segunda-feira, 8 de junho de 2015

A RAINHA e o HARÉM - Jarbas Vilela. / As principais RAINHAS do NILO





"Nunca uma filha do Rei do Egito foi dada a ninguém".
( Carta de recusa de  AMENHOTEP III ao pedido do rei babilônico  KADASHMAN-ELIL ).





Pintura sedutora da tumba de NEFERTARI, jogando  'senet'.




Peças e tabuleiros de  'senet' do faraó  TUTANKHAMEN.



A situação da rainha egípcia era bem definida pelo dogma estatal.

A primeira esposa de Faraó, ou favorita, era a  consorte de um deus, a quem se havia concebido o excepcional privilégio de seu contato físico.

Se ela fosse filha de um faraó antecessor, devia possuir algo da natureza divina por ter sido engendrada de um corpo divino.

A rainha  era a  ÍSIS terrestre.





Assim, o filho mais velho do rei e sua filha mais velha, da mesma esposa, seriam seus herdeiros no trono. 

Acontecia às vezes, devido a mortalidade, de o filho da concubina de Faraó tornar-se o herdeiro do trono, desposando a herdeira real.






A cerimônia de entronização à co-regência e coroação de um príncipe herdeiro era muito pomposa, conforme ilustram os painéis de Deir-El-Bahari. 

Após as purificações preliminares, sucedem-se 6 etapas da mais alta importância :

1º  -  O Faraó, majestosamente sentado sob um pavilhão, tem em seus braços o príncipe que irá associar ao trono, apresentando-o aos grandes dignatários da corte;

2º  -  Depois, o príncipe é beijado pelo Faraó, encarnação de AMEN-RÁ ;

  -  Os arautos e os sacerdotes oficialmente proclamam os nomes do novo rei  :  o nome de trono e o nome pessoal.

  -  Faz-se a reunião dos dois países :  o príncipe entra nos dois  "naos", um do Alto, outro do Baixo Egito  -  aí, dois sacerdotes vestidos e mascarados de  HÓRUS  e  SETH  o coroam com a coroa branca  'hedjet'  do Sul e a coroa vermelha  'deshret'  do Norte, formando o  'paschent'  (= dupla coroa).   [ Mas SETH, porque se tornou mitologicamente inimigo de HÓRUS, é substituído em alguns painéis pela figura de THOT, o escriba ].

5º  -  O novo Faraó faz uma procissão ao redor de uma sala chamada  'Sala do Norte', onde

  -  solenemente apresenta oferendas aos deuses dos dois países, que lhe transferem o fluído mágico das divindades.


Esta cerimônia também se efetuava por ocasião do  'Sed'.






É também à cerimônia da coroação que se liga o episódio da inscrição do nome real sobre as folhas ou frutos de uma árvore sagrada. 

Em teoria, a festa ocorria no templo de Heliópolis, sob o nome de  'Ished'

A cena é representada duas vezes nas Sala Hipostila do Templo de Karnak, no muro norte  (por  SETHI I )  e no muro sul  (por  RAMSÉS II ). 

A representação é uma forma de ligar a vida dos faraós àquela  da  'Ished'  pela incorporação do nome real, que é uma espécie de alma à uma das partes essenciais da planta. 

O fruto sobre o qual  THOT, o escriba divino, escreveu o nome do rei, em um conceito nosso, traz a semente de uma nova árvore divina que o espírito real fará nascer.






Dançarinas  -  pintura da tumba de NEBAMEN



O  REI  PODIA  TER  MUITAS  MULHERES.



RAMSÉS II, por exemplo, uniu-se às 200 mulheres de seu harém, obtendo delas 98 filhos e 69 filhas, desposando-as à medida que cresciam e gerando novos filhos.


Mas a linha pura da semente do deus-sol RÁ tinha de ser a de uma mulher, considerada oficial, que pertencia diretamente à família real. 
Por essa razão, os faraós  desposavam suas irmãs  (com exceções), a fim de assegurar uma estirpe mais divina.





Aos 12 anos atingia-se a puberdade e aos 16, a virilidade oficial.  Não temos notícias sobre casamento entre irmãos, quanto ao resto da população.





Encontramos na história egípcia rainhas notáveis, embora não se conheça bem o seu caráter. 

Sempre partilhavam com seu marido de ter o nome inscrito dentro de um  "cartucho"  [ nome dado pelos franceses às cártulas com os nomes reais, por se assemelharem aos  "cartouches" das balas dos fuzís ].



Os textos templares geralmente cantam louvores às reais senhoras , nestes termos :

'... que viva, floresça e fique jovem por milhares de anos' ;
'... rica de graças amáveis' ;
'... grande pelo seu encanto' ;
'... a bem-amada coroada, dona dos encantos do amor, lábios que falam de mel' ;
' Soberana do amor' ;
' Senhora das Duas Terras' .





"Nos apartamentos das torres da  "Grande Porta"  -  situada perto do templo de Medinet Habu,  RAMSÉS III fez-se representar em suas relações íntimas com suas concubinas"
( H.R.HALL  -  "The Ancient History of the Near East" ).


"As mulheres e ele próprio têm por únicas vestes, uma coifa, um colar e sandálias.  As esbeltas e graciosas criaturas cercam seu amo e jogam com ele  xadrez (?)  e  trazem-lhe às narinas, buquês de flores cheirosas"
( KURT  LANGE  -  "Piramiden, Sphinxe, Pharaonen" ).
Sabemos que o perfume das flores de lótus funcionavam como afrodisíaco.





O espírito internacional, criado pelas expansão asiática do Império Egípcio, criou um novo caráter cosmopolita na corte . 


Houve também um  abandono de alguns princípios relacionados com a sucessão.

Um príncipe, nascido da primeira concubina, teria que desposar a princesa da estirpe real direta para dar validez ao seu direito ao trono. 

Assim aconteceu com  THOTMÓSIS III  que se casou com três princesas de legítima descendência.


Seu neto,  THOTMÉS IV, filho de uma esposa secundária, casou-se com a filha de  ARTATAMA, rei do Mitani e dela nasceu o futuro  AMENHOTEP III, que não era da mais pura estirpe.
Ele herdou de seu pai um Egito com amplas fronteiras e uma riqueza estimada atualmente em 5 trilhões de dólares ( o que o fez o homem mais rico da História

Ele não se preocupou com a pureza de seu sangue, chegando a converter uma  jovem  egípcia plebéia, TIÝ, em sua esposa oficial  e rainha. 


"Diz uma lenda que ela foi passarinheira nos lagos de junco e papiro  e que o faraó a  conheceu ali, durante uma caçada. Tornou-se sua esposa porque era bonita, resoluta e esperta.  Foi amiga íntima de um sumo-sacerdote e, não raro, ia nadar no lago com jovens sacerdotes, em noites de luar"

OTTO NEUBERT  -  "Gost in Goldenen Särgen Tut-Ench-Amun" ).





Estátuas colossais de AMENHETEP III  e TIÝ, no Museu do Cairo.
TIÝ
Museu de Berlim






ALIANÇAS COM PAÍSES VIZINHOS



 Para  consolidar  entre os países, criar alianças duradouras, foi costume dos reis vizinhos  enviarem suas filhas ao harém de Faraó

Conforme H.R.HALL, o rei do Egito julgava-se como deus, acima de todos os demais. 
Portanto, nunca enviou uma filha para desposar nenhum príncipe ou rei amigo.
Seria uma atitude única, sem precedentes, considerada abaixo de sua dignidade.






Do reinado de  AMENHOTEP III  um escaravelho comemorativo, feito em pedra, anuncia : 

' Ano 10 sob o reinado de AMENHOTEP e TIÝ, esposa do grande rei, cujo pai se chama  YUYA  e cuja mãe se chama  TUYA.  Maravilhas trazidas a Sua Majestade  :  GILUKHEPA, filha de  SHUTTAMA, príncipe de  Mitani, e a maior parte do seu harém, 317 mulheres'.


Vemos que a proclamação desses casamentos de Estado em nada prejudicavam a posição da esposa principal.






No final do reinado de AMENHOTEP III um segundo casamento é comemorado  -  o de Faraó  com  TADU-KHEPA, filha de  TUSHRATTA de Mitani

É duvidoso que o rei tenha se casado com ela. 

É mais provável que  TADUKHEPA tenha ingressado no harém do príncipe  AMENHOTEP, co-regente e herdeiro do trono.





Outro exemplo de casamento entre Faraó e uma princesa estrangeira : 

'A filha do grande príncipe de Hatti  (= hitita) marchou ao Egito acompanhada de infantaria e carros de Hatti, ouro, prata, cavalos, vacas e ovelhas, aos dezenas de milhares, sem limite para o rei'.



Pintura mural da lindíssima NEFERTARI, com traje de linho e coroa de plumas.
O texto hieroglífico diz :
"Palavras ditas pela Osíris Grande Rainha NEFERTARIMI-EN-MUT, a justificada".


E um texto do Templo de Abu-Simbel, que RAMSÉS II ergueu exclusivamente para ela, conclui :  
'... assim foi adorada em seu coração e a amou mais que todas as coisas.  Sua Majestade achou seu rosto belo como o de uma deusa'. 


Seu nome  ?

MAIT NEFRURE NEFERTARIMI-EN-MUT, ou, simplesmente,  NEFERTARI  :  filha do rei hitita  KHATTUSIL.



NEFERTARI com a coroa de plumas, segurando um sistro hatórico.
Fachada do Templo de Nefertari em Abu Simbel.











... na tumba de NEFERTARI.
Vale das Rainhas, Tebas.









 "CASA  DAS  MULHERES"

como era chamado o harém, podia abrigar mais de 200 moças.

Era dividido em salas, banheiros, repuxos, salas de música, jogos, danças e outras repartições para partos, tratamento de crianças e doentes. 
"Envoltas no mais fino linho, dotadas de jóias, comida e bebida, passavam o tempo a praticar o canto e a dança, nuas, aguardando a hora em que o faraó passaria com elas " ( OTTO NEUBERT  -  obra citada).


Porém, repetindo, a dignidade da esposa principal sempre era superior a da concubina.



Musicistas  -  pintura mural da tumba de  NEBAMEN


Os  eunucos, desde pequenos eram educados em sua profissão de guarda do harém , pelos sacerdotes.





Um papiro  da XIX Dinastia  fala de uma  conspiração no harém  de  RAMSÉS III,   que lhe custou a vida.  
Isso ocorreu no 35º ano de seu reinado.

Mesmo depois de morto, segundo o memorando, na forma de OSÍRIS, ele constituiu um tribunal encarregando-o de examinar o caso e aplicar os castigos pertinentes.

A concubina TI queria apoderar-se do trono para seu filho.

Vários funcionários foram envolvidos, por tomarem parte ativa na rebelião e por haverem ocultado seu conhecimento do crime. 

PEN-TA-WERET era o nome do príncipe implicado. 
Ele foi sentenciado a tirar a própria vida e perdeu o direito de ser embalsamado.

 Todos os envolvidos foram castigados por traição.




No Museu do Cairo ...









Painéis no Templo de Medinet Habu  ( RAMSÉS III ) mostram cenas intrigantes para o pesquisador :  os egípcios vencendo batalhas navais contra povos dos mares do norte da Europa, reconhecidos por seus elmos chifrudos e ataques a caravanas desses povos.

"Mencione-se ainda a espada nórdica de punho em forma de língua, encontrada em grande número no Egito e Oriente.  O que o pesquisador alemão Pastor  JÜRGEN SPANUTH , em seu livro  'Das Em Trätsette Atlantis' (A Atlântida Decifrada), já havia sido reconhecido 25 anos antes pelo egiptólogo  Prof. BREASTED.  E como deve ter havido relações comerciais entre os egípcios e os povos nórdicos é bem possível que dessem lugar a misturas entre os dois povos"
(  OTTO NEUBERT  -  "Gott in Goldenen Särgen Tut-Ench").




Isto mencionamos porque certamente algum de nossos leitores já ouviu falar sobre uma  rainha ruiva do Egito.

Existe inclusive a lenda de que uma germânica loira foi rainha do Egito.


Bem, na VI Dinastia falava-se que uma cortesã ruiva governou o país no fim da IV Dinastia  -  o que pareceria uma ficção romântica se a legenda não tivesse fundamento :

" A tumba de uma rainha da IV Dinastia demonstra que  HETEP-HIRES II, filha de KHUFÚ  (= QUÉOPS), tinha os cabelos ruivos.  As cores que se conservam nas paredes da tumba representam seu cabelo de cor amarela, com finas linhas vermelhas, em contraste com o negro convencionalmente utilizado no resto da tumba e nas demais do cemitério de Gizeh"
(  JOHN A. WILSON  -  "The Burden of Egypt" ).

Seria ela, portanto, a lendária rainha ?


Peruca egípcia com cabelos loiros ...

















Eis os nomes
das mais destacadas 
RAINHAS do NILO  :







HETEPHERES,
mulher de  SNEFRU, fundador da IV Dinastia, mãe de KHUFÚ ;

KAHEMERHEBTI  II,
mulher de MENKAURA (= Miquerinos), tem uma pirâmide erguida em Gizé, próxima à de seu marido.  IV Dinastia.

KENTKAUS,
rainha da IV Dinastia que construiu para si uma mástaba faraônica para si em Gizé.

NOFRET,
mulher de SENUSERT II, da XII Dinastia ;

SHEBEKENSAF,
mulher de ANTEF, da XIII Dinastia ;

HATSCHEPSUT ,
'a melhor das mulheres nobres' , casada com seu irmão menor THOTMÉS III, que assenhoreou-se do trono  -  depois que o marido entrou para o sacerdócio de AMEN, continuou a reinar por 20 anos, tomando para si títulos e atributos masculinos  :  fez-se  'faraó'.




Estátua masculinizada da rainha HATSCHEPSUT



MUTEMUIA,
mulher de TUTMÉS IV, da XVIII Dinastia.


TIY,
mulher de AMENHETEP III, mãe de AKHENÁTEN, foi homenageada com a construção de um lago artificial para recreios e para navegar na sua barca  'Explendor de Áten'.
Ao contrário de suas predecessoras, TIY não era de linhagem real e nunca escondeu sua origem nobre, procedente da cidade de Akhmin  (Ajmin).




NEFERTITE,
filha do rei TUSHRATA, do Reino de Mitani, tornou-se mulher de AKHENÁTEN. Foi uma grande líder da revolução Amarniana.


Busto de NEFERTITE  -  Museu de Berlim






ANKHSENAMEN,
filha de NEFERTITE e AKHENÁTEN, mulher de TUTANKHAMEN, da XVIII Dinastia.






NEFERTARI,
mulher de RAMSÉS II, da XIX Dinastia.
Filha de Khattusil, rei dos Hititas, que foi 'presenteada' ao faraó, após assinatura de um tratado de paz entre os dois reinos.








KAROMANA,
mulher de TAKELOTI, da XXII Dinastia.

NITAKRIT,
mulher de PSAMÉTICO, da XXVI Dinastia Saíta. 

CLEÓPATRA VII,
última rainha Lágida, casada com JÚLIO CÉSAR, ditador romano e, depois, amante de MARCO ANTONIO. Preferiu suicidar-se a se entregar a  AUGUSTO e desfilar em Roma entre os despojos de guerra.





Língua egípcia  -  sátira
 [ introdução do desenho animado "Asterix e Cleópatra" ]




E.TAYLOR no papel de CLEÓPATRA.
Filme da Fox.









CLEÓPATRA  :
-  nome de rainha egípcia usada num hotel "classe A" do Cairo ;
-  nome de um "hydrofoil" que percorre  o Nilo de Assuã a Abu-Simbel.
-  nome de uma rua  do bairro de Heliópolis  (Cairo) ;
-  nome de uma igreja copta ortodoxa (Cairo).





E SE NEFERTITE ESTIVER NA TUMBA DE TUTANKHAMEN ?

http://brasil.elpais.com/brasil/2015/08/12/cultura/1439374733_541434.html



Descobriram os restos de Nefertari

http://www.msn.com/pt-br/noticias/ciencia-e-tecnologia/encontrados-os-restos-da-rainha-eg%c3%adpcia-nefertari/ar-BBxrHdZ?li=AAggXC1



A MÚMIA QUE GRITA

https://www.youtube.com/watch?v=1aVic3Y4hkg





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