terça-feira, 30 de junho de 2015

ARTE EGÍPCIA : PRÉ-HISTÓRIA [ 10.000aC - 3.300aC ] - Jarbas Vilela




O impulso artístico
se manifestou desde os tempos do Período Pré-Dinástico egípcio e mesmo na Pré-História.


Chama-se de  Pré-História  a tudo o que aconteceu antes do aparecimento da escrita.







 


Nesse  momento, o Vale do Nilo  "não passava de um simples matagal e de um pântano, hábitat de grandes ordas de hipopótamos e inúmeros crocodilos.
O homem se achava relegado aos áridos desertos, embora o ônix e a gazela lhe proporcionasse alimento e seus inimigos mortais fossem o escorpião e a áspide"
H.R.HALL  -  "The Ancient History of the Near East" ).




"A idade das mais antigas obras de arte não deve exceder a 8.000 aC. e as mais recentes são nossas contemporâneas.
No Egito foram, talvez, a fonte da arte histórica.
As mais antigas são obras de povos caçadores e figuram numerosos animais.
Bem parece, aliás, que em certo momento o polo de atração constituído pelos Atlas saarianos cedeu seu papel ao Vale do Nilo, onde se agruparam os primeiros sedentários.
É pois certo que a influencia do Egito deva ter-se exercido na era Pré-Histórica sobre toda a região saariana"
(   J.A.MANDUIT  -  "Quarante Mille Ans d'Art Moderne" ).




Os primitivos sedentários egípcios
trançavam esteiras
e teciam panos.

A cerâmica era feita com o lodo do Nilo e toscamente decorada com cores.






Antes de 10.000 aC.
PALEOLÍTICO

A aridez progressiva vai transformando as campinas e as pastagens do Norte da África em regiões de vegetação escassa.
No Vale do Nilo, temos matagal e pântano.


10.000 -  5.000 aC.
NEOLÍTICO

Período em que as populações vão se fixando em torno do Nilo, sedentarizando-se. 

Descobriram-se locais  neolíticos em 
Gerf-Hussein,
 Deir-Tassa,
Faiúm 
e em  Merinde.
 
 
Gerf-Hussein :
Alto Egito
5.000 aC.
Tribos de caçadores, que já utilizavam armas  (arcos, flechas, maças) descobrem o Vale do Nilo. São populações camíticas com contribuições semíticas e núbias.
Cultivam a cevada, o trigo (fazem farinha), fermento, algodão.
Fabricam tecidos, pentes, colares e pulseiras de marfim.
Abrem canais de irrigação e  'gists' ( = diques).
Figuras rupestres e plásticas em argila : confeccionam cabeças e figuras humanas, barcos de junco.
 
Perto de Gerf-Hussein, em pedras situadas junto ao Nilo, vemos gravuras rupestres pré-históricas mostrando à semelhança das cavernas primitivas da  Península Ibérica,  África do Norte e do Sul, os primeiros passos do homem na captura de certos animais.
 
Em 4.245 o Alto Egito conquista o Baixo Egito  =  HÓRUS  conquista  SETH.
 
No Oriente Médio :
            5.000 aC.   -   Cultura Jarmo      (na Suméria)
4.800 - 4.500 aC.   -   Cultura Hassuna  (na Suméria)
4.500 - 4.000 aC.   -   Cultura Samarra  (na Suméria)
 
 
 
 
CALCOLÍTICO
também denominado Pré-Dinástico, é considerado como o fim da Pré-História.
 
5.000 - 4.500  aC.    -    El-Badari
4.500 - 4.000 aC.     -    El-Amra   (ou  Nagada I  )
4.000 - 3.500 aC.     -    Gerza        (ou  Nagada II )   aqui  a faiança já aparece entre os objetos  'de comércio'.
      
Agulhas de osso,
braceletes e pentes de marfim,
colares de conchos,
pedras perfuradas,
tinta para as pálpebras à base de malaquita,
óleos de limpeza...
tiveram uso nesse período.
 
 
Figuras de animais decoram os pentes da cultura  Amriana / ou Amratiana.
 
O neolítico egípcio passara da barbárie à civilização e em alguns cemitérios já aparece o cobre.
 
 
No Oriente Médio :                                                                           Na Índia :
4.500 - 4.000 aC.     -   Cultura Obeid  (na Suméria)                       Cultura Queta
4.000 - 3.500 aC.     -   Cultura Uruk    (na Suméria)                       Cultura Zohab 
            3.800 aC.     -   Os Sumérios entram na Mesopotâmia.
 

 
 
 
 
No final do Período Pré-Histórico surge a fabricação de  vasos decorados com figuras de

 
homens e mulheres,
antílopes,
palmeiras,
avestruzes e
barcos.
 
 
 
A primeira pintura mural conhecida  é encontrada no mesmo estilo da dos vasos, nas paredes de um túmulo, próximo a  Hierakômpolis.
 
 
 
Figurinhas femininas  são o tema do Período Pré-Dinástico, feitas em
barro cozido,
osso,
marfim e
cerâmica.

 
 
 
Paletas
e cabos de facas
trabalhados em marfim ou madeira, são de fabricação mais recente e usados para  amassar e misturar cosméticos.


 
 
 

 


 
 
 
Agora vamos tratar essas culturas pré-históricas de forma mais específica, caracterizando-as  melhor :
 





 
 
NEOLÍTICO
( Período da pedra polida )
 




 
 
Deir-Tassa
5.000 - 4.500 aC.
Margem direita do Nilo
 
 
Sepultura separada da vivenda.
Exumação contraída sobre o lado esquerdo,
rosto voltado para o Ocidente,
corpo envolto em esteiras  ou peles de cabras.
 
 
 
Cerâmica negra ou cinzenta,
incrustada com desenhos de massa branca.
Vasos altos, tulipares.
Decoração geométrica, rica, abrangendo todo o vaso.
No interior, desenhos de triângulos pontudos.
 
Copos de barro.
 
Machados de pedra polida.
 
Colheres de osso.
 
Colares de osso, marfim e conchas do Mar Vermelho.
 
Paletas de xisto, pedra e alabastro.








 
 
 
Faiúm
5.000 - 4.500 aC.
Depressão natural a oeste do Nilo.
 


 
 
Cultura de trigo, cevada e linho.
 
Foices com dentes de sílex e cabos de madeira.
 
Setas de madeira. 
 
Silos para armazenar grãos de trigo.
 
Animais domésticos :  boi, porco, carneiro.


 
O nível do lago do Faiúm era superior a 60m. de altura.
Com o uso do C-14  ( carbono-14 ), dataram grãos de trigo e de cevada entre  4.145 e 4.441 aC..
 







 
 
 
 



Merinde  
 ( Beni Salame )
Delta do Nilo
 
 
Sepultura de forma oval, junto com a vivenda.
Exumação contraída sobre o lado direito,
rosto voltado para o oriente.
 
 
Cerâmica :
Negra.
Vasilhas decoradas na parte superior com escassos motivos geométricos, geralmente traçados em forma de espinhas de peixe.
 
Argila :
Figuras de homens, cabeças de bois e barcos.
 
 
Pescavam com anzóis e arpões dentados.
Usavam roupas amplas.
 



 
 
 
 
El-Omari
sítio neolítico perto do Cairo.
 
 
 

Aqui se cultivou, pela primeira vez, o trigo  (= triticum monococcum ).












CALCOLÍTICO
Período em que se utilizou o metal e a pedra polida.









El Badari
4.500 aC.




Sepulturas como as de Deir Tassa.
As partes genitais do morto eram cobertas por um estojo.


Encontraram-se animais amortalhados em esteiras ou estojos :  origina-se daqui o culto a eles ?



Cerâmica vermelha, com a parte superior dos vasos em cor escura.
Decoração zoomórfica.






Surge o  cantil  : recipiente para guardar água.

Usaram também o quartzo e a turquesa para fazerem vasos.

Figuras de ídolos femininos.

Esmalte azul-esverdeado.

Confecção de tecidos  / objetos de vime.

Paletas em xisto.

Cultivo, drenagem e irrigação do Vale ;  criaram um modo especial de drenar o Nilo com diques e barreiras de pedra.

Armazenavam as colheitas.

Faziam colares e braceletes.

Animais domésticos : porco, carneiro, cachorro.

Armas de pedra e osso.








El Amra 
 ( Nagada I )
Alto Egito,
 sul de Karnak.




Mais de 3.000 tumbas.

Indivíduos de estatura pequenas  (1,60m.), crânio alongado, cabelos longos e duros.
Tudo indica que possuíam escravos negros.


Utilizaram o cobre para fazer tesouras, agulhas com furo e anéis ;
com ouro e prata faziam argolas, colares e anéis.


Sepulturas como as de Deir Tassa, mas  as partes do corpo eram sepultadas separadas.




Cerâmica polida, vermelha.
Decoração branco-amarela :  figuras de homens cobertos com saios, motivos geométricos  ( estrelas ) e zoomorfos  ( bois, gazelas, hipopótamos, crocodilos, elefantes ).

Sinais alfabetiformes.


Figuras femininas de busto redondo, em argila ou marfim.

Baixos-relevos em placas de calcário.

Cultivo do trigo.

Animais domésticos :  boi, carneiro, porco, cão.




Faziam barcos de papiro.



Segundo  E.J.BAUMGASTEL, até fins da cultura Nagada I é possível que a capital do organismo tribal fosse  Nubet ( 'Cidade do Sul' ).








El Gerza 
( Nagada II )
Baixo Egito,
próximo a Meidum.




Construíam casas redondas, ovais, retangulares  - com muros inclinados.

A sepultura tinha dois quartos : um para o morto, outro para as oferendas. 

Sudários de tecidos começam a substituir as peles.

Corpos colocados na posição distendida.

As paredes tinham pinturas de substituição.
Os desenhos demonstram um domínio do homem sobre a natureza.


Cerâmica clara, com decoração vermelha-escura ou roxa.
Mostram barcos equipados com remos e estandartes, desenhos espirais, figuras de animais :  flamingos, avestruzes, gazelas, girafas, tartarugas, crocodilos.

Vasos com bicos.


Uso de selos-cilindros, muito comuns na Ásia.


As figuras em argila têm um maior sentido plástico.


Decoravam tabuinhas com baixos-relevos demonstrando
caçadas,
lutas navais ou
cenas de batalha.

Punhais e facas mostram cabos de cobre martelado.

Aparece o uso da faiança.

Aprimoramento do sílex, em polimento e manufatura.

























PRÉ-DINÁSTICO REMOTO

Ballas           -  fase evolutiva do branco na estilização   -    policromia.
Hu
Ábidos         -  modelo de casa com muros paredes inclinadas (de argila)
Mahama
Nagada        -  os deuses ostentam-se nos estandartes de cada aldeia.



3.600 aC
PRÉ-DINASTIA

Reis :

TIEUTHESH      -  uso de ouro, lavores de prata, obsidiana, lápis-lazúli.
NEHAB                -  lutas civis, de clãs e reinos.   Origem da escrita.
UATJANAS
SHA
HSEKIN
MEKHAT
ESCORPIÃO       - invasão do Baixo Egito pelo Alto Egito e unificação.













Para conhecer mais detalhes :
Wikipédia  -  Período Pré-Dinástico do Egito.





 
 



segunda-feira, 29 de junho de 2015

TALISMÃS SAGRADOS - Jarbas Vilela


PROTEÇÃO
GUIA
CLARIVIDÊNCIA
PODER
PERSISTÊNCIA
RESSURREIÇÃO
 
...
é isto o que os egípcios queriam.







Ao visitarmos os museus com secções destinados à cultura egípcia antiga, nos deparamos com uma infinidade de objetos estranhos, tais como

machadinhas,
dedos humanos,
patos em atitude de vôo,
rãs,
olhos e orelhas humanas,
feixes de plantas,
pilares,
anzóis,
babuínos,
hipopótamos,
íbis,
estrelas,
insetos e
asas.

Grande é o número desses objetos, feitos com os mais variados materiais :

ouro,
faiança,
pedra,
lápis-lazúli,
madeira ...

As dimensões variam.



A esses motivos os antigos egípcios atribuíam virtudes sobrenaturais  :  eram seus  companheiros mágicos nesta e na outra vida.





COLUNETA   DJED

é um dos mais frequentes amuletos.
Tomado como símbolo hierográfico  significa :
duração,
conservação,
persistência.


Tomado como símbolo teológico vemos nela
a coluna vertebral de  OSÍRIS  e 
sede do  'fogo da vida'.
Dela emanava o mágico poder do fluído, do fogo vital que  OSÍRIS  comunica aos defuntos.






Segundo a lenda, os assassinos de OSÍRIS teriam mutilado seu corpo e espalhado seus membros por todo o Egito. 
ÍSIS  e  ANÚBIS  tê-los iam recolhido e reconstituído.
Esse trabalho de recomposição foi empreendido por  ANÚBIS  e  iniciado pela coluna vertebral e costelas do grande deus.






SÍMBOLO  DE  ÍSIS


pertence à família  do  talismã acima descrito.
Como sinal hieroglífico  lê-se  'tit'.



Geralmente era talhado em jaspe ou cornalina, por terem coloração vermelha.

"Livro dos Mortos"  declara que  'o sangue todo carregado de virtudes mágicas '  da deusa ÍSIS  circulava nesse amuleto.

Ou melhor :  o talismã continha o   sangue mágico   da generosa divindade, esposa de OSÍRIS.

Ele é assemelhado a outro símbolo  sagrado :  o  'ank'.





OLHO  DE  HÓRUS





também pertence à mesma família.
Talvez seja o amuleto mais usado.


Conta a tradição que  HÓRUS  vingou seu pai  OSÍRIS, em uma luta com seus inimigos e assassinos. 
HÓRUS  arrancou os  órgãos viris deles  ( o pênis ), mas perdeu um olho na refrega.

E é esse olho que  THOT  depositou cobre a língua de  OSÍRIS que, dessa forma, recuperou a vida.
Por isso  o amuleto é encontrado sobre a língua de muitas múmias para que, à semelhança de  OSÍRIS, pudessem recobrar a vida.

O amuleto concede ao defunto
clarividência,
a visão direta do mundo invisível.






KHEPER








o escaravelho, é o símbolo egípcio
da ressurreição,
da potência criadora.

Seu nome  'keper' , 'kheper'  ou  'akhper'  significa 
existir,
nascer,
vir à ser.
 

Os colares e peitorais dos nobre egípcios, encontrados em seus túmulos de várias épocas, trazem, na maioria das vezes, a figura de um escaravelho, pois ele garantia  a  persistência do ser.


Quem o levasse para a tumba  assegurava efetivamente
 seu  renascimento.


Por isso  substituíam nas múmias humanas e de certos animais, o coração carnal do defunto por um outro  de ouro, vidro, turquesa, lápis-lazúli, pedra, faiança, marfim ou feldspato, tendo a forma de um  escaravelho.



O verdadeiro coração era simbolicamente conduzido ao Tribunal, para o julgamento.

Aumentavam-se as possibilidades do defunto substituindo esse órgão por um mais duro, de pedra.



 



Muitas vezes o  coração-escaravelho apresenta-se alado ou ladeado pelas deusas  ÍSIS  e  NÉFTIS, como um peitoral e era o orgulho das damas nobres.











CETRO  DE  PAPIRO




aparece em várias estátuas ou em painéis.
Deusas e rainhas aparecem segurando esse cetro.

Era confeccionado em feldspato verde ou faiança.

Significa 
 verdor,
juventude,
fecundidade.

Múmias de princesas e rainhas frequentemente seguram o  cetro de papiro.

Dois capítulos do  "Livro dos Mortos"  são-lhe destinados.








OUTROS  AMULETOS







São frequentes, nos túmulos ou dentro de ataúdes, o uso de um amuleto  que tem a forma de apoio,  travesseiro  ou  CABECEIRA.





Na tumba de TUTANKHAMEN,  CARTER encontrou muitos desses descansos para a cabeça.

Um deles tem o significado  retirado de um antiquíssimo mito da criação do Universo.
O mito conta que o céu e a terra eram unidos e, mais tarde, o ar introduziu-se no meio deles e elevou o céu, separando-o da terra.

























Segundo a descrição de CARTER
"a cabeceira conta a mesma coisa :  na superfície terrestre acham-se deitados dois leões, personificando o passado e o futuro.
Entre eles ajoelha-se o deus do ar  SHU, que eleva em seus braços a abóbada celeste"
OTTO NEUBERT  -  "Gost in Goldenen Särgen Tut-Ench-Amun" ).



Outro travesseiro traz gravada esta inscrição :
'Para levantar a cabeça do que aqui repousa'.







Diz o egiptólogo  KURT LANGE  que  "a cabeceira não servia somente para apoiar a cabeça, mas garantia ao morto que teria ele bem ainda uma cabeça para apoiar nela"  ( "Piramiden, Sphinx, Pharaonen" ).

Traduzindo isso   -  já estudamos o esquartejamento de OSÍRIS por seus inimigos.  O mesmo ocorria com o defunto.  Sua cabeça e seus membros, mesmo simbolicamente, foram arrancados de seu corpo.

Basta-nos só uma linha do  Capítulo 16  do  "Livro dos Mortos"  para entendermos que uma segunda morte não ocasionaria a perda de sua cabeça :
'Tu és  HÓRUS, filho das chamas, a quem foi restituída a cabeça após ter sido decepada'.












Um amuleto usado nos tempos do  Antigo Império, era  a   ORELHA.
Em um material qualquer  -  pedra ou argila  -  desenhavam uma ou um par de orelhas, simbolizando as do deus.
No restante da placa gravava-se um pedido à divindade.
Funcionava como se fosse   um cochicho aos ouvidos do deus.
Depois, colocavam o nome do suplicante  -  pois a divindade poderia não se lembrar de quem fez tal súplica.


Certos amuletos ou símbolos tinham um caráter mais reservado do contágio popular.  São eles :

a chave  'ank' , da vida :
o círculo  'shenu'senhorio, poder, posse, consciência do dever ;
'sa' ,  da proteção, amparo ;
'was' , domínio.




As divindades egípcias, para muitos casos, também se apresentavam miniaturizadas na forma de talismãs, como

APET       ( hipopótamo ) :  deusa protetora da gravidez  ;
HEKET    ( rã ) :  protetora dos partos e da câmara nupcial ;





SERPENTE  'URAEUS'

constitui um símbolo de ação privilegiada dos membros de sangue real da família faraônica :  o tempo indivisível.

"Le serpente présent um symbole parfait de l'énergie créatrice appartenant à l'espirit suprême, auteur de l'universe, et de la création ele-même"
(  PAUL  BRUNTON  -  "L'Egypte Secrète" ).

Portanto, é signo da descendência divina dos faraós, nascidos do Espírito Supremo.

A uraeus tinha, quase sempre, uma função a desempenhar contra os salteadores de tumbas :

'Que seja aniquilada a mão que se levanta contra mim.
Que sejam estraçalhados os que toquem a minha forma, o meu nome, o meu ká e as imagens de minha aparência.
A real uraeus que coroa minha fronte, vomitará labaredas sobre suas cabeças e elas quedarão onde antes tinham os pés'.




Uma das duas palavras pelas quais os egípcios usavam para a  'uraeus' era  'a brilhante'.





Enquanto umas serpentes representavam a divindade, certas espécies simbolizavam o mal.

Daí encontrarmos vários tipos de desenhos de serpentes  : 
 as boas eram representadas geralmente arrastando-se ; 
 as más, erguidas.
 
 
 
 



O "diabo"  APEPI  ou  APAP tinha a forma de uma serpente de muitas volutas, que encabeçava as forças do mal.


RENENUTET , deusa das colheitas, tinha a forma de uma serpente ;

EDJO  ou  BUTO  é a deusa protetora do Baixo Egito, também com forma de serpente.









As cores contribuíam para a correspondência entre a enunciação e a pretensão do talismã :

verde
correspondia a uma vida poderosa e fecunda ;
 
cornalina ,
à saúde ;
 
vermelho ,
o vigor, renovação, mérito, esplendor ;
 
amarelo  /  branco  (= cores do sol ) , 
a pureza e elevação ;
 
ouro ,
duração e indestrutibilidade.







Além do talismã e da cor, havia ainda   a  palavra certa , a palavra de praxe, a palavra dos preceitos a ser usada corretamente e assim efetivar o efeito do que se pretendia.


Para afugentar uma doença, por exemplo, os egípcios recorriam à magia, recitando com voz forte e compenetrada, certas 
 frases impregnadas de encantamentos.

 Essas frases faziam a doença compreender que será desvantagem, para ela, atacar a vítima.



Havia   invocações   para curar
resfriado,
febre
e maus espíritos.
 
 

Quando desejavam  cobrir de bênçãos o sono das crianças,
ou   quando retiravam as ataduras de um ferimento,
recorriam a outras tantas fórmulas :

'Libertado ele foi, libertado por ÍSIS.
Libertado foi  HÓRUS  por ÍSIS de todo o mal que lhe foi feito por seu irmão  SETH, quando este matou seu pai  OSÍRIS.
Ó  ÍSIS, liberta-me, liberta-me de todas as coisas más que venham sobre mim.
Tu és grande mágica !
Cura-me das doenças demoníacas, como libertastes e curastes teu filho  HÓRUS'.





A fórmula e a voz com que se pronuncia, completavam-se reciprocamente.

Os textos dizem que deve-se ter  'má khron'  (= voz justa)  :  abrir a boca em sentido místico  -  isto é,  saber formular a palavra com a entonação certa e precisa.





No Egito havia
fórmulas mágicas  (=  'hikan' ) ,
conjurações contra os maus espíritos  (=  'abentiu' )
e os encantamentos para chamar os espíritos benfazejos  (=  'hosin' ).











Não devemos julgar ignorantes os habitantes do Vale do Nilo simplesmente por usarem talismãs de sentido mágico.
 
Antes, devemos nos lembrar que inúmeras medalhinhas, figurinhas ou fitinhas, de igual misticismo, pendem de graciosas correntinhas de ouro no pescoço de nossas criancinhas e mesmo de nós, adultos ;
ou ainda, amarrarmos fitas coloridas nos nossos pulsos ou nas placas de nossos veículos, simbolizando uma proteção ou bênção recebida.
 
Assim como é nosso hábito usar figurinhas de santos para nossa proteção pessoal, ou coraçõezinhos gravados com  "Deus te guie", nada de extraordinário podemos encontrar no sentido mágico dos amuletos egípcios.
 



 

domingo, 28 de junho de 2015

OS LIVROS RELIGIOSOS DO EGITO ANTIGO - Jarbas Vilela.





A morte encontra um símbolo no pôr-do-sol.
A alvorada é uma ressurreição.
A noite engole o dia.
A morte engole a vida.
Cada dia é um ciclo e uma vida.
O drama dos dias é o drama dos anos, infinitamente !













"Nas  pirâmides de Abussir  aparece, pela primeira vez, o estilo de ornar, com inscrições, as câmaras interiores do túmulo.
Essas inscrições, copiadas nas pirâmides dos faraós seguintes da VI dinastia, constituem-se de uma série de encantamentos e invocações, com a finalidade de assegurar a salvação e a felicidade do espírito do rei no outro mundo.
Embora muitas vezes selvagens e mesmo absurdas, são do mais alto interesse para o estudioso de Antropologia"
JOHN A.  WILSON  -  "The Burden of Egypt", 1951 ).





O  TEXTO DAS  PIRÂMIDES

é o fundamento sobre o qual repousam as  páginas do  LIVRO DOS MORTOS  e  outros textos semelhantes.
Por meio deles obtemos uma boa noção do lado baixo da inteligência egípcia, contrastando profundamente com o espírito elevado que produziu as grandes pirâmides.







Os  encantamentos  da  Pirâmide de  UNAS, a primeira delas a ter inscrições, são organizados de modo a permitir que o rei morto, pelo poder de sua força, possa obrigar todos os seres do mundo vizinho a submeterem-se  -  mesmo os próprios deuses devem inclinar-se sob o seu cetro.




Câmara mortuária da Pirâmide de  UNAS.



A chegada do rei morto é descrita como um cataclisma em que tremem o céu e a terra, já que ele é uma força poderosíssima :

'Os céus se abrem e as estrelas tremem quando  UNAS  surge como um deus'...
'Armou-se com uma coluna vertebral de suas vítimas, arrancou os corações dos deuses'.
'UNAS se nutre dos pulmões dos deuses que contêm a sabedoria.  Nunca suas virtudes lhe poderão ser tomadas, porque engoliu a potência dos deuses.'



O  TEXTO DAS PIRÂMIDES  do  Antigo  Império continuou em uso nas épocas Saíta e Persa  e  os manuscritos escolares desses tempos são cópias das  Instruções  de 7 séculos anteriores.



O  TEXTO DAS PIRÂMIDES  contém todas as expressões que favoreciam a vida eterna  :  há rituais para
acompanhar a alimentação,
afugentar doenças,
exorcismos contra serpentes, escorpiões
e outras tantas coisas perigosas que podiam infestar a terra onde era sepultado o  'bom deus'.


Há livros antigos,
fragmentos de mitos
e ritos pré-dinásticos, destinados a relacionar o rei morto com o passado glorioso  e projetar sua realeza noutro mundo.



No  TEXTO DAS PIRÂMIDES  há um  "livro canibalesco"  em que o faraó morto ameaça devorar os homens e deuses para assimilar suas capacidades.

"O espanto que deveria produzir o rei voraz, era reforçado pela repetição de tons ásperos:  'UNI pi sekhem wer , sekhem em sekhemu ;  UNIS pi ashem, ashem,ashenu, wer'   =  UNAS é o grande poder, mais poderoso que o poderoso; UNAS é um pássaro de presa que apreza os pássaros de presa, o Poderoso."
JOHN  A.  WILSON  -  obra citada ).


A magia sempre foi um elemento preponderante da vida egípcia ;
conhecemos amuletos de tempos primitivos e os  TEXTOS  DAS PIRÂMIDES  estão cheios de salmos protetores.






Entre as dinastias  VII e XI  temos que reconhecer um outro tipo de inscrição mortuária, do mesmo estilo do gravado nas pirâmides :  trata-se dos   TEXTOS  DOS  ATAÚDES.




Os textos e desenhos rituais cobriam os ataúdes internamente e externamente.

O ataúde corresponde ao nosso caixão funerário.

Decoração do ataúde de NESYAMEN.





Eles contêm certos elementos mágicos e rituais que são de conteúdo puramente moral.


A retitude moral era um requisito necessário para a vida eterna e os bens materiais não tinham tanta importância como o caráter de um indivíduo.


Certas sentenças do  TEXTO DOS ATAÚDES  são afirmações de integridade moral por parte do morto, enquanto que no  LIVRO DOS MORTOS  são afirmações de conformidade com o ritual.



Acreditavam num Juízo dos deuses, presidido por  OSÍRIS  ( que pesava o coração )  -  posteriormente substituído por  RÁ  (que media o caráter ).    Neste último tribunal os mortos eram chamados de  'justos de vóz'  ou  'triunfantes',  significando que haviam sido considerados  'justos'  pelo Tribunal.




Sarcófago de TUTMÓSIS  I   com textos religiosos em hieróglifos.

Os sarcófagos guardavam o ataúde, ou os ataúdes, contendo a múmia.






"O  LIVRO DOS MORTOS   é o monumento mais importante que possuímos sobre a  religião egípcia.
Graças a ele conhecemos de modo determinante as doutrinas professadas por aquela civilização com respeito
à filosofia,
à moral,
aos conhecimentos psíquicos,
à constituição do ser humano,
sua desintegração no instante da morte
e os renascimentos que constituem a consequência do Juízo.
Vem à ser o documento mais autêntico e seguro para adquirir-se idéias positivas relacionadas com a religião do antigo egiptano.
Contém revelações e pontos de vistas filosóficos, um completo ritual mágico e religioso relativo ao culto do morto e sua preservação onde há de permanecer."
HENRI  DURVILLE  -  "La Science Secrète" ).



"O Livro dos Mortos nos revela a crença egípcia em uma segunda vida, alegre ou penosa, segundo o julgamento que a alma do morto deveria sofrer na Sala do Juízo. 
... se o julgamento resultasse favorável, o morto pedia a OSÍRIS que o fizesse imortal como ele e que lhe proporcionasse um  'corpo espiritual'"
R. COPPEL  -  "As Religiões". Rio, Cedibra, 1972 ).




"Um breviário de orações próprias para ensinar aos defuntos a melhor maneira de viverem confortavelmente a vida de além túmulo ; 
um passaporte indispensável aos defuntos ;
uma obra pacientemente recopiada em milhões de exemplares ;
ensinamentos para a alma que acaba de separar-se do corpo e avisos sobre o que terá de passar, antes de ser admitida no meio dos deuses ;
as preces e encantações ajudariam a alma a vencer o Mal e, nessa peregrinação pelo Espaço, ela teria a múmia, seu corpo embalsamado para descansar  -  se o corpo fosse destruído, a alma ficava vagueando, desesperada, sem pouso !"
V. LEFÈVRE  - "No Egito Antigo". São Paulo,Ed.Anchieta S/A, 1945 ).




LIVRO DOS MORTOS 
 foi denominação dada por  RICHARD LEPSIUS ;
LIVRO DA MORADA OCULTA,
 por  PAUL  PIERRET ;
RITUAL  FUNERÁRIO ,
 por  CAHMPOLLION  e EMMANUEL DE ROUGÉ ;
LIVRO DA SAÍDA DO DIA PARA A NOITE ,
 por  Sir E.A.BUDGE  (Londres, 1898).



Todos estes se referem ao mesmo assunto.




Livro dos Mortos.




O  LIVRO DOS MORTOS, o qual toda múmia devia levar um exemplar mais ou menos completo, contém partes destinadas também às diversas cerimônias do funeral.



Os mais antigos fragmentos do  LIVRO DOS MORTOS  foram descobertos nos ataúdes da  XI Dinastia e atualmente passam de 160 o número de obras catalogadas nos museus.



Sarcófago de madeira decorado com versículos do Livro dos Mortos.



A ordem dos Capítulos é variada.
Os Capítulos são chamados 'ra-u' (= encantações), na língua egípcia.

A redação do Capítulo 64, descoberto no reinado de  MANKAURÁ  é atribuída, pelos egípcios, ao seu deus  THOT  (deus da sabedoria)  e  o  Capítulo 130  resultaria do hipogeu  dedicado por  HÓRUS  a seu pai  OSÍRIS, no reinado de  DEM-SEMPTI  (também chamado  OUSAFAIS e  HESEPTI), da I Dinastia.




     Procissão funeral :

Capítulo 1 :

'Ó OSÍRIS, Touro de Amenti !
Ó Rei da Eternidade !
Eu sou o Grande Deus na barca divina ; combati em teu nome ; sou um dos Chefes divinos que fazem a Verdade da palavra de OSÍRIS contra seus inimigos  -  o dia de poder apreciar as palavras de OSÍRIS.
Teus companheiros são os meus.
Sou mais que um modesto sacerdote em Tatús ; trago as unções de Ábidos.
Sou profeta.
Dirijo as cerimônias de Mendes : sou o auditor  ('soten') no exercício de suas funções.
Sou o Grande Chefe da Obra que coloca a barca sobre o suporte.
Conduza a alma de  OSÍRIS ........... e levai-a à Morada de OSÍRIS.
Ela vê, ouve, mantém-se em pé e se senta como vós.
Que não seja rechaçada nem apartada.
Estando suas palavras convertidas em pura verdade, que se cumpram suas ordens na Morada de OSÍRIS.
OSÍRIS ............ encaminha seus passos até o Ocidente.'
     
  Prece oferecida a AMEN-RÁ :

'Ó, Único radiante na lua !
Abre-me o 'Tian' , porque saudei a luz do dia para fazer o que quero entre os vivos, sobre a terra'.


O Capítulo 2 é consagrado à vida que se inicia após a morte e o 44 enuncia formalmente que a nova vida não estará mais sujeita à morte :

'Possuo a duração, a altura, a elevação.
Respiro no domínio de meu pai, o Grande.
Meu rosto se descobre :
Sou Rá que se protege a si mesmo.
Nenhuma coisa má poderá destruir-me.
Eu recomeço a vida após a morte, como faz o sol todos os dias'


Capítulo 3 :

      Fórmula execratória contra APAP  (princípio do mal, sob a forma de serpente) :

'Ó, único que aprisionas e arrasta à destruição vivente os que passam por mortos :  eu não me imobilizo perante ti.
Teu veneno não penetra em minhas carnes.
Não me verás paralisado por teu influxo, nem podes acercar-te de mim, porque sou forte, sou forte !
Vê a seu pai OSÍRIS.
Separa as trevas de seu pai OSÍRIS. ...
Armado com o poder de minha palavra, a Verdade, afronto serenamente meus inimigos.
Cruzo o céu, a terra.
Por meu próprio poder estou provido de milhões de anos.

      Saudação a RÁ, Soberano da Luz, cuja palavra é a Verdade :

'Honras a ti que te elevas no horizonte pela manhã e o percorres ditosamente com o dom da palavra, que é a Verdade.
Tu caminhas permanecendo oculto à vista dos homens.
Próspera é a marcha sob tua santidade para os que recebem teus raios sobre a face !   ...
Posso caminhar como tu caminhas, assim como caminha Tua Santidade, ó sol !


Capítulo 20 :

      OSÍRIS ......... obtém a faculdade de penetrar nos mundos ocultos :

'O homem que não aceitar este capítulo, depois de haver se purificado na água de natrão, fará todas as transformações que lhe surja no coração : passará através do fogo, em Verdade'.

'Dá-me a boca para poder falar.
Dirige meu coração no momento propício para defende-lo dos conspiradores das trevas.
Resplandeço fora do ôvo no País dos Mistérios.
Dá-me a boca para falar.
Estou ante os Grandes e Divinos Chefes, ante o Deus grande, Senhor do Hemisfério Inferior.'

      Após o cerimonial da 'abertura da boca' :

'Graças a meus mágicos encantamentos, digo tudo o que dizem os outros ;  atuo como dominador dos meus mágicos encantamentos.'


Capítulo 26 :

'Possuo o conhecimento de meu coração.
Sou dono dele :  comando meus braços e minhas pernas.
Sou seu dono :  tu estás em meu peito.
Nunca mais tu te apartarás de mim.
Te darei ordens que tu executarás na divina região inferior'


Capítulo 30 :

      Trata de não deixar que o coração ofereça oposição nos infernos :

'Meu coração, proveniente de minha mãe, meu coração que é necessário à minha vida sobre a terra, não te levantes contra mim : não testemunhe como meu adversário entre os Divinos Chefes, no relativo ao que tenho feito ante os deuses.
OSÍRIS, gênios funerários que inspecionais as entranhas dos mortos embalsamados, contidas nos canopos, perto do sarcófago !
Ó deuses, por vossos báculos peço que assistam benevolentemente a  OSÍRIS ...........
Protegei-o contra  NEHBKA, a serpente que destrói as múmias !'

      Prece para afugentar 4 crocodilos, símbolos das energias perversas de SETH :

'Atrás !   Retrocede !   Atrás, crocodilo !
Não intentes prejudicar-me.
Conheço o poder de meus mágicos encantamentos.
Minha boca formula invocações dos encantamentos mágicos ...
Eu rezo, usando fórmulas mágicas ...  eu abro a boca dos deuses.
Sabendo-se este capítulo, encontra-se a luz :  então, pode-se andar sobre a terra, passando entre os vivos.
Realmente não se pode sofrer dano algum, nunca mais'.
Possuo a duração, a altura e a extensão.
Respiro no domínio de meu pai, o Grande.
Meu rosto se descobre.
A víbora está todo dia sobre mim.
Eu sou RÁ, que se protege a si mesmo.
Nenhum princípio mal pode derrotar-me.
Eu recomeço a vida, após a morte, como faz o sol, todos os dias.

      Afirmação de ANÚBIS, Franqueador dos Caminhos, protetor dos iniciados :

'Eu falo : conhecendo este capítulo o defunto não se corrompe na divina região inferior'.

      Diz OSÍRIS ........ :

'Dá-me a insígnia da vida que tens na mão e o cetro 'nasen' que levas.
Dá-me a vida com vossas palavras.
Concede-me numerosos anos, sobre os anos da minha vida.  ....
SAou puro, regenerado, favorecido, forte em potência de alma e dominador.
Retiro todos os venenos de vossas línguas.
Retiro todo o mal que há em vós.
Separo de vós os pecados que guardais.
Trago-te o bem : faço com que o Verdadeiro chegue até vós.
Vejo os deuses resplandecentes de alegria.
As deusas e as mulheres me estimam.
Recebo os alimentos sobre o altar e sacio minha sede com o licor consagrado.
Me transformo em Deus venerável, dono da Grande Morada. ...
Sou uma lótus pura, que surge luminosa, que brotou puramente no Campo do Sol.
Nenhuma coisa adversa me pode destruir.'


Capítulo 89  trata dos meios de identificar a alma e o corpo na região inferior divina.
A cena que ilustra o texto mostra a alma, sob a forma de um gavião com cabeça humana, voando sobre a múmia, que jaz em seu leito funerário, sustentando com as garras o símbolo  'ank'.


O  Capítulo 90  está consagrado a fazer o morto recobrar sua inteligência :

'Abro porque me abrem... abro o caminho à minha alma...
Não aprisioneis minha alma.
Não guardeis minha sombra para que eu abra o caminho à minha alma, à minha sombra, à minha inteligência, para que eu veja ao Grande Deus em seu  'naos'  no dia do juízo nas almas e repita as palavras de OSÍRIS, misterioso por sua Morada.''

      O OSÍRIS ........... invoca a THOT :

'Ó, Grande vidente que vê a seu pai !
Ó Guardião dos Livros Sagrados  :  eu me apresento como dono de minha inteligência.
Possuo a alma e estou armado com escritos de THOT : trago a paleta e os objetos de escrever.' ......

'Nasci e cresci entre os Grandes : sou como eles.
Descubro a face do olho único.
Abro o círculo das trevas : sou como um de vós.
Conheço os espíritos de Heliópolis : fui criado em Ro-Sta.
Os que estão entre as múmias me dão encantamentos favoráveis no santo lugar de OSÍRIS.
Recebo as dignidades de Ro-Sta   -  passo pelas moradas de OSÍRIS.'
.....................
'Sou um defunto que o céu situa no meio dos deuses.
Eles me falam e os homens me veneram.
Convertido em uma alma livre e perfeita, faço com que a Verdade se encaminhe até a alma.
Sou o defunto melhor preparado que qualquer outro, imagem das múmias de Heliópolis, de Mendes, de Heracleópolis, de Ábidos, de Panópolis e de Sennu.
Minha palavra é Verdade, como a dos Deuses e Deusas.





      E quando o Osíris ......... entra na Grande sala da Verdade, diz :

'A vós, mestres da Verdade, ofereço minha homenagem.
A ti, Grande Deus, Mestre da Verdade, igualmente meu tributo.
Aqui compareço para contemplar teu explendor.
Eu te conheço, conheço teu nome, conheço os 42 deuses que estão contigo na Sala da Verdade !
Alma Dupla, Senhora da Verdade é teu nome e sabes tu, Senhor da Verdade, que eu te trago a Verdade e que separo de ti o mal.'

      A confissão negativa :

'Nunca fiz mal a nenhum  homem.
Jamais fiz desgraçados a meus companheiros e semelhantes.
Jamais tive relação com o mal. e jamais o pratiquei.
Como chefe, nunca fiz um homem trabalhar mais que o devido.
Jamais realizei coisas que aborrecessem os deuses.
Nunca consenti que o senhor maltratasse o escravo.
A nenhuma pessoa fiz chorar.
Jamais menti.
Jamais saqueei provisões do Templo.
Não despojei os mortos.
Jamais fiz pressão sobre os pratos da balança.
Nunca tirei o leite da boca do menino.
Nunca tirei os bois do campo.
Não pus rede para apanhar os pássaros divinos.
Não desviei o curso de nenhum canal.
Nunca roubei as oferendas dos deuses.
Sou puro, puro, puro, como a pureza do Grande Bennu que está em Heracleópolis'.







O seguinte trecho figura na tradução para o inglês, de  ROBERT  HILLYER  -  o morto se ergue e canta um hino ao sol :

'Levanta-te ó RÁ, em tua formidável ascensão !
Tu nasces!  Tu brilhas !  Os céus se revolvem ao lado !
Tu és o  Rei dos Deuses, tu és o que tudo conténs ;
De ti viemos, em ti nos divinizamos.

Teus sacerdotes saem ao romper da aurora,
lavando o coração com risos.
Ventos divinos caminham em música,
através de tuas cordas de ouro.
E ao anoitecer te abraçam, quando as balsas das nuvens
flamenja com a refletida cor de tuas asas.


Tu navegas para o zênite e teu coração se regozija.
Teu Barco Matutino  e teu  BARCO VESPERAL
se encontram com os belos ventos.
Diante de tua face a deusa MA'AT exalta sua pena fatídica,
e o teu nome ressoa nos vestíbulos de  ANU.


Ó tu Perfeito !  Ó tu  Eterno !  Ó tu que és Único !
Grande falcão que voa com o Sol que voa !
Entre os Sicômoros de Turqueza que suscitas, para sempre jovem,
tua imagem fulgura como brilhante rio celeste.
Teus raios estão em todas as faces.
Tu é inesgrutável.


Idade após idade tua vida renova tua sequiosa primavera.
A poesia do tempo rodopia a teus pés !
Tu és imutável !
Autor do tempo, tu próprio além de todo o tempo.
Tu passas pelas portas que se fecham atrás da noite,
alegrando as almas daqueles que jazem na tristeza.


Verdadeiro de Palavras,  Coração Tranquilo,
levanta-te para beber a tua luz.
Tu és o Hoje, e o Ontem ;
tu és o Amanhã !
Louvor a ti ó RÁ, que tiras do sono a vida !
Tu nasces !  Tu brilhas !  Tua face radiante surge !
Milhões de anos já passaram  -  não podemos contar ser número.
Milhões de anos virão , mas tu estás além dos anos !!!'







Com o  Novo Império  os homens voltaram às imagens mágicas de virtudes preventivas, recitando hinos ajustados a um ritual muito complicado, com a finalidade de neutralizar o novo sentido fatalista da vida, pedindo aos deuses ajuda mágica.




Pelas inscrições que cobrem as paredes dos túmulos reais, durante o período de exaltação a  AMEN, dos  Raméssidas, vemos que os antigos capítulos do  LIVRO DOS MORTOS  foram suplantados pelas duas compilações dos sacerdotes de AMEN, chamadas

'O  LIVRO  DAS  PORTAS'   
 e

'O  LIVRO  DO  QUE  ESTÁ  NO  MUNDO  SUBTERRÂNEO'.






Imagens  e inscrições do  LIVRO DOS MORTOS  no interior de um sarcófago do Museu de Viena.




Conheça, na íntegra, o papiro de  NEFER RENPET :












"Ó todos os deuses do Oeste de Mênfis e todos os deuses que reinam sobre a terra sagrada, OSÍRIS, ÍSIS e os grandes espíritos que estais a Oeste de Onkhtaoris :
dai-me um bom tempo de vida para servir vossos kás.
Que eu possa receber uma rica sepultura depois de uma bela velhice, de modo a contemplar o Oeste de Mênfis como um escriba muito honrado e como vós mesmos."
[ Livro dos Mortos ].











Diz a Bíblia que Deus escolheu o Egito para salvar  JESUS menino e a Sagrada Família da perseguição do rei Heródes.