terça-feira, 26 de maio de 2015

OS 'TRATADOS' MÉDICOS DOS EGÍPCIOS - Mário Donato



in    CONQUISTAS HUMANAS -  SAÚDE.  Donato Ed.Ltda.









A arte de curar mais antiga que se conhece é a do velho Egito e os seus métodos e receitas são, mais ou menos, os mesmos durante um período compreendido entre  3.500 a 1.000 anos antes da nossa era.








Diziam os egípcios que sua ciência fora criada lá pelo ano 1.800 aC., por  THOT, durante o seu reinado de 3.000 anos.

Pelos rolos de papiros aprendemos  que  usavam
receitas,
fórmulas mágicas,
praticavam a cirurgia
e já tinham uma concepção mais ou menos formada do corpo humano e do funcionamento de suas partes componentes.




Se compreendermos como eram aqueles tempos, não chegaremos a rir da sua Medicina  nem das suas concepções.






Do ponto de vista da transmissão de conhecimentos, o mundo estava apenas nascendo. 

Não havia higiene, esgotos, água encanada mas, ao contrário, detritos e lixos eram abandonados por toda parte, provocando mau cheiro e ensejando doenças que se prolongavam através dos animais.

Ninguém ainda supusera que havia uma estreita ligação entre a falta de higiene e a falta de saúde.

Bebia-se água contaminada e comiam-se animais infectados.
Não se sabia da existência de micróbios, nem por que as feridas infeccionavam, nem a causa das pestes que dizimavam milhares e milhares de criaturas.










Era princípio fundamental  da crença dos egípcios que os corpos continham um  "duplo"  ou  , que não morria quando cessava a respiração:  era o  , para eles, o que hoje é a  "alma" para nós.

O dito  ká sobreviveria de forma completa  se o corpo fôsse preservado da fome, das feridas e da dissolução da morte.  

Porisso,  embalsamavam os defuntos e nos seus túmulos colocavam comida e água  (até vinho e cerveja).

Sabe-se que em alguns sepulcros havia laboratórios para a alma... e certo  texto funerário exprime o receio de que, por falta de comida, o  ká  fôsse obrigado a alimentar-se de seus próprios excrementos !








Os homens  ficavam doentes porque um deus ou um demônio tinha entrado neles para levá-los à morte. 

Não se pensava em  remédios para curar os doentes, mas sim em  chamar um sacerdote, que deveria conhecer a  oração mais adequada para o caso.

Se não, é porque os deuses não queriam. 
E o caso estava encerrado.








Mais tarde, porém, os  "médicos" ou mesmo os sacerdotes começaram a usar tratamentos duplos, nos quais as  orações eram acompanhadas de poções, pomadas, colírios.

Um dos papiros registra que para  curar uma queimadura, convinha recitar uma oração a HÓRUS e ao mesmo tempo passar um pouco de leite humano sobre a parte afetada. 

O leite deveria ser de uma senhora que tivesse dado à luz um menino ; se fôsse menina, não servia.









É natural que por muito tempo os  "médicos"  tanto quanto os doentes acreditassem mais nas orações, que eram tradicionais, do que na aplicação do leite, invenção mais recente.

Mas pode ter acontecido que, um dia, tenha faltado o leite adequado ou qualquer outro medicamento, ou então o mágico não viesse para recitar a fórmula, ou ainda que o próprio doente recitasse a oração, ou mesmo não o recitasse por tê-la esquecido, e, apesar de tudo, o remédio deu resultado.

Alguém repetiu a experiência e deu certo.
Enfim, verificou-se que  não a reza, mas o remédio era o que curava.






Isso explica que, com o passar dos tempos, os  "médicos"  já não fossem sacerdotes, nem mágicos. 

Eles se especializaram , passaram a curar apenas através de medicamentos, embora crendo que  muitos remédios tinham  origem divina.

Entretanto, nunca aboliram a idéia tradicional e papiros mais chegados a nós dizem que os  doentes picados por escorpião, só poderiam curar-se através de preces a  ÍSIS e a  THOT...







Os ensinamentos eram transmitidos como um segredo de família.
Sabe-se vagamente de um médico que fazia  clínica geral, como em nossos dias, mas a regra era que os médicos se especializassem no tratamento de  uma doença apenas.





Prótese de madeira de um dedão do pé de uma múmia egípcia.


O  papiro  EDWIN SMITH ,
trepanação,
prótese.










Os egípcios e os órgãos internos





A respeito do coração , o consideravam o órgão mais importante do corpo humano.  Achavam que o músculo cardíaco  "falava" através do corpo, uma vez que pelo tato se podia perceber a sua palpitação em vários pontos, mas nunca chegaram a contá-las.




Os vasos  eram ocos e funcionavam como condutores de  ar, resíduos e líquidos, entre os quais o sangue.  O ar penetrava pelo nariz, ia ao pulmão e ao coração e por meio deste órgão se distribuía pelo corpo.




O pulmão correspondia a todos os aparelhos do sistema respiratório, como a  laringe, brônquios, bronquíolos e lóbulosa pulmonares.  As  afecções desses órgãos eram confundidas numa só, da qual o único sintoma era a  tosse.





Os egípcios conheciam as  inalações
Um dos papiros ensina como tratar do  estômago, misturando moléstias gástricas  com as do fígado, a coriza, a tosse, a angina pectoris e o diabetes.





Uma das moléstias que mais ocupava os médicos era a  prisão de ventre.  Um dos principais remédios, para sua cura, é o  óleo de rícino,  em forma de sementes, que devriam ser mastigadas e engulidas com cerveja.
Para as  lombrigas  tênia, receitavam azeites de muitas espécies.





Confundiam o fígado com o  estômago, recomendando o  figo para a cura da icterícia.





calvície era muito comum.
Friccionavam casca de  rícino e gorduras de leão, hipopótamo, crocodilo, etc.





Para as dores de cabeça receitavam  fricções e ataduras
Conheciam a enxaqueca, a coriza e os espirros.





Os egípcios davam grande importância às orelhas, pois julgavam que o  sopro da vida  entrava pela direita e o  sopro da morte, pela esquerda.
Não se referiram à surdez.





Os  dentes  cariados eram  obturados com massa de pedra, mel e resina.  Outros eram  postiços, ligados por fios de ouro.
Nas épocas recentes, os dentistas faziam extrações dentárias a ferro e sem dor, aplicando sobre a raíz e gengivas,  analgésicos vegetais.









Dentre as doenças que assolavam o Egito,  as  oftalmias figuravam como pragas.  Combatiam com  gorduras animais, bílis de certo pássaro raro e  bílis de tartaruga.  Chamavam  "subida de água para os olhos"  à  catarata, mas não sabiam tratá-la.








A farmacopéia egípcia era esquisita e repulsiva.
Receitavam-se excrementos humanos, de pelicano, de crocodilo, urina, sujeira de mosca  ( para a calvície ), sangue de burro, de porco, de lagarto, bílis de animais.

O uso de sucos vegetais revela que os médicos já palmilhavam o caminho certo. 







Os deslocamentos do maxilar eram tratados através de uma operação simples, praticada com as mãos, encaixando o órgão no lugar.  Depois disso prescreviam uma atadura com mel e um mineral desconhecido, o  "imru", que talvez agisse como desinfetante.





No caso de  fraturas dos membros, usavam talas de madeira recobertas de tecido.  Acredita-se que tenham inventado a  cauterização pois um papiro fala de uma lanceta aquecida ao fogo.

Enquanto procuravam curar, juntavam e transmitiam conhecimentos que foram mais tarde assimilados, selecionados e racionalizados pelos gregos.






Foram os egípcios que mais contribuíram para o progresso da Medicina.


  

  







Palestra dos irmãos Vilela
in
"Mumificação e Medicina no Antigo Egito"  -  Revista Paulista de Medicina, maio-junho,77  /  vol. 89  /  nº 5-6  /  págs. 115-124.  ( Ilustrações de Eduardo Vilela )








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Assista o filme da 20th Century Fox  -  "O  EGÍPCIO"   -  ele conta a história de um médico chamado  SINUHE,  que viveu na época da revolução amarniense.  O filme é baseado na obra do escritor  Mika Waltari.

 
 
 
 









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