quinta-feira, 11 de junho de 2015

A MODA EGÍPCIA na época dos faraós - Jarbas Vilela





A moda egípcia sempre variou de acordo com a época :
são 4.000 anos de História !


Pintura mural da tumba de  REKHMIRE






OS  TRAJES

eram feitos de algodão ou linho.
As classes favorecidas usavam um tecido finíssimo, transparente, cuidadosamente engomado, que se prestava admiravelmente ao "drapé", às pregas e aos franzidos, com maravilhosa elegância.

"Trajavam roupas de linho, sempre bem lavadas, cuidado rigorosamente observado"
( HERÓDOTO  - "História", II - XXXVII ).



Museu de Turim  :  túnica de linho do Engenheiro KÁ
( nessa peça o seu nome aparece bordado )





A  cor predominante era o branco, apesar de usarem tecidos estampados, brilhantes e opacos.
Comumente apresentavam um corte reto e simples, começando abaixo dos seios, indo até os tornozelos, sustentado por uma ou duas alças sobre os ombros.
Outras vezes mantêm, com muito gosto, suas longas saias, sensuais e transparentes, por meio de cintos cravejados de pedrarias.





OS  ENFEITES

que adornavam os costumes indicavam a classe social ou o cargo que ocupava seu portador.
Por exemplo, a serpente simbolizava a descendência divina ;  a flor de lótus a abundância e riqueza ;  a pluma, o poder, etc.

Belíssima estatueta de uma jovem nobre egípcia usando o "cone tebano" sobre a peruca.
( lamentavelmente essa estatueta desapareceu no incêndio do Museu Nacional da Quinta da Boa Vista, Rio de Janeiro-RJ)





OS  HOMENS

vestem-se com um simples saio de linho, muitas vezes plissado, chamado  'chendjit' , preso à cintura com um cinto de cor viva, ou uma alça passada sobre o ombro.
Quanto mais importante a profissão que exercia, mais bonito o seu colar  -  feito de muitas fileiras de pedrarias preciosas, engenhosamente tecidas.






AS  SERVAS

habitualmente se cobriam com uma túnica inteiriça de espesso linho branco e um modesto colar de contas.
Inúmeras pinturas representam-nas vestidas apenas com uma insignificante tira de tecido estampado, cobrindo-lhe parte das nádegas e do púbis.
Todos gostavam de muita sensualidade.


No período de 1.500 a 1.150 aC., a moda se tornou extravagante e o uso de
colares,
pulseiras e
cosméticos  foi usado sem distinção de sexo.
Usavam
cintos, ricos em pedrarias,
faixas largas
e no último período da história egípcia, as vestes passaram a ser bordadas a ouro, generalizando-se o uso de  sandálias, antes usadas por sacerdotes e pessoas da família real.




JOHN  M. WHITE  matiza a mulher egípcia como
  "o triunfo da arte sobre a natureza".




Temos, no Egito, as mais graciosas silhuetas femininas que a Antiguidade conheceu.

Eles associavam a beleza da mulher ao perfume das flores.
A mulher egípcia sempre aparece flexuosa e de busto pequeno.

O egípcio não era apenas um embevecido da beleza delicada de sua mulher : 
tinha-lhe amor,
dava-lhe liberdade,
acreditava na sua inteligência
e capacidade de trabalho.

Mesmo no  namoro a iniciativa partia da mulher.
Diz esta carta :

'Ó meu amado, o meu desejo é tornar-me, como tua mulher, a dona de todas as tuas posses'.

Isto porque, no contrato de casamento ele lhe passava todos os seus bens e ganhos futuros...




Delicada estatueta feminina -  Museu Gulbenkian.


"O casamento era um contrato civil e, pelo menos nas classes abastadas, a mulher podia mais ou menos esposar quem queria, com excessão, naturalmente, dos casamentos dinásticos entre membros da família real.
De acordo com um documento, 'as jovens eram apresentadas aos celibatários' , graças à recomendação de gente de classe mais alta ; pediam à deusa  HATHOR   'para dar um marido à viúva e um lar à virgem'.
Parece que os maridos egípcios mostravam-se tolerantes com suas esposas"
(  LEONARD COTTRELL -  "Les Epouses des Pharaons", Robert Laffont, 1968 ).







A  "TOILETTE"


era iniciada por um banho de lago, rio ou piscina.
Esfregavam na pele barro ou cinzas.
Em  "Les fines d'Objects",  JÉQUIER  diz que havia uma pasta solicificada desengordurante, capaz de levantar espuma, chamada  'suâbu'  ( composto de  'uâbu'  = limpo, puro).

Após o banho as servas massageavam  vigorosamente o corpo de sua senhora.  Usavam passar  "um creme especial de limpeza e água, que era purificado pela mistura de sais e natrão".

No calor friccionavam no corpo unguentos odoríficos à base de  'santé'  (= terebintina)  e  'ânti'  (= incenso).

Clareavam a pele  com uma espessa cavada de alvaiade, pintavam os lábios e as maçãs do rosto  com carmim, passando-0 por meio de um pincelzinho.

Sublinhavam os olhos com uma mistura de laquita verde e escureciam as sombrancelhas e os cílios  com uma mistura de malaquita e minério verde de cobre, chamado  'khol'.

Mais tarde o  "khol"  foi preparado com galena e metal cinzento de chumbo.
Esse cosmético ainda é usado pelos árabes, com largo emprego, não só por motivos estéticos, como também para evitar o perigo da  oftalmia.

As damas mais requintadas pintavam com  'henné'  ( = hena) as plantas dos pés, as unhas e a palma das mãos.

Foi moda também  dourar os seios , deixando-os descobertos.  
Chegaram ao ponto de delinear as veias dos seios com tinta azul !







Médio Império, 2065 aC.
Baixo-relevo do sarcófago da rainha  KAWIT, mulher de MENTUHOTEP II :  delicadeza ao segurar a taça.
A serva dá os retoques finais à peruca. 








"A elegância das egípcias nada deixa a desejar às mulheres de hoje, das quais  4.000 anos as separam"
(  J-M.BRISSAUD  -  "O Egito dos Faraós", Editions Famot, 1976 ).





PERUCAS



pretas ou azuis, de crina ou seda, cobriam suas cabeças, completamente raspadas.
Outros tipos de perucas eram confeccionadas com lã ou fibras de palmeiras.  Aquelas ou estas ofereciam uma verdadeira proteção contra o sol.



Lindíssima peruca, de refinado bom gosto e de cuidadosos detalhes.
Busto da rainha  MERITÁTEN, filha primogênita de AKHENÁTEN e NEFERTITE, casada com  SMENKARÁ.
O casal tornou-se co-regente do trono, no 15º ano do reinado de AKHENÁTEN.
Museu do Louvre, Paris.




Adorno decorativo com placas de metal, usado sobre a peruca.




A luta travada entre os egípcios e os persas, quando  o rei  CAMBISES invadiu o país, foi uma das mais rudes e sangrentas, culminada com a retirada dos egípcios, com suas fileiras dizimadas e esgotadas pela refrega.

"Visitando o local onde se travou essa batalha, ainda tive a oportunidade de ver as ossadas dos que tombaram para sempre na peleja. 
Alguns dos crânios estavam tão frágeis pela ação do tempo que, tocando-se-lhes mesmo de leve, logo se desfaziam em pó.
Outros, ao contrário, mantinham-se duros e resistentes, fendendo-se somente sob um forte golpe.
Os frágeis pertenciam a soldados persas;  os sólidos, a combatentes egípcios.
Os egípcios começam desde tenra idade a raspar a cabeça, de que resulta o endurecimento do crânio pela ação do sol"
HERÓDOTO  - "História" , III,XII ).







O BAÚ  DE  COSMÉTICOS  DE  TÚTU


esposa de ANI,  atualmente no British Museum,  é uma prova típica da vaidade das damas egípcias.
Em seus 4 compartimentosa encontram-se
potes e frascos com tintas,
unguentos,
paleta para amassar e misturas cosméticos,
almofada para descansar o braço,
pinça de prata para remover as sombrancelhas  e
um riquíssimo par de sandálias de couro de antílope.


Um outro acervo muito bem conservado, contendo perfumaria, cremes e objetos de maquilagem ( pinças, pentes, presilhas ...) encontra-se no Museu de Turim, Itália :  procedentes da tumba do engenheiro KA e sua esposa  -  XVIII Dinastia. 

Confira as imagens :











Completando a elegância,  usavam  perfumes geralmente preparados pelos sacerdotes e vendidos a preços altíssimos, feitos com
"amêndoas amargas,
cardamomos,
cinamomos,
gálgano,
olíbano,
mirra,
capim-limão,
óleo e vinho.
Havia loções para  eliminar as rugas e manchas  preparadas com
leite de burra,
alabastro,
natão,
mel  e
alume em pó"
JOHN MANCHIP WHITE  -  "Everyday Live in Ancient Egypt" ).








Foi moda, à partir da XVIII Dinastia, usarem sobre a cabeleira um  cone de cera perfumada e sensível ao calor, que se derretia vagarosamente espalhando a agradável fragrância por toda a peruca.
Esse objeto é chamado de  "cone tebano".





A  EXUBERANTE  OURIVESARIA




egípcia jamais foi superada, nem em seus delicados desenhos, nem em sua sólida mão-de-obra.
As jóias conhecidas mais antigas são as egípcias.
As descobertas arqueológicas nos trouxeram jóias deslumbrantes :
coroas,             
colares,
braceletes,
cintos,
peitorais,
tiaras,
anéis,
pulseiras,
tornozeiras  e
brincos dos mais variados tipos e formas, trabalhados em
ouro,
lápis-lazúli,
'mafkat' (= turquesa),
'sechmet'  (= malaquita),
ametista,
cornalina,
faiança,
vidro,
feldspato verde,
cristal de rocha,
granada,
alabastro,
ônix,
prata,
obsidiana,
'electrum',
quartzo,
resina,
hematita,
calcita,
jadeíde,
olivina,
sardônica,
pérola,
calcedônia,
ouro vermelho,
esteatite,
berilo,
ágata  e
jaspe.
As incrustações são belíssimas.




  





 desenho do peitoral  de  TUTANKHAMEN  com o  "Olho de Hórus", ladeado pelas divindades heráldicas do Alto e Baixo Egito , o abutre  NEKHABIT  e a serpente  UADJIT, com as respectivas coroas.

Peitorais alados de TUTANKHAMEN, com o seu nome de trono  (NEB-KHEPERU-RÁ)
o deus-falcão RÁ, com os símbolos da vida e da consciência do dever.

 





TUTANKHAMEN, com a coroa 'keperesh'  e segurando as insígnias do poder  - os cetros  'heka'  e  'nekhaka' -  é recebido pelos deuses  PTAH  e  SEKHMET.

Peitoral de TUTANKHAMEN
 representando o escaravelho  KHEPER conduzindo a barca noturna do sol.


Peitoral com o coração escaravelho ladeado por ÍSIS  e NEITH







Bracelete  de missangas coloridas de faiança, onde se lê o nome  RAMSÉS, dentro do cartucho.
Bracelete  de TUTANKHAMEN com o escaravelho  KHEPER em lápis-lazúli.
  







          Braceletes de  RAMSÉS II.








Os homens e as mulheres tinham as orelhas perfuradas  e os lóbulos deformados pelo peso dos brincos.

MEN-MAAT-RÁ  SETHI  I  -  alto-relevo pintado, em sua tumba.
Observe-se a barba postiça, presa ao queixo, e o toucado ou capuz faraônico  (chamado 'nemes'), com a serpente  'uraeus'  na testa.


Outros detalhes do  'nemes'  faraônico  :  frente e verso.
Máscara funerária de TUTANKHAMEN.
- Museu do Cairo -



barba postiça, para as cerimônias oficiais, foi exclusividade dos faraós, príncipes e altíssimos funcionários.





Hoje, figurinistas de peças teatrais, filmes e novelas  criam e recriam, até com certos exageros, em cima dessas figuras tão belíssimas deixadas nos túmulos e nos monumentos do Antigo Egito.

Outros, deixam escapar as minúcias sobre o desenho (o corte) e como prender  o toucado faraônico.
Não é simplesmente  "jogar um pano" sobre a cabeça do ator.






Um comentário:

  1. Bom dia, quais referencias foram utilizadas para a confecção desse post?

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