segunda-feira, 29 de junho de 2015

TALISMÃS SAGRADOS - Jarbas Vilela


PROTEÇÃO
GUIA
CLARIVIDÊNCIA
PODER
PERSISTÊNCIA
RESSURREIÇÃO
 
...
é isto o que os egípcios queriam.







Ao visitarmos os museus com secções destinados à cultura egípcia antiga, nos deparamos com uma infinidade de objetos estranhos, tais como

machadinhas,
dedos humanos,
patos em atitude de vôo,
rãs,
olhos e orelhas humanas,
feixes de plantas,
pilares,
anzóis,
babuínos,
hipopótamos,
íbis,
estrelas,
insetos e
asas.

Grande é o número desses objetos, feitos com os mais variados materiais :

ouro,
faiança,
pedra,
lápis-lazúli,
madeira ...

As dimensões variam.



A esses motivos os antigos egípcios atribuíam virtudes sobrenaturais  :  eram seus  companheiros mágicos nesta e na outra vida.





COLUNETA   DJED

é um dos mais frequentes amuletos.
Tomado como símbolo hierográfico  significa :
duração,
conservação,
persistência.


Tomado como símbolo teológico vemos nela
a coluna vertebral de  OSÍRIS  e 
sede do  'fogo da vida'.
Dela emanava o mágico poder do fluído, do fogo vital que  OSÍRIS  comunica aos defuntos.






Segundo a lenda, os assassinos de OSÍRIS teriam mutilado seu corpo e espalhado seus membros por todo o Egito. 
ÍSIS  e  ANÚBIS  tê-los iam recolhido e reconstituído.
Esse trabalho de recomposição foi empreendido por  ANÚBIS  e  iniciado pela coluna vertebral e costelas do grande deus.






SÍMBOLO  DE  ÍSIS


pertence à família  do  talismã acima descrito.
Como sinal hieroglífico  lê-se  'tit'.



Geralmente era talhado em jaspe ou cornalina, por terem coloração vermelha.

"Livro dos Mortos"  declara que  'o sangue todo carregado de virtudes mágicas '  da deusa ÍSIS  circulava nesse amuleto.

Ou melhor :  o talismã continha o   sangue mágico   da generosa divindade, esposa de OSÍRIS.

Ele é assemelhado a outro símbolo  sagrado :  o  'ank'.





OLHO  DE  HÓRUS





também pertence à mesma família.
Talvez seja o amuleto mais usado.


Conta a tradição que  HÓRUS  vingou seu pai  OSÍRIS, em uma luta com seus inimigos e assassinos. 
HÓRUS  arrancou os  órgãos viris deles  ( o pênis ), mas perdeu um olho na refrega.

E é esse olho que  THOT  depositou cobre a língua de  OSÍRIS que, dessa forma, recuperou a vida.
Por isso  o amuleto é encontrado sobre a língua de muitas múmias para que, à semelhança de  OSÍRIS, pudessem recobrar a vida.

O amuleto concede ao defunto
clarividência,
a visão direta do mundo invisível.






KHEPER








o escaravelho, é o símbolo egípcio
da ressurreição,
da potência criadora.

Seu nome  'keper' , 'kheper'  ou  'akhper'  significa 
existir,
nascer,
vir à ser.
 

Os colares e peitorais dos nobre egípcios, encontrados em seus túmulos de várias épocas, trazem, na maioria das vezes, a figura de um escaravelho, pois ele garantia  a  persistência do ser.


Quem o levasse para a tumba  assegurava efetivamente
 seu  renascimento.


Por isso  substituíam nas múmias humanas e de certos animais, o coração carnal do defunto por um outro  de ouro, vidro, turquesa, lápis-lazúli, pedra, faiança, marfim ou feldspato, tendo a forma de um  escaravelho.



O verdadeiro coração era simbolicamente conduzido ao Tribunal, para o julgamento.

Aumentavam-se as possibilidades do defunto substituindo esse órgão por um mais duro, de pedra.



 



Muitas vezes o  coração-escaravelho apresenta-se alado ou ladeado pelas deusas  ÍSIS  e  NÉFTIS, como um peitoral e era o orgulho das damas nobres.











CETRO  DE  PAPIRO




aparece em várias estátuas ou em painéis.
Deusas e rainhas aparecem segurando esse cetro.

Era confeccionado em feldspato verde ou faiança.

Significa 
 verdor,
juventude,
fecundidade.

Múmias de princesas e rainhas frequentemente seguram o  cetro de papiro.

Dois capítulos do  "Livro dos Mortos"  são-lhe destinados.








OUTROS  AMULETOS







São frequentes, nos túmulos ou dentro de ataúdes, o uso de um amuleto  que tem a forma de apoio,  travesseiro  ou  CABECEIRA.





Na tumba de TUTANKHAMEN,  CARTER encontrou muitos desses descansos para a cabeça.

Um deles tem o significado  retirado de um antiquíssimo mito da criação do Universo.
O mito conta que o céu e a terra eram unidos e, mais tarde, o ar introduziu-se no meio deles e elevou o céu, separando-o da terra.

























Segundo a descrição de CARTER
"a cabeceira conta a mesma coisa :  na superfície terrestre acham-se deitados dois leões, personificando o passado e o futuro.
Entre eles ajoelha-se o deus do ar  SHU, que eleva em seus braços a abóbada celeste"
OTTO NEUBERT  -  "Gost in Goldenen Särgen Tut-Ench-Amun" ).



Outro travesseiro traz gravada esta inscrição :
'Para levantar a cabeça do que aqui repousa'.







Diz o egiptólogo  KURT LANGE  que  "a cabeceira não servia somente para apoiar a cabeça, mas garantia ao morto que teria ele bem ainda uma cabeça para apoiar nela"  ( "Piramiden, Sphinx, Pharaonen" ).

Traduzindo isso   -  já estudamos o esquartejamento de OSÍRIS por seus inimigos.  O mesmo ocorria com o defunto.  Sua cabeça e seus membros, mesmo simbolicamente, foram arrancados de seu corpo.

Basta-nos só uma linha do  Capítulo 16  do  "Livro dos Mortos"  para entendermos que uma segunda morte não ocasionaria a perda de sua cabeça :
'Tu és  HÓRUS, filho das chamas, a quem foi restituída a cabeça após ter sido decepada'.












Um amuleto usado nos tempos do  Antigo Império, era  a   ORELHA.
Em um material qualquer  -  pedra ou argila  -  desenhavam uma ou um par de orelhas, simbolizando as do deus.
No restante da placa gravava-se um pedido à divindade.
Funcionava como se fosse   um cochicho aos ouvidos do deus.
Depois, colocavam o nome do suplicante  -  pois a divindade poderia não se lembrar de quem fez tal súplica.


Certos amuletos ou símbolos tinham um caráter mais reservado do contágio popular.  São eles :

a chave  'ank' , da vida :
o círculo  'shenu'senhorio, poder, posse, consciência do dever ;
'sa' ,  da proteção, amparo ;
'was' , domínio.




As divindades egípcias, para muitos casos, também se apresentavam miniaturizadas na forma de talismãs, como

APET       ( hipopótamo ) :  deusa protetora da gravidez  ;
HEKET    ( rã ) :  protetora dos partos e da câmara nupcial ;





SERPENTE  'URAEUS'

constitui um símbolo de ação privilegiada dos membros de sangue real da família faraônica :  o tempo indivisível.

"Le serpente présent um symbole parfait de l'énergie créatrice appartenant à l'espirit suprême, auteur de l'universe, et de la création ele-même"
(  PAUL  BRUNTON  -  "L'Egypte Secrète" ).

Portanto, é signo da descendência divina dos faraós, nascidos do Espírito Supremo.

A uraeus tinha, quase sempre, uma função a desempenhar contra os salteadores de tumbas :

'Que seja aniquilada a mão que se levanta contra mim.
Que sejam estraçalhados os que toquem a minha forma, o meu nome, o meu ká e as imagens de minha aparência.
A real uraeus que coroa minha fronte, vomitará labaredas sobre suas cabeças e elas quedarão onde antes tinham os pés'.




Uma das duas palavras pelas quais os egípcios usavam para a  'uraeus' era  'a brilhante'.





Enquanto umas serpentes representavam a divindade, certas espécies simbolizavam o mal.

Daí encontrarmos vários tipos de desenhos de serpentes  : 
 as boas eram representadas geralmente arrastando-se ; 
 as más, erguidas.
 
 
 
 



O "diabo"  APEPI  ou  APAP tinha a forma de uma serpente de muitas volutas, que encabeçava as forças do mal.


RENENUTET , deusa das colheitas, tinha a forma de uma serpente ;

EDJO  ou  BUTO  é a deusa protetora do Baixo Egito, também com forma de serpente.









As cores contribuíam para a correspondência entre a enunciação e a pretensão do talismã :

verde
correspondia a uma vida poderosa e fecunda ;
 
cornalina ,
à saúde ;
 
vermelho ,
o vigor, renovação, mérito, esplendor ;
 
amarelo  /  branco  (= cores do sol ) , 
a pureza e elevação ;
 
ouro ,
duração e indestrutibilidade.







Além do talismã e da cor, havia ainda   a  palavra certa , a palavra de praxe, a palavra dos preceitos a ser usada corretamente e assim efetivar o efeito do que se pretendia.


Para afugentar uma doença, por exemplo, os egípcios recorriam à magia, recitando com voz forte e compenetrada, certas 
 frases impregnadas de encantamentos.

 Essas frases faziam a doença compreender que será desvantagem, para ela, atacar a vítima.



Havia   invocações   para curar
resfriado,
febre
e maus espíritos.
 
 

Quando desejavam  cobrir de bênçãos o sono das crianças,
ou   quando retiravam as ataduras de um ferimento,
recorriam a outras tantas fórmulas :

'Libertado ele foi, libertado por ÍSIS.
Libertado foi  HÓRUS  por ÍSIS de todo o mal que lhe foi feito por seu irmão  SETH, quando este matou seu pai  OSÍRIS.
Ó  ÍSIS, liberta-me, liberta-me de todas as coisas más que venham sobre mim.
Tu és grande mágica !
Cura-me das doenças demoníacas, como libertastes e curastes teu filho  HÓRUS'.





A fórmula e a voz com que se pronuncia, completavam-se reciprocamente.

Os textos dizem que deve-se ter  'má khron'  (= voz justa)  :  abrir a boca em sentido místico  -  isto é,  saber formular a palavra com a entonação certa e precisa.





No Egito havia
fórmulas mágicas  (=  'hikan' ) ,
conjurações contra os maus espíritos  (=  'abentiu' )
e os encantamentos para chamar os espíritos benfazejos  (=  'hosin' ).











Não devemos julgar ignorantes os habitantes do Vale do Nilo simplesmente por usarem talismãs de sentido mágico.
 
Antes, devemos nos lembrar que inúmeras medalhinhas, figurinhas ou fitinhas, de igual misticismo, pendem de graciosas correntinhas de ouro no pescoço de nossas criancinhas e mesmo de nós, adultos ;
ou ainda, amarrarmos fitas coloridas nos nossos pulsos ou nas placas de nossos veículos, simbolizando uma proteção ou bênção recebida.
 
Assim como é nosso hábito usar figurinhas de santos para nossa proteção pessoal, ou coraçõezinhos gravados com  "Deus te guie", nada de extraordinário podemos encontrar no sentido mágico dos amuletos egípcios.
 



 

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