sábado, 13 de junho de 2015

COMO SE DIVERTIAM NO ANTIGO EGITO - Jarbas Vilela.



'Vive este dia em alegria
 e não te canses destes prazeres ,
 pois ninguém poderá levar o que gosta
 e os que vão não voltam mais.
 Celebra, portanto, a alegria deste dia !'
 (  Tumba do sacerdote  NEFERHOTEP  -  Tebas )





Cenas de caçada de um painel mural egípcio..






'MERKEBET'







Os egípcios antigos tornaram-se  "ardentes entusiastas dos carros puxados por cavalos".
'merkebet' , como eles chamavam à biga, foi introduzido no Egito pelos hiksos.

Contudo, o cavalo não era desconhecido pelos egípcios antes dessa conquista, pois na  Fortaleza de Buhen, na Núbia,  WALTER  B. EMERY encontrou em 1959, num bastião, o esqueleto de um cavalo de data anterior a 1.750 aC..


Eis os próprios egípcios narrando suas aventuras e façanhas, que ao mesmo tempo serviam de desportos :

'Então Sua Majestade, vigoroso como o deus MENTOU, subiu em um carro. 
Tomou o seu arco e colocou nele quatro flechas a um só tempo.  Depois, correu em seu carro até o norte e as disparou. 
Elas transpassaram o alvo de cobre asiático, de três polegadas de espessura  ( 8 cm.) e caíram do outro lado. 
Nunca se viu proeza anterior, nem se ouviu falar'
(  Pedra comemorativa de AMENHOTEP II perto da Esfinge de Gizé ).


'Sabia todas as artes de  MENTOU  ( deus da guerra )  e tinha braços poderosos e quando os domava jamais se cansava. 
Amava seus cavalos e se deleitava com eles ;  era perseverante em exercitá-los.
Quando tomava as rédeas não se cansava'
(  Texto sobre  THOTMÉS IV ).



Numa das tumbas tebanas aparece o nobre  MIN  recebendo instruções do  príncipe  AMEN-HOTEP  :
'Põe o arco na altura das orelhas' !
O texto intitula-se 
'Gostando de aprender a disparar na Grande Sala do faraó, em Tinis, pelo príncipe  AMEN-HOTEP'.


 

CAÇADA  A  ANIMAIS  FEROZES



Houve um breve período de glorificação do desportista e do atleta.
A moda teve inicio com  THOTMÉS III  que narra ter caçado 120 elefantes no Norte da Síria, matando 7 leões com o arco, capturado uma manada de 12 touros selvagens em uma hora e como atirou uma flecha que atravessou o alvo de cobre de 2 polegadas ( =5 cm.) de espessura, tendo saído 9 polegadas (= 24 cm.) do outro lado.
A prova do estupendo recorde de pontaria foi depositada no Templo de AMEN  : 
'Digo a verdade do que fiz, sem mentira, diante de todo o exército'.
 
Os faraós sempre demonstraram um gosto especial para a caça aos leões,
cervos,
órix,
touros selvagens, etc.


THOTMÉS IV  também relata haver caçado  102 leões nos 10 primeiros anos de seu reinado.

Uma das arcas de TUTANKHAMEN  representa-o perseguindo e matando leões atemorizados.

SETHI  I, com a ajuda de seu arco e seu cão,  desce do  'merkebet' e pega um leão à mão.


Essas façanhas, sem dúvida, encorajavam os subalternos reais.
Numa caçada aos elefantes na Planície de Nii  (= Kefr-Naya), à Oeste de Alepo, após a 8ª campanha do faraó,  AMENENHEB distinguiu-se decepando a tromba do maior de todos,  'que lutava contra Sua Majestade'.


A captura ou abate de
gazelas,
antílopes e
avestruzes era mais aristocrática e não se esquecia de comemorar a vitória do rei sobre os leões, crocodilos ou hipopótamos, confeccionando-se uma estela e depositando-a no templo.


Grande importância se dava à captura de hipopótamos.
O caçador navegava numa canoa de papiro e atacava o grande animal com um arpão farpado, cuja ponta se destacava da haste quando atingido o alvo.  A ponta era presa a uma corda, pela qual a vítima era arrastada da água quando se esgotavam suas forças.
Esse esporte era praticado em grupo/equipe, embora frequentemente o nobre seja representado agindo sozinho no mural da sua tumba.




LUTAS



As  lutas entre soldados , ou entre os soldados e escravos, era raramente apreciada.
Contudo, do Século XIX aC. foram encontrados vários aspectos delas em numerosas pinturas murais, especialmente em  Beni Hassan  e  Deir-el-Barsha.




PESCARIAS  




NEBAMEN, esposa, filha e seu gato de estimação, nos pântanos de papiros, caçando aves com um bumerangue :
  uma diversão familiar.


Costumavam  pescar , capturar   'iun'  (= aves que frequentavam os caniços)  e os patos  chamados  'ro'  'terp'.

Para pescar havia redes grandes e pequenas, sendo as grandes lançadas e controladas por muitos homens.
As menores, entretanto, eram lançadas por um só homem ou fixadas a estacas e mergulhadas na água.

O botirão já era conhecido. 
Com a isca no seu interior, era mergulhado e levantado quando cheio.
O anzol preso à linha era puramente esportivo, enquanto a pesca com o harpão era passatempo dos aristocratas.


A armadilha para pássaros era outro esporte concorrido.
Uma rede de formato especial era estendida no solo, presa a uma corda.
Sobre ela espalhavam sementes.
Quando os pássaros se juntavam sobre a rede e começavam a comê-las, o caçador dava um sinal para que a corda fosse violentamente puxada, prendendo as aves.


Muitas vezes os animais eram apanhados vivos, para domesticar, reproduzir ou engordar, através de armadilhas ou laços.




CÃES  E  GATOS



Duas espécies de  cães geralmente acompanhavam nas caçadas :  os  'slugis' , com a cauda em forma de trombeta, galgo de longas pernas, focinho comprido, orelhas grandes ;  e os  'khetket' , de pequeno tamanho. 
Os  'slugis' eram cães respeitados por serem consagrados ao deus ANÚBIS, o guardião do repouso eterno.
Esses cães já tinham recebido treinamentos para perseguir, atacar e pegar a presa.

Eles punham nomes nos animais :
"O rei  ANTEF  possuía um cachorro de estimação chamado  'Behika'  (= palavra de origem berbere designando órix)  e um outro cão da I Dinastia  chamou-se  'Neb' (= senhor)".



Além do cão, o  'mîu'  ( gato ) gozava de proteção divina e segundo  J.M.WHITE foi considerado um animal selvagem até o fim do Antigo Império.

"Os gatos mortos são levados para mansões sagradas e, depois de embalsamados, enterrados em Bubaste"
HERÓDOTO  -  "História" - II,LXVII ).

O mesmo acontecia com os cinocéfalos, os cachorros , os falcões e as íbis.




BONECAS  E  'SENET'



As crianças de divertiam com jogos de infância e  brincavam com bonecas.


Jogos mais sérios, como o  'senet'  (=jogo de damas ?) era preferido pelos adolescentes e adultos.





ANÕES  E  PIGMEUS



animavam qualquer festa :
"HERKUFE era um príncipe de Assuã que comandou muitas expedições à Núbia, de uma das quais voltou com um  'deneg'  (= anão), presente tão apreciado pelo rei menino   ( PEPI I )  que este mandou um pergaminho especial ao viajante que regressava, recomendando-lhe que mantivesse cuidadosa vigilância sobre o precioso anão, e visse que este não caísse na água durante a viagem pelo rio... e se ele o trouxesse são e salvo à corte,  HERKUFE  seria muito mais honrado mesmo que  BAUR-DAD  o fora, por ter trazido  a  ASESA, um anão semelhante"
( H.R.HALL  -  "The Ancient History of the Near East" ).





MÚSICA

  
O egípcio muito apreciava a  música  e todas as suas atividades eram acompanhadas por cantos, melodias e instrumentos.
"Dançarinas  muitas vezes selecionadas do harém do nobre anfitrião, alternavam danças voluptuosas e eróticas com proezas acrobáticas :  piruletas, cambalhotas, contorções e saltos mortais "
LION CASSON  -  "Ancient Egypt" - N.York, 1969 ).





Os  instrumentos que acompanhavam as canções, as festas e as cerimônias religiosas e fúnebres, são
dois tipos de harpa  (uma grande e outra portátil  - "trígono"), afinadas por meio de cavilhas,
o alaúde de  2 ou 4 cordas,
a cítara,
a flauta  "oboé"!,
a flauta longa   ( 'caibit' )  ou dupla ( 'nnait' ), com bocais de marfim,
tombetas de cobre ou bronze,
tambores,
tamborins,
badalos,
sistros
e a sineta  'nemat'.





O volume 1 : Arte Antiga -  da "Enciclopédia da Civilização e da Arte", Livraria Martins Editora,  fala de um tipo de órgão hidráulico que só apareceu no Século II aC., em Alexandria, inventado por  CTESÍBIO.



Homens e mulheres compunham a orquestra, onde as palmas faziam um efeito sonoro agradável.


Quanto à música propriamente dita, os egípcios não deixaram nenhum símbolo nos afrescos de seus túmulos. 
Não há registros de uma partitura ou letra de música.

É provável que se baseassem na escala pentatônica.




A maioria dos instrumentos foram  trazidos das mástabas e da necrópole tebana para as vitrinas dos museus :


Instrumentos de percussão :

crotalo  =  consistiam em duas lâminas de madeira ou osso, ligadas parcialmente. Batia-se uma contra a outra, às vezes aos pares - isto é, um crotalo em cada mão. Para fins militares  o crotalo era de metal.

sistro  =  do grego "seistron" (coisas sacudidas), constituindo 2 ou 3 varas dispostas horizontalmente, entre as aberturas de um quadrado de madeira, fixas ; ao logo das varas corriam anéis de metal ; agitando-se o instrumento os anéis tilintavam. Usado principalmente nos cultos de HÁTHOR e ÍSIS, para expulsão dos maus espíritos.  Os sistros de madeira ou porcelana chamavam-se ''sakham' ; os de metal chamavam-se 'sauchit'.

tambores  =  de madeira ou barro cozido, de diversas formas e tamanhos.



Instrumentos de sopro 
(preferido pelas mulheres ) :


'saibit'  =  flauta simples [ com ou sem palhetas].

'mait'  =  flauta dupla  [ com ou sem palhetas ].

'neme'  =  flauta horizontal  [ tocada de frente ].

'sebi'  =  flauta transversal



Instrumentos de cordas :
 

cítara  =  de origem assíria ; sobre uma armação estendem-se duas séries de cordas ( 5 a 8 ) tangidas por plectro.

harpa  =  originária da Suméria, onde já existia em 3.000 aC.. Podia ter diversas formas ; as pequenas, com 3 ou 4 cordas ; as grandes, com 8 a 20 cordas.

trígono  =  harpa portátil, de poucas  cordas.






 


Alguns compositores modernos, utilizando tais instrumentos, tentam recriar alguns sons e ritmos que possivelmente um egípcio antigo ouviria nos templos, nas procissões sagradas ou nas festas e banquetes.
Algo mais ou menos assim :




Além destes, outros compositores compõem belíssimos efeitos orquestrais para as grandes produções cinematográficas, envolvendo os espectadores em atmosferas místicas, épicas, de romances, de guerra ou aventuras mitológicas.









AS 
 TROMBETAS  DE  TUTANKHAMEN




Já ouvimos e lemos muitos comentários sobre a famosa  "Praga do Faraó", surgida com os surpreendentes e casuais acontecimentos  relacionados com a descoberta da tumba de TUTANKHAMEN.

Os místicos vaticinam que ao redor dos túmulos 
"há uma espécie de gênios que foram capturados por antigos sumo-sacerdotes egípcios e aprisionados nesses lugares para guardarem certos segredos.   Ainda hoje eles defendem essas localidades ocultas, impedindo a intrusão e lançando feitiço a qualquer um, caso aí penetre"
PAUL  BRUNTON  -  "L'Egypte Secrète" ).

















Sobre essa  "praga ou maldição", seja qual for a opinião do (a) leitor(a), acrescente isto : 

"Num certo dia de agosto, em 1939  - conta  CARMEN DIAS PRUDENTE  em  "E o Nilo Continua"  -  resolveram experimentar, na Rádio Egito,  as  trombetas de bronze de 'Sua Majestade' , para verificarem se elas ainda tocavam; ... um som cristalino vibrou no ar e milhares de pessoas ouviram o soar das adormecidas trombetas de TUTANKHAMEN.
Foi um sucesso extraordinário ... e no dia seguinte, imaginem, a coincidência, estourava a 2ª Guerra Mundial !"







Com as recentes pilhagens ao Museu do Cairo, durante os levantes ocorridos no Egito, as trombetas do faraó também foram roubadas junto com outros objetos tão importantes.

Diante desse fato, a  BBC de Londres procurou em seus arquivos essa gravação feita em 1939 e resolveu novamente irradiá-la, com autorização do Serviço de Antiguidades.

As trombetas foram encontradas numa sacola deixada dentro do Metrô do Cairo e devolvidas ao Museu.




Ouça, agora, o som das trombetas que o próprio faraó ouvia ... há 1.352 anos antes de Cristo.
Isto é extraordinário !!!





 










 

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