosas para o que as cumpre e
desvantajosas para quem as despreza.
O homem sábio levanta-se pela manhã ,
com o espírito preparado e pronto para aprender ;
mas o néscio se levanta pronto para se distrair.
Se um filho aceita as palavras de seu pai (superior) ,
nada poderá temer ,
pois será estimado pelos funcionários.
O néscio não as escuta
e olha a sabedoria como ignorância :
faz tudo o que merece reprovação
e todos os dias se encontra em falta.
Sê um homem de importância ,
seguidor dos conselhos do teu senhor ;
torne bom o teu coração
e sempre o encaminhe para o bem.
Se és silencioso ,
isso mais vale que 'tet-tef' (= flores) ;
fala quando souberes resolver as dificuldades ;
abre tua boca quando tiveres coisas bonitas a dizer
- do contrário, guarda silêncio.
É verdadeiro artista quem pode falar no Conselho,
porque falar é mais difícil que qualquer outro trabalho.
Se és homem de confiança
a quem um grande homem envia a outro,
sê veraz e transmite a mensagem tal como ele te disse.
Nunca excedas a verdade.
Quando discutires ,
deves ser respeitoso com o superior
e tolerante com o inferior.
Trata ao igual com energia.
Mostra-te sempre a ti mesmo
e não guarda silêncio quando falarem mal.
Assim, tua fala será meritória para os ouvintes
e boa será tua reputação
na oposição dos funcionários.
Nunca deixes de lutar para melhorar.
Não sejas prepotente em tua sabedoria ;
não confies demasiadamente em ti ,
porque és sábio.
A sabedoria e a arte não têm limites que possam ser alcançados
e ninguém é senhor da perfeição.
A eloquência está mais oculta que a esmeralda.
Se és um chefe
que governa os assuntos do povo ,
tire o proveito que puderes ,
mas nunca faça injustiças.
'Ma'at' é o castigo para o que não respeita as leis.
Pode ser que, com fraudes, ganhes riquezas
- mas 'Ma'at' dará a paga à tua covardia.
Se tiveres que ditar a conduta aos outros,
faz com que tua própria conduta seja irrepreensível.
Se és um a quem fazem petições,
tem calma e ouve tudo o que te quer dizer o pedinte.
Não o interrompas enquanto fala.
Ele gosta mais que prestes atenção às suas palavras
do que atendas o pedido.
Não é necessário conceder tudo o que ele deseja ...
uma boa audiência é reconforto para o seu coração.
Recompensa teus clientes
com aquilo que ganha a quem Deus favorece.
Assim, se ficares um dia necessitado ,
teus clientes te acudirão.
Se queres que tua conduta seja boa,
livra-te de todo o que é mau.
A avareza é enfermidade grave e incurável :
ela compra a intimidade
e destrói amizades,
faz mal ao pai e à mãe,
divorcia a esposa do esposo.
Grande vida possuirá o de conduta respeitável :
desse modo ganha riquezas.
Abaixa tua espada ante teu superior
- assim receberás o que devias receber.
Se te sentas à mesa
de alguém maior que tu,
toma o que ele te dá.
Ri e fala quando o fizerem
e serás grato ao seu coração.
Se és próspero,
assenta a tua casa
e ama a tua esposa sinceramente.
O perfume e o vestido são feitos para o seu corpo.
Alegra-lhe o coração enquanto viveres,
porque ela é campo propício para seu senhor.
Oxalá te unas a mim no outro mundo,
com teu corpo são,
havendo deixado o rei satisfeito com tua conduta.
Oxalá vivas tantos anos como eu.
Não é desdenhável o que fiz sobre a terra.
Que chegues aos cento e dez anos de vida
que o rei me concedeu,
pelo meu justo proceder '
( in JOHN A.WILSON - "The Burden of Egypt", 1951 ).
- o negrito no texto é por minha conta -
A INSTRUÇÃO DO 'ESCRIBA REAL DOS TRIGOS' AMEN-EN-OPET
é do Século XX aC., está conservada no Museu Britânico desde 1888, foi publicada em 1925, e acha-se envolvida pelo espírito do poderio imperialista do Egito.
# Entre um e outro transcorreram 1.500 anos ; "PTAH-HOTEP parece-nos irreligioso, extrovertido, inquieto e seguro de si mesmo.. AMEN-EN-OPET parece piedoso, apartado, tranquilo e sem exigências, de acordo com a piedosa resignação de seu tempo". #
AMEN-EN-OPET repete, praticamente os mesmos conselhos, mas de outra forma :
'Presta atenção !
Ouve o que se diz !
Não provoque batalhas com tua boca suja.
Não irrites ninguém com tuas palavras.
Espere uma noite, antes de responder ao teu ofensor.
Deixe o excitado entregue a si mesmo.
Quão feliz é o que chega ao Oeste,
quando está seguro da mão de Deus !'
A escritura e a literatura do Antigo Império nos proporcionam exemplos de caráter estático, formando uma linguagem clássica que teve uso oficial 25 séculos mais tarde.
Nas Dinastias V e VI, a linguagem primitiva já estava obsoleta e sobrevivia só em certas fórmulas arcaicas de textos religiosos e médicos.
O Papiro WESTCAR, conservado em Berlim, apresenta uma lista dos reis da IV Dinastia e uma idéia das desordens ocorridas no inicio da V... e traz também o conto "Rei KHUFU e seus Mágicos", contado por seu filho HORDEDEF (ou RADADF), cerca de 2.600 aC..
Sem dúvida alguma, um dos mágicos das histórias narradas realiza um truque que bem podemos aludir à história ocorrida no Mar Vermelho, por MOISÉS, milênio depois :
" DJADJA-EMANQUE murmurou um encantamento mágico sobre as águas do lago, graças ao qual conseguiu levantar metade da água e dobrá-la sobre o alto da outra metade. O fundo do lago ficou assim revelado. DJAJA-EMANQUE desceu, recuperou o broche perdido, murmurou outro encantamento e a água se desdobrou à sua posição anterior".
PRIMEIRO PERÍODO INTERMEDIÁRIO
O Primeiro Período Intermediário deixou um respeitável volume literário que se manifesta aturdido e desesperado : reflexo de um mundo transtornado, outrora sólido e estável.
Nesse contexto estão as obras
INSTRUÇÃO DE MERI-RÁ e as
PROFECIAS DE IPU-WER e NEFER-ROHU.
'Verdadeiramente o país está transtornado.
O ladrão é agora quem se enriquece.
Todas as criadas respondem mal.
Quando suas amas lhes falam, ficam molestadas.
Os caminhos não são vigiados.
Os homens se ocultam, até roubarem o viandante descuidado.
É atado e morto sem motivo.
Os filhos dos nobres
são amarrados contra as paredes ;
os meninos andam abandonados sobre a terra.
Agora, as senhoras nobres são quem trabalham.
O que nunca dormiu sobre uma tábua
é agora dono de uma cama.
Os que tinham vestidos, andam em farrapos ;
e o que nunca teceu, possui panos finos.
Todos estes anos são de guerra civil.
Muitos são lançados no rio
e a correnteza é a sua tumba.
Os crocodilos se nutrem se suas carnes.
À quem poderei hoje falar ?
Sinto-me desventurado por falta de um amigo.
O pecado se assenhoreou da terra
e não tem mais fim.
Elefantina, o 'nomo' tinita
e o santuário do Alto Egito,
não pagam tributo.
O armazém real está despojado de seus grãos.
Os 'nomos' estão destruídos e os estrangeiros são muitos'
( PROFECIAS DE IPU-WER )
'Este país está transtornado e ninguém sabe por que.
O que nunca aconteceu agora acontece.
Os homens tomaram as armas de guerra
e o país vive em confusão.
Ri-se de tudo o que é vergonhoso.
Eu te mostro o filho como inimigo e o irmão como adversário.
Todas as bocas estão cheias de 'ama-me !'
e todo o bem desapareceu.
Tiram as propriedades dos homens
e lhas dão ao estrangeiro.
Os administradores são muitos e os impostos pesados.
Poucos são os grãos e grandes as medidas.
A navegação a Biblos está paralisada.
Falta-nos ouro e cedro.
O que a pirâmide escondia foi roubado.
Os inimigos se levantam do Leste
e os asiáticos entram no Egito'
( PROFECIAS DE NEFER-ROHU ).
Sob o governo de uma poderosa família local de Heracleópolis (no Faiúm), as Dinastias IX e X trouxeram ao Egito uma notável estabilidade e podemos considerar esse período como o da literatura clássica egípcia, com uma produção bastante vigorosa.
MÉDIO IMPÉRIO
Por uma série de cartas particulares, encontradas em Tebas, escritas por HEKA-NAKHT , um proprietário de comarcas em Mênfis e no Delta, obtemos informações acerca da vida familiar de 4.000 anos atrás, sob a XI Dinastia :
'Enquanto há inundação em nossa terra,
és tu quem a está cultivando.
Pobre de ti e de minha gente ! (...)
Tu és responsável por essa terra :
sê ativo nos cultivos e muito cuidadoso.
Vigia minhas provisões de grãos.
Vigia tudo o que é meu ,
porque te faço responsável por tudo.
Somente aos que trabalham deves dar minhas provisões.
Faz tudo o que podes, por minhas propriedades.
Esforces o quanto possas.
Se fores laborioso, rogarei a Deus por ti.
Olha, se SNEFERU (= filho caçula e mimado) está desgostoso,
cuida dele , pois me disseram que está descontente.
Abraça-o de minha parte 1.000.000 de vezes.
Se ele quiser cuidar dos bois,
já que não quer cuidar da terra contigo,
nem quer vir aqui comigo,
deixe-o fazer o que deseje.
Se puderes manter as coisas tranquilas, estaria muito bom.
HEKA-NAKHTE.'
As viagens ao Punt , na Somália, sob a XII Dinastia, foi temática de maravilhosas histórias de aventuras, como a 'HISTÓRIA DO MARINHEIRO QUE NAUFRAGOU' , muito parecida com a de SIMBAD das "Mil e Uma Noites".
"Relata as aventuras de um marinheiro egípcio que partiu num barco para uma expedição num país onde se achavam as minas de cobre do faraó. Durante a viagem ocorre um naufrágio, no qual morrem todos os cento e vinte integrantes da tripulação, descritos como os melhores marinheiros egípcios, com exceção do protagonista. Agarrado a uma prancha permanece três dias em alto mar, até alcançar uma ilha.
Nesta ilha habitava uma grande serpente de cores dourada e lápis-lázuli, que o recebeu e levou para uma caverna, sem atacá-lo. Esta serpente era a soberana da ilha, que se caracterizava por possuir grandes riquezas. A serpente comunica ao náufrago que dentro de quatro meses passará pela ilha um barco que o levará de volta a casa.
Quatro meses mais tarde, as palavras da serpente cumpriram-se. A serpente carrega o navio com as riquezas da sua ilha, como a canela, o marfim, as peles, óleos perfumados e macacos. A história termina com o regresso do herói ao Egito dois meses depois de ter partido da ilha."
O conto foi traduzido e editado na "Litterature of the Ancient Egypt" - ADOLF ERMAN , Blockman.
O estilo é mitológico no sentido de acentuar a posição central do Egito no universo sob o efeito da religiosidade da época.
Registrado no Papiro GOLLENISCHEFF.
Museu Pushkin, Moscou.
Um papiro escrito por IKHERNOFRET, apresenta o resumo de uma peça teatral sacerdotal - 'OS MISTÉRIOS DE OSÍRIS' - celebrada anualmente nos principais centro religiosos do país.
IKHERNOFRET recebera uma encomenda do rei KHA-KHAN-RÁ SENUSERT para apresentar uma nova edição de um antigo texto, escrito na IV ou V Dinastia.
[ Temos informações que essa teatralização ainda era representada em Ábidos, na XVIII Dinastia ].
Esta ÍSIS pranteando a morte de OSÍRIS, pode muito bem ilustrar uma atriz encenando "Os Mistérios de Osíris". Estatueta em terracota, da XVIII Dinastia. - Museu do Louvre - |
O principal documento sobre a Ásia é a obra de SINUHE , um funcionário da corte de SEHETEP-AB-RÁ AMENENHAT, que pertenceu ao partido político culpado da morte desse rei - mas não foi um dos conspiradores que atacaram o soberano.
Na autobiografia ele descreve sua fuga até as fronteiras orientais do Delta e seu medo de ser descoberto pelos guardas :
'Escondi-me em um barranco temendo ser descoberto pela guarda de serviço.
Ao cair da noite, pus-me a caminho e às primeiras horas do dia, cheguei a um lugar chamado Peten e me detive na ilha de Kenwer.
Aí me senti muito mal e me esvaeci de sede.
Estava extenuado ; ardia-me a garganta e dizia-me : este é o gosto da morte !
Mais tarde despertei-me e tratei de reunir todas as minhas forças ao ouvir galope de animais que se aproximavam de mim.
Vi um grupo de beduínos.
Seu chefe, que estivera no Egito, reconheceu-me e me deu água e leite para beber.
Acompanhei-o até seu acampamento, onde fui muito bem recebido'.
SINUHE continua sua narração e diz que andou de um país para outro até alcançar uma região da Síria, onde o príncipe AMMUANSHI o convidou a ficar com ele.
'O príncipe concedeu-me autoridade sobre seus filhos e deu-me a filha maior em matrimônio'.
Passaram-se os anos e seus filhos tornaram-se valentes chefes de tribos.
AMMUANSHI deu-lhe também o comando do exército.
SINUHE descreve um desafio que teve por parte de um homem de força extraordinária, que lhe cobiçava as riquezas. Porém, lançou o grito da sua vitória.
Quando envelheceu, morria de saudades do Egito ; mandou, pois, um mensageiro à corte de Faraó e este lhe respondeu.
Analogamente ao TEXTO DAS PIRÂMIDES, a literatura continha figuras de linguagem de muito calor e recursos de estilo.
Um dos livros de prudência do pai para o filho, repete variações da palavra "ouvir" : tem por finalidade incutir no rapaz o princípio de que, ouvindo os seus superiores, poderá obter ótimos resultados :
'Ouvir é proveitoso para quem ouve.
Se o ouvir entra no ouvinte, o ouvinte se converte num que ouve.
Ouvir é bom e falar é bom.
Mas o ouvinte tem uma vantagem : ouvir é mais proveitoso para o ouvinte.
Ouvir é melhor que qualquer outra coisa'
( JOHN A. WILSON - obra citada ).
A literatura religiosa está repleta destes casos, com estilos muito solenes.
NOVO IMPÉRIO
Com o intercâmbio cultural criado com a expansão do império egípcio no Oriente Médio, a literatura passou a empregar inclusive nomes de deuses asiáticos, como BAAL, ASTARTÉ, ANATH, como metáforas de força e violência.
A estrutura literária, agora, passa a ter um cunho militarista.
A descrição do príncipe TUTMÉS, galopando veementemente com sua biga através do deserto, é típica da energia física da XVIII Dinastia e do gênero descritivo de Faraó :
'Disse AMEN-RÁ, Senhor de Karnak :
Tu vieste a mim, tu te alegraste, vendi minha beleza, filho meu, vingador meu, MEN-KHEPER-RÁ, vivo eternamente.
Eu brilho por amor a você.
Meu coração se expande à tua bela vinda ao meu templo.
Minhas mãos fazem com que teus membros tenham vida e proteção, quão doce é sua amabilidade contra meu peito.
Eu coloco você no meu santuário.
Fiz coisas maravilhosas por ti :
dei-te poder e vitória sobre todas as terras ,
firmei tua vontade e o medo de ti em todos os países,
até aos limites dos esteios do céu'.
Este é o trecho inicial do HINO DA VITÓRIA, que está numa estela na Sala dos Anais do Templo de Karnak, contando as vitórias de TUTMÉS III .
M.KAZIMIERSZ , em "Arte y Civilization de Egipto", aponta a deusa SECHAT como a protetora das crônicas e dos anais reais.
Em Tel-el-Amarna, sob AKHENÁTEN, o idioma e a literatura foram vulgarizados, adotando tons familiares e às vezes gíria, que teriam horrorizado os puristas da XVII Dinastia.
A maneira familiar de se exprimir foi introduzida nas inscrições e também nos monumentos.
Essa vulgarização já se manifestára muito antes, na inscrição de KA-MOSIS (fins da XVII Dinastia) e nos 'ANAIS' militares de MENKEPERRÁ TUTMÉS.
Uma forte influencia estrangeira se manifestou no idioma, com a introdução de várias palavras asiáticas, entre elas :
"akunu" (= jarro),
"maryanu" (= guerreiro),
"migdol" (= fortaleza),
"merkebet" (= carro de guerra).
Até se criou um sistema novo de escrever palavras e nomes estrangeiros.
Contudo, os textos religiosos mais solenes de Amarna se esforçam em dirigir ao deus ÁTEN nos moldes tradicionais do idioma clássico.
Além disso, aparentam uma vivacidade que é uma característica completamente nova ; foi realmente uma época de rápida e vívida produção :
'Brilhante é a terra quando te ergues no horizonte,
Ó ÁTEN vivificante, que exististe em primeiro lugar !
Quando te ergues no lado leste do horizonte,
Enches toda a terra com tua beleza.
As Duas Terras diariamente rejubilam.
Levantam-se e se mantêm de pé,
porque tu as ergueste.
Banham seus membros, tomam suas vestes;
erguem os braços em adoração ao teu despontar,
pois tu és belo e reluzente, lá no alto.
Teus raios abraçam os países e tudo o que criaste.
As hastes começam a britar, quando beijas o solo.
Tu és RÁ e a todos seduziste.
Apesar de estares nas alturas, tua pegada é o dia !
Os barcos navegam a montante e a jusante;
cada estrada se abre porque tu despontaste.
O peixe, no rio, salta diante de ti,
e no mar os teus raios se esparsam.
Foste tu que criaste a criança na mulher,
que deste ao homem a geração ;
que a acariciaste para que não chorasse :
uma ama !, dentro do seio materno !
Quando ela nasceu do corpo,
no dia do seu nascimento,
tu a supriste com o que necessitava.
Deste vida para animar tudo que existe, com teu sopro.
Quando a avezinha brada, inda no ovo,
tu lhe dás ali mesmo o alento para a vida.
Ela sai do ovo para cantar com todas as suas forças,
corre sobre as duas patinhas, quando dele acaba de sair.
Fizeste as estações do ano para criar tuas obras;
o inverno para refrescá-las
e da mesma forma o calor, do verão.
Fizeste o horizonte longínquo para nele te ergueres,
para veres tudo aquilo que criaste,
enquanto estavas sozinho,
rebrilhante em tua forma, como ÁTEN vivificante,
despontando, brilhando, afastando-se e retornando.
Tu és brilhante, claro e forte !
Teu amor é grande e poderoso !'
( HINO A ÁTEN - AKHENÁTEN )
O PAPIRO ALFRED CHESTER BEATTY, publicado por A.GARDNER, contém os 'ENSINAMENTOS DO ESCRIBA ANI' a seu filho, do final da XVIII Dinastia.
[ A Biblioteca Mário de Andrade, em S.Paulo, contém um exemplar dessa publicação (LR 24 c 10). Vá conhecer ! ]
A literatura do fim do Império viu-se afetada pelas experiências e contatos novos, como já falamos, ao ampliar-se o horizonte do Egito, mas também com a formação de uma classe de empregados burocráticos, que cobriram as necessidades de um governo mais complicado.
Os textos revelam o conhecimento de países estrangeiros como lugares onde um egípcio podia viver e não como regiões de solitário desterro
Em suas formas mais sensíveis a literatura é atrativa, como a 'ALEGORIA DA CEGUEIRA DA VERDADE PELA FALSIDADE".
Esta época oferece canções de amor em que os amantes se chamam de 'son' (= irmão) e 'sonit' (=irmã) - e mesmo depois de se casarem, o homem continuava a chamar 'sonit' e não 'hunit' (= mulher) à sua esposa.
Apenas nos tribunais, segundo DAVIES - "Neferhotep", empregava-se 'son', 'hay' (= marido) e 'hunit'.
Uma alegoria à sensualidade da mulher egípcia |
O tema das canções é o do amor romântico ; o cenário o ar livre, os lagos, a paisagem e as plantas :
'Como é gostoso, ó meu irmão, ir banhar-me no lago,
para que vejas toda a minha beleza,
quando o fino linho da minha roupa
se ajusta, molhado, nas curvas do meu corpo.
Estou na água bem antes de ti
e regresso com um belo peixinho vermelho
escondido nas minhas mãos.
Ó meu irmão, vem e olha-me !
'Já faz sete dias que não vejo minha irmã !
Meu corpo foi tomado por indolência
e me esqueço de mim mesmo.
Se os melhores médicos me vêm examinar,
meu coração não se contenta com seus remédios.
O que me reviverá é que me digam :
- aqui está ela !
Seu nome é que me exaltará.
Minha irmã é melhor que todos os remédios.
Quando a vejo me sinto bem.
Quando a abraço, o mal que sinto desaparece.
Mas já faz sete dias que não vejo minha irmã !'
( ALLAN GARDNER - "The Chester Bealty Papyri"
'Negra é a sua cabeleira,
mais negra do que o escuro da noite,
mais negra do que a baga do abrunheiro silvestre.
Vermelhos são os seus lábios,
mais vermelhos do que grãos de "vermelho",
mais do que tâmaras maduras.
Os seus seios estão bem plantados no seu peito'
( GASTON MASPERO - "Études Égyptiens).
'Vou deitar-me na cama,
fingindo estar doente.
Os meus vizinhos entrarão para me visitar.
A minha irmã virá com eles ...
Rir-se-á dos médicos,
ela que conhece a minha doença !'
( PAPIRO HARRIS - CANTO DE AMOR
Foi também o Egito que nos deixou a mais antiga fórmula do célebre conto da CINDERELA :
'Era uma vez um falcão que roubou a sandália de uma linda jovem que se banhava no lago.
Ele a prendeu com seu bico e a deixou cair bem perto do faraó, que concedia audiência em seu jardim.
Com aquela tão pequenina e delicada sandália ele pôde conhecer a jovem, enamorou-se dela ... e a desposou'.
Um dos tons literários mais frequentes consistia de um sentido cáustico de humor dirigido contra os inimigos do Egito, como se observa nos painéis das cenas de batalhas :
'Fiz que contemplassem tua Majestade' ...
... 'como um touro, de coração firme, chifres acerados, inabordável' ;
... 'como um cometa quando espalha suas chamas e lança para frente o fogo ;
... 'como um crocodilo, senhor do terror na água, inatingível' ;
... 'como um matador, que se ergue sobre o dorso de sua vítima' ;
... 'como um leão, quando os transformaste em cadáveres nos seus 'wadis'' ;
... 'como um falcão, senhor da asa, que agarra o que vê, segundo o desejo' ;
... 'como um chacal , Senhor da corrida, veloz, percorrendo as Suas Terras'.
( Extratos do "HINO DA VITÓRIA', em Karnak ).
A atividade literária do Período Raméssida é muito mais interessante ; temos
poesia lírica,
papiros de novelas , como a 'HISTÓRIA DOS DOIS IRMÃOS' , no PAPIRO ORBIGNY , descoberto em 1852,
papiro didático - 'HISTÓRIA DO MOHAR' : tratado de geografia sob forma retórica, publicado por ALLAN H. GARDNER - "Egyptian Hieratic Textes", Leipzig, 1911 ,
e papiros religiosos , da lavra da confraria de AMEN.
A 'HISTÓRIA DOS DOIS IRMÃOS'
"começa promissoramente como um paralelo egípcio da história bíblica de PUTIFAR e JOSÉ. Mas na história egípcia a mulher do irmão mais velho tenta seduzir, em vão,, o irmão mais moço, que se chama BATA.
Como no caso da Bíblia, o homem inocente é punido em virtude das acusações da mulher desdenhada.
Dividido em duas partes (a primeira, simples e realista), assim que BATA se estabelece no Vale das Acácias, começam os milagres e somos regalados com a mais fantástica e interessante fantasia"
( LION CASSON - "Ancient Egypt" - N.York, 1969 ).
Sob a XIX Dinastia os gravadores de inscrições começam a apresentar um trabalho mais relaxado: os hieróglifos mudaram de aspecto, tornando-se finos e alongados.
Alguns papiros da XIX e XX Dinastias trazem fábulas muito bonitas, como a 'HISTÓRIA DA PANTERA', do PAPIRO LEYDEN, escrito em demótico e traduzida pelo egiptólogo ADOLF ERMAN :
'Era uma vez um leão nas montanhas, que possuía muita forma e caçava bem.
Os animais das montanhas temiam-no.
Certo dia, encontrou-se com uma pantera, cujo couro estava esfolado e a pele rasgada.
Perguntou-lhe o leão :
- Como chegaste a esse estado ? Quem esfolou teu couro ?
Respondeu-lhe a pantera :
- Foi o homem.
- O homem, que é isto ? ,retrucou o leão.
- Não há nada mais astuto do que ele, o homem - disse a pantera.
Então, o leão sentiu rancor do homem e foi procurá-lo'.
'CRÔNICA DEMÓTICA'
é o nome de um papiro conservado no Museu do Louvre que contém, sob a forma de profecia, uma visão do Egito sob os persas e seus últimos reis.
Fala de um salvador que viria da Núbia para libertar o Egito.
São fragmentos alusivos aos reinados das XXVIII, XXIX e XXX Dinastias, escritas sobre tabletes, por um sacerdote etíope do deus HARSHEFI.
Temos, finalmente,
a 'HISTÓRIA DO EGITO' , escrita em grego pelo sumo-sacerdote MÁNETON DE SEBENITO, no reinado de PTOLOMEU FILADELFO, 250 aC.,
o 'CONTO DE RAMPSINITOS' de HERÓDOTO ( publicado por G.MASPERO - "Les Contes Populaires de l'Egypte Ancienne" - Maisonneuve et Cie., Paris, 1882 )
e papiros da Época Romana
"contendo a história do 'BARCO SAGRADO DE AMEN E DOS TREZE ASIÁTICOS' e a 'LUTA PELA ARMADURA DO REI INAROS', formando ambas a 'SAGA DE PETUBASTE', cuja figura central é o PETUBASTE DE TÂNIS que foi mencionado na lista de ASSURBANÍPAL"
( H.R.HALL - "The Ancient History of the Near East"- Londres, 1913 ).
O Museu Egípcio de Turim
preserva vários papiros interessantes :
* um deles, conhecido como PAPIRO REAL DE TURIM, demonstra uma cronologia desde MENÉS a RAMSÉS II , com o nome dos reis e a duração de cada governo. O papiro , da XIX Dinastia, está bem fragmentado.
* outro, da mesma dinastia, fala da conspiração do harém, no 35º ano do reinado de RAMSÉS III.
* o chamado PAPIRO DE GRACEJOS é, na verdade uma "revistinha ilustrada" com picantes silhuetas dos movimentos amorosos de um sacerdote com uma cantora de AMEN-RÁ - esse papiro não fica exposto à visão do público, principalmente dos menores de idade.
* um outro papiro erótico também não visível , mostra cenas sexuais explícitas - ( se você é menor de idade não lhe é recomendado assistir esta reportagem ):
https://www.youtube.com/watch?v=zFup4iEWQr0
http://sorayaseduction.blogspot.com.br/2015/04/a-primeira-revista-playboy-do-mundo.html
http://sorayaseduction.blogspot.com.br/2015/04/a-primeira-revista-playboy-do-mundo.html
https://www.youtube.com/watch?v=7oZ_-RxIffs
Uma linda e erótica 'Cleópatra' fumando narguilé. Cleópatra foi uma rainha da Dinastia Lágida ; o Egito grego teve sete Cleópatras. A última foi quem se envolveu com JÚLIO CÉSAR e MARCO ANTONIO. O narguilé é um objeto criado pelos árabes : portanto nenhuma das Cleópatras fumou num narguilé. Chama-se anacronismo quando se utiliza algo de outra época àquilo que se está retratando. E, afinal, COMO ERAM OS EGÍPCIOS NA CAMA ? http://brasil.elpais.com/brasil/2006/09/18/cultura/1158530401_850215.html |
A moderna Biblioteca de Alexandria.
( The History Channel )
Clique aqui :
http://jv-egiptologia.blogspot.com.br/2015/06/os-escribas-e-as-escrituras-egipcias.html
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