terça-feira, 9 de junho de 2015

A NOBREZA do antigo EGITO - Jarbas Vilela






Quase nada sabemos sobre os reis das três primeiras dinastias, sucessores de  NARMER, muito menos ainda sobre a nobreza e praticamente nada do povo.



Na realidade era impossível que o faraó pudesse desempenhar todas as funções oficiais e rituais de todo o país.
Tinha, pois, que transmitir obrigações a simples homens mortais, encarregando-os de atuar pelo rei, em seu nome.







Na organização ministerial, Faraó estava sobre os  ministros, eles sobre os  governadores provinciais e estes, finalmente sobre os  alcaides  das aldeias.

Não encontramos nos manuscritos egípcios palavras que designem  "governo",  "Estado"  e  "Nação". 

Havia somente expressões geográficas como 
                                            'a terra'
                                            'a terra negra',
                                            'as Duas Terras', e palavras referidas a Faraó :  'realeza''domínio'.




A maior parte dos nobres administradores usavam títulos, expressando sua responsabilidade :

'Inspetor do Palácio' ,
'Inspetor de todas as obras do Rei' ,
'Porta-Selos do Rei do Baixo Egito' ... este último título manifestava a autoridade de certos funcionários para dirigir os negócios longe do rei e da capital, certificando suas transações com a chancela real.



No principio, só  o filho do rei  podia ter esse cargo ; depois, generalizou-se.

Os  comissários  que se enviavam ao  'Cuxe'  (= Sudão) tinham que atuar com independência de juízo, mas expressavam a convicção de que agiam sob as ordens de Faraó.


A burocracia  parece ter sido pequena na primeira parte do Antigo Império, sendo possível uma  "intimidade" maior com Faraó. 
Entretanto existem provas de que sua divina pessoa era intocável e ninguém podia acercar-se dela.


Na  V Dinastia  somente o  vizir  era o  'Porta-selos do Rei do Baixo Egito', com autoridade de vigiar o movimento de exportação e importação.
No fim da VI Dinastia já encontramos dezenas de porta-selos.
O mesmo ocorreu com o  'Governador do Alto Egito'.



No  Primeiro Período Intermediário, o governo foi reclamado por vários pretendentes e os governadores fomentavam independências locais. 
Os faraós, em seus desejos de estabelecer e estender o Estado, alimentaram o individualismo e a autoconfiança de seus nobres, tendo agora que buscar o apoio e aliança de muitos deles para se manterem no trono. 



Após o Domínio Hikso, os funcionários mais altos do país, sob a supremacia do faraó, eram o 
          'Grande Sacerdote de AMEN'  em Karnak, 
      o  'Vizir do Baixo Egito'  e
      o  'Filho do Rei de Cuxe'  (= vice-rei da Etiópia) :  este cargo tinha a responsabilidade de mais duas funções :  além do governo do Império Africano,  o comando do exército da África e a exploração das minas de ouro da Núbia.

Tais encargos serviam de aprendizagem e preparação ao príncipe herdeiro  -  uma função demasiadamente pomposa e diplomática.



Vizir Ramose, Governador de Tebas e esposa.
Alto relevo de sua tumba.


Um outro cargo de grande responsabilidade, devendo inspirar respeito imediato e indiscutível, era o de  'tjate' (= homem) :  vizir.

'Inspira medo de ti para que os homens o temam. 
O funcionário real é um funcionário que atemoriza os homens.
O próprio temor ao funcionário é que fará a Justiça'.

O necessário seria uma mescla adequada de simpatia e autoridade.




Sem dúvida o cargo de  'Vizir do Alto Egito' era muito mais importante do que a de seu companheiro, o  'Vizir do Baixo Egito'
Primeiramente, porque essa função estava associada com a do  governador da capital, Tebas.
E, automaticamente, quando Faraó se ausentava para a Ásia ou para o Cuxe, ele se tornava o  primeiro-ministro  ou  'Rabisîr', regendo todo o país.


Recentes descobertas na região de Tebas :  tumbas de nobres egípcios.



O túmulo de  REKHMARA  (nº 100, de Biban-el-Moluk) é o mais completo documento sobre o assunto, pois esclarece seus poderes e deveres.
SETHE e WEILL publicaram duas obras sobre a personagem do vizir, intituladas  "Die Einsetzung des Veziers" e "Die Veziere des Pharaonreiches" -  Strasbourg, 1908.

Um outro oficial fiscalizava os vizires na ausência do rei :

                      'Os Dois Olhos do Rei',  no Baixo Egito  e 
                      'Os Dois Ouvidos do Rei',  no Alto Egito.


'Vigia os escritórios do vizir ; sê atento a tudo que aí se passa.
Toma cuidado para que eles sejam a armadura de todo o país...
O cargo de vizir não é uma coisa suave e sim amarga...
Imagina que ele não tem por única missão respeitar os príncipes e os conselheiros ; que não deve escravizar as populações...
Quando um peticionário chega do Alto ou Baixo Egito...  toma cuidado para que tudo se passe conforme a Lei, que o costume seja observado e que o direito de cada um seja respeitado...
É uma abominação demonstrar parcialidade...
Olha para aquele que conheces da mesma maneira que o que não conheces e o que está próximo do rei do mesmo modo do que está longe.
Pensa bem que o príncipe que se comporta assim permanecerá longamente em seu cargo.'




Os vizires possuíam outros títulos:
'Grão-Sacerdote de AMEN'  ( usado por HAPU-SENEB ),
'Grão-Sacerdote de PTAH em Mênfis'   ( por  PTAH-MOSIS ),
'Conde de Tinis e dos Oásis' , El Karga e Dakhba  ( por REKHMARA )  e
'Senhor Eminente sobre Todos'.



Só o favorito da  HATSCHEPSUT, seu amante  SEN-MUT, colecionou todos estes :

'Príncipe e Conde Hereditário' ,
'Porta-Selos do Reis do Baixo Egito' ,
'Companheiro Único' ,
'Grão-Mordomo de AMEN' ,
'Superintendente dos Campos, dos Jardins, das Vacas, dos Lavradores e dos Servidores de AMEN' ,
'Grande Profeta de MENTOU em Hermontis' ,
'Profeta da Barca Sagrada de AMEN',
'Portavóz do Santuário de GEB' ,
'Chefe da Casa da Coroa Branca' ,
'Interventor da Grande Sala da Casa dos Funcionários',
'Grão-Mordomo do Rei' ,
'Superintendente da Residência Real' ,
'Tutor da Princesa NEFRU-RE' ,
'Tutor-Pai da Princesa NEFRU-RE',
'Interventor de todas as Obras do Rei em Karnak, Hermontis, Deir-el-Bahari, Templo de MENTOU, Karnak e Luxor' ,
'Superintendente dos Superintendentes das Obras'
J.A.WILSON  -  "The Burden on Egypt" ).



O vizir tinha a função de informar diária e diretamente a Faraó, o primeiro magistrado do país, sobre
as contribuições do Egito,
os tributos estrangeiros,
o andamento das obras públicas,
construções de barcos,
condições do Nilo,
armazenamento de provisões,
censo anual dos animais,
confirmar o andamento dos processos dos governadores ; sua responsabilidade, portanto, era enorme.
Tudo era-lhe encaminhado, com excessão do tesouro, cargo do  'Tesoureiro do Rei'.



Um outro encargo de não menor importância era o de  chanceler.
Como  'Diretor dos Seleiros', era o responsável pelo sistema econômico, compra e venda de mantimentos do reino. 
Ele determinava  a taxa, fiscalizava a coleta, controlava as finanças dos templos.
Recebia do vizir o seu relatório diário, para submetê-lo a Faraó.

  




Os nomarcas constituíam a aristocracia provincial.
O nomarca era o líder material e espiritual de sua pequena comarca ou nomo.
Era o administrador, o juiz e o sumo-sacerdote do culto local.
À sua volta uma pequena côrte se movimentava.
Artistas e artesãos preparavam-lhes os túmulos e as estátuas.


Em várias ocasiões esses "barões" do poder prestaram ao Egito relevantes serviços, como no caso do Médio Império :  um pequeno grupo de nomarcas do Alto Egito, iniciaram e terminaram a luta com usurpadores asiáticos.

Sob o Novo Império sempre se mostraram satisfeitos com as guerras de seus senhores tebanos, abolindo o conceito de individualismo político.
Seu ofício sempre foi respeitado até o fim da era dinástica.
Nas cidades governadas por um descendente de príncipes locais, encontramos o  'uohen'  = delegado real ou fiscalizador.


KLAUS  BAER, em seu livro  "Rank and Title in the Old Kingdon", contou em diferentes túmulos das XV e XVI Dinastias mais de 1.800 títulos variados.
Completamos nossa lista com os demais :

'Leitor Sacerdote e Conselheiro dos Comandantes Gerais' ,
'Inspetor do Banho Duplo' ,
'Comandante do Banho' ,
'Porta-Sandálias do Rei' ,
'Único Amigo'  (=  título de HERKUFE) ,
'Tesoureiro do Rei do Baixo Egito' ,
'Guarda das Coisas que Chegam' ,
'Zelador do Tesouro' ,
'Escriba do Rei' ,
'Senhor Secreto da Casa Real' ,
'Senhor Secreto de todas as Palavras do Rei' ,
'Diretor das Roupas Reais' ,
'Servo das Mãos' ,
'Mestre das Oferendas' ,
'Diretor dos Óleos e Unguentos' ,
'Guarda das Perucas Reais' ,
'Diretor Geral do Tesouro' ,
'Copeiro Real' ,
'Principal Artífice do Rei' ,
'Chefe-Escriba de AMEN' ,
'Kher-heb'   (= mestre das cerimônias ) ,
'Inspetor do Harém' ,
'Grande Médico do Rei' ,
'Guardião da Cabeça' ,
'Guardião de Boca' ,
'Supervisor do Celeiro' , e muitos outros.





Os  camareiros e os  mordomos eram os mais chegados a Faraó e o acompanhavam em suas conquistas e excursões.

Os  tesoureiros não eram fiscalizados por ninguém, sendo responsáveis apenas perante o rei.

As inscrições dos túmulos nada atestam sobre atritos entre os departamentos de Estado.


Uma das grandes distrações era o jogar  'senet'  (damas ?)


 

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