COMPREENDER A HISTÓRIA É PREPARAR-SE
PARA COMPREENDER O MUNDO.
NENHUM POVO PODE VIVER SEM MEMÓRIA.
A HISTÓRIA É A MEMÓRIA DOS POVOS.
Com o desenvolvimento da METODOLOGIA, no Século XIX, a HISTÓRIA passou a ser considerada uma CIÊNCIA, como resultado de uma série de debates entre pensadores franceses, romenos e ingleses.
As Ciências estão vinculadas a explicações do Universo e esclarecem como os fatos, as coisas, vão se descrevendo, vão acontecendo.
Toda Ciência tem uma área de estudo própria, a que se dá o nome de campo fenomênico (= fenomênico é tudo quanto pode impressionar os sentidos ).
Os fenômenos aparentemente são iguais ; entretanto há sempre uma diferenciação básica.
Os fenômenos aparentemente são iguais ; entretanto há sempre uma diferenciação básica.
O campo fenomênico da História são todos os fatos que exerceram influencia na evolução da humanidade.
O historiador e o sociólogo se ocupam da mesma sociedade, mas seus métodos se diferem.
Cada qual despreza certos aspectos.
Estudada pelo historiador e pelo sociólogo, a REVOLUÇÃO FRANCESA é abordada por ângulos muitíssimo diferentes, segundo o campo de cada uma dessas Ciências.
Para compreendermos o nosso estudo é preciso que nos detenhamos sobre um tipo de fenômeno, chamado fato histórico.
Ele acontece e nós o vemos, o descrevemos.
Todo conhecimento é sucetível de História : nós podemos explicar o desenvolvimento da Física, da Matemática, da Medicina, enquanto estas, nos seus campos fenomênicos, não são História.
Na HISTÓRIA temos fatos humanos ( como as Cruzadas, a expedição de Fernão Cortez, a Guerra de Tróia...) e fatos materiais ( como o terremoto da Nicarágua, a erupção do Vesúvio, as inundações do Nilo... ).
O fato só é histórico quando contribui para explicar ocorrência posterior. Por exemplo : a existência de NAPOLEÃO explica o fenômeno do Império Francês - ele serviu de base para que ocorresse.
Delacroix - Napoleão. |
ALEXANDRE XÉNOPOL
( A. Dimitrius Xénopol - "Teoria de la historia". Trad. espanhola de Domingo Vaca. Jorro, Madrid, 1911, XV ) tenta definir o fato histórico como :
a) singular, único - porque é situado no tempo e no espaço (tem uma localização espácio-temporal).
b) sucessivo - porque pode ser repetido. Nem todos os fatos se dão por sucessão ; o fato físico dá-se num momento e podemos reportá-lo no momento seguinte.
Pela gravidade, um corpo abandonado no espaço tende sempre a cair. Mas, e a morte de CLEÓPATRA ? Quando a maçã caiu da árvore, EVA criou a lei da gravidez e NEWTON, a da gravidade...
c) tem projeção social - Exemplo : toda a Europa e o mundo viveu em expectativa de HITLER. Essa projeção se faz por imitação voluntária, consciente ou pela coação.
O nazismo, desenvolvido por etnólogos, na França, foi importado para a Alemanha.
d) deve ter provocado consequências espirituais ( culturais). Exemplo : a imigração fenícia permitiu-lhes o surto da escrita alfabética.
SEIGNOBOS
(Ch. Seignobos - "El método histórico aplicado a las ciencias ". Trad. espanhola de Domingo Vaca. Jorro Ed., Madrid, 1923) explica o fato histórico como um fato do passado, sempre datado e vinculado a uma cadeia de causas e consequentes.
Sua apreensão é retrospectiva (do presente para o passado), embora o fenômeno histórico seja prospectivo e inacabado.
Várias são as definições que os pensadores dão à História :
CÍCERO sabiamente denominou de "magistral vitae" (= mestra da vida) ;
"História é a ciência dos atos humanos do passado e dos vários fatores que neles influenciaram, vistos de sua secessão temporal" - BESSELAAR ( Jose Van den Besselaar - "Intodução aos Estudos Históricos". 3ª ed. Herder, S.Paulo, 1970).
"História é o conhecimento do passado humano: ações, pensamentos, sentimentos, criações materiais 0u espirituais das sociedades e das civilizações - obras através das quais atingimos os seus criadores. É o conhecimento do passado do homem enquanto um fato no tempo - do homem já tornado homem" - MARROU.
Para nós conhecermos o passado é preciso buscar traços dos fatos naquilo que permita reconstituir a vida histórica: a fonte.
"Consideram-se fontes históricas tudo o que chegou até nós como efeito cognoscível dos fatos : a múmia numa câmara sepulcral, os utensílios, os móveis, vestidos, armas..." - BAUER (Wilhelm Bauer - "Introdución al estúdio de la historia". Trad. Luis G.de Valdeavelhano , 3ª ed. Bosch, Barcelona, 1957).
O último fim de uma investigação não se encontra em que só o descobridor do monumento o veja, mas em que seu resultado se guarde e se conserve o melhor possível em um museu, num arquivo ou de qualquer outra forma, tornando-o acessível a outros investigadores.
Assim, no decorrer das buscas, um arqueólogo trabalha ao lado dos seus operários, manejando a pá e a picareta, sempre alerta a qualquer imprudência que possa ser cometida.
Isto é aplicável a todas as fontes, quer sejam escritas ou plásticas - menos a oral, é lógico.
"Em buscas científicas, a primeira e a mais importante das regras é a do arqueólogo, em pessoa, trazer à superfície cada achado. Um produto de conservação (como a cera de parafina), pode ajudar a preservar utensílios que ao menor contato se transformariam em poeira.
Logo que um objeto é descoberto, deve-se desenhá-lo com todos os detalhes, fotografá-lo e restaurá-lo. Quando se trata de rolos de papiros, deve-se envolve-los com panos úmidos e deixa-los assim algumas horas : isto possibilitará desenrolá-los cuidadosamente e estendê-los numa placa de vidro.
Cada descoberta é uma prenda do passado ao presente ; o arqueólogo é simplesmente um intermediário" - GRIMBERG (Carl Grimberg - "História Universal". Trad. Jorge de Macedo, Publ.Europa-América, Lisboa, 1965, I).
Em se tratando de um documento escrito, deve-se desenhá-lo precisamente, determinar sua idade, o lugar de sua origem e as circunstâncias pelas quais chegou ao seu paradeiro atual.
Cumbe aos domínios técnicos da Arquivística, Biblioteconomia, e Museística a sua conservação.
Toda a problemática da verdade histórica está na investigação, na compreensão e na exploração dos documentos e monumentos.
Estas palavras "documento" e "monumento", num sentido amplo, têm o mesmo sentido de fonte histórica ; num sentido restrito, possuem conceitos próprios.
Os monumentos podem ser móveis (pinturas, esculturas, utensílios, mobiliários, etc.) ou imóveis (fixados ao chão : edifícios, murais, lápides, etc.).
Os relatos são fontes ou de primeira mão (se a pessoa viu o fato, presenciou-o ou descreveu-o através do depoimento de pessoas que o viram ), ou de segunda mão ( quando o fato não é observado pela própria pessoa; quando não se pode interrogar as testemunhas primitivas; quando não se pode testar nenhum sobrevivente ).
O relato de segunda mão não oferece garantias.
Ao levantamento e identificação das fontes dá-se o nome de heurística. Há diversas maneiras de classificar as fontes. A que demonstramos à seguir é uma modesta tentativa.
A fonte pode ser :
I - Oral - Quando o relato é oral ou conservado na memória. Merece crédito restrito, pois pode conter alterações de conteúdo. Pode se referir a fatos, concepções e costumes. Exemplos :
anedotas,
mitos,
fábulas,
lendas,
sagas,
provérbios,
canções,
narrações,
discursos.
II - Escrita - quando a tradição oral for registrada, alcança um crédito maior, bem como as fontes transmitidas por escrito ou impressas.
As fontes escritas podem ser referentes :
a) à vida prática : fábulas, receitas, escritos econômicos (contas, inventários), calendários, livros de viagem, itinerários, nomes próprios ou de lugares...
b) à ordem volitiva :
1 - Lendas, sagas, provérbios, textos jurídicos, códigos.
2 - Assuntos oficiais : documentos, inscrições de conteúdo jurídico, atas judiciais, de conselhos, de Cordes, de concílios, estatutos locais, livros de rendas eclesiásticas, registros penais, livros de gastos, notas estatísticas, atas de tipo administrativo, atas de relações internacionais, informes de embaixadores, atas de assuntos militares...
3 - Escritos de índole religiosa-litúrgicos : sermões, tratados, fundações, penitências, cartas de indulgências, bulas...
c) à vida do espírito :
1 - Descrições históricas, inscrições de conteúdo histórico, árvores genealógicas, crônicas, anais, genealogias, biografias, obras literárias em geral.
2 - Autobiografias : memórias, diários, cartas.
3 - Meios especiais de expressão da publicidade, libelos, folhas soltas, prognósticos, periódicos.
4 - Escritos artístico-literários ; catálogos de bibliotecas.
5 - Escritos científicos.
6 - Escritos epigráficos (sobre material duro) : Pedra de Rosetta, sarcófagos, ataúdes...
III - Pictórica - quando forem transmitidas por meio da representação plástica. Podem ser :
a) de conteúdo geográfico : mapas, planos, quadros de paisagem.
b) de conteúdo antropológico : retratos.
c) referentes à vida prática : reproduções de utensílios, vestidos, armas, moedas, escudos, películas cinematográficas, cartazes.
d) representações plásticas : de festas, sessões de tribunais, cultos, caricaturas, filmes...
IV - Restos - todos os demais vestígios de informação histórica : ruínas, restos humanos, de armas, de utensílios, mobiliários... e até as falsificações.
Esta é apenas uma idéia da complexidade do estudo da valorização metódica das fontes.
Através da Hermenêutica ficamos conhecendo o conteúdo do documento : se o que diz é válido, se o autor é exato e sincero e se não há interpolações.
Os documentos e monumentos das civilizações desaparecidas "não pertencem somente aos países onde ficam situados... São partes de uma herança comum que abrange também a mensagem de SÓCRATES, os afrescos de Ajanta e as sinfonias de BEETHOVEN. Tesouros universais são destinados à projeção universal" (trecho do discurso de VITORIO VERONESE , em 8/3/1960 (ex-Diretor Geral da UNESCO), iniciando a campanha "Salve os monumentos da Núbia").
Quando as relíquias arquitetônicas da civilização nubiana estiveram ameaçadas pela contrução da Alta Represa de Assuan, enormes somas de dólares foram destinadas ao salvamento daquelas obras que ilustram um capítulo deslumbrante do patrimônio da humanidade.
Alemanha, Áustria, Espanha, Estados Unidos, França, Holanda, Inglaterra, Itália, Suíça, Tchecoslováquia, entre outras, enviaram para o Egito suas delegações de arqueólogos, professores, engenheiros e especialistas, com o propósito de preservar o passado do homem e sua História.
" A utilidade da História, seu verdadeiro papel, está em fornecer à consciência do homem que sente, que pensa, que age, uma abundância de materiais sobre os quais exerce seu domínio e sua vontade.
O historiador não se propõe reanimar, ressuscitar o passado, pois este era uma coisa completamente diversa para os seus atores - para os homens que o viveram era o presente.
O historiador apreende-o, situa-o, conhece-o enquanto passado. Elabora sobre ele uma inteligibilidade verdadeira, e não imaginária, da realidade vivida. Procura compreender a mentalidade do homem, a sua maneira de pensar e sentir, em função do meio cultural e social que o formou." ( I.A. MARROU - "Do Conhecimento Histórico". Trad.Ruy Belo. Ed.Aster, Lisboa, s.d. ).
Fazemos História, diz PAULING ("The Repórter" - dezembro 11, 1951 - pág. 39), "para aprender o que não sabíamos e o que seria praticamente impossível descobrir só por nós, a menos que fôssemos precisamente esse homem que no-lo dá a conhecer. Depois de o termos conhecido e compreendido, convertemo-nos nesse homem e sabemos o que ele sabe", mesmo que tenha vivido há muito tempo longe de nós.
Ele volta a ganhar vida e adquire uma nova realidade, uma segunda historicidade no pensamento do historiador e da cultura contemporânea, onde este o reintroduz.
"Nenhum século nos está vedado - asseverou SÊNECA. Pela História "o poder do nosso espírito pode ultrapassar os limites da fraqueza do homem sozinho."
Porisso, a História estuda e conhece a civilização romana, quer a cultura antiga, quer a personalidade de CÍCERO.
Nós devemos sempre estar atentos e sempre fazer uso do nosso espírito crítico para as informações que obtivermos, analisando minuciosamente a posição do historiador.
Este, deve permanecer vinculado aos fatos, isto é, não deve ir além do que eles registram.
Porém, quando as informações não disserem tudo o que se deseja saber, então o historiador tem todo o direito de formular uma hipótese metódica - que é uma conjectura, um elemento de ligação em alguma lacuna.
Essa hipótese, se vier a ser confirmada, tornar-se-á um fato histórico.
O historiador deve ser consciencioso, domador dos seus sentimentos e estar profundamente vinculado à época que estuda.
Jamais poderá representar problemas passados com configurações de seu tempo histórico, pois incorreria num anacronismo, tal como na Idade Média se representavam peças teatrais da Antiguidade com trajes medievais, ou como no Renascimento, que se pintavam cenas bíblicas com os personagens vestidos na moda renascentista.
Cada lugar e cada época tem seus padrões de comportamento e suas peculiaridades inconfundíveis e próprias. Tudo no homem é relativo ao seu tempo.
O historiador deve ser educado por um forte sentido do real, para não anular totalmente uma realidade humana.
O ideal é que não tenha preferências pessoais ( gostos ou antipatias ), preconceitos, teorias de interpretação divergente, diferenças de moral e crença, sem tomar partido, refazendo um fato em função de um sistema ou idéia que convém a ele, ou ao grupo a que pertence ou quer agradar.
"A História só começa quando o historiador se esquece o bastante para sair de si mesmo e avança, disponível, à descoberta, ao encontro de outrem. Ele sabe que não pode saber tudo ; não se considera mais do que um homem." ( I.A.MARROU )
História, não é somente a reconstituição da nossa linhagem, dos nossos antecedentes - é a nossa própria história, a reconstituição do desenvolvimento humano, que fez de nós o que somos e nos colocou na situação cultural, social, econômica e política na qual estamos inseridos.
Conforme asseverou o escritor e político PLÍNIO SALGADO, em uma de suas obras, "a História é a alma da Pátria.
Não pode haver verdadeiro sentido de amor à Pátria, se não houver a embasá-lo o culto das tradições nacionais.
A pátria, como seus filhos, tem um corpo e uma alma.
O corpo é o território e a população que o preenche, naquilo que esta possue de material.
Á História é a formação moral e cultural.
Dar alma a uma pátria é reativar-lhe as energias oriundas dos séculos pretéritos, é dar-lhe uma personalidade.
É na História que está a alma de uma nação.
Preservar os monumentos e documentos dessa História é vitalizar essa alma.
Ensinar a nação a saber quem é, para que ela continue a ser, é missão dos seus condutores.
Foi a missão de MOISÉS, através do deserto.
Foi a missão de PÉRICLES, na Grécia.
Foi a missão de AFONSO HENRIQUES quando fundou a Monarquia Lusitana, de RICHELIEU unificando a França, de PEDRO, o GRANDE, construindo a Rússia, de FREDERICO criando a Alemanha, de WASHINGTON anunciando ao mundo uma nova nação, de JOSÉ BONIFÁCIO fundando o Império Brasileiro."
( PLÍNIO SALGADO - "O ritmo da história". Livraria Clássica Brasileira. Rio de Janeiro, s.d. )
Tanto como um processo prospectivo como retrospectivo, convém lembrar que a História "tem ainda todo o encanto de uma folha inacabada." ( MARK BLOCH - "Sociedade Feudal", pág. 88 )
LEOPOLD VON RANKE, venerado como o primeiro historiador moderno e um dos iniciadores do movimento que deu à História sua forma atual, bem asseverou :
" O conhecimento do passado é incompleto sem a noção do presente ; a compreensão do presente inexiste, sem o conhecimento das épocas anteriores." ...
Assim, aquele que se propuser a "compreender sua época e seu ambiente, terá que retroceder até a Antiguidade" ( OTTO NEUBERT - "O Vale dos Reis". Trad. Liselotte Jokl. Editora Itatiaia, Belo Horizonte, 1962. ) , pois o legado que recebemos dos nossos ancestrais é enorme.
As culturas de hoje, provavelmente, devem apenas uns 10% de seus elementos totais a invenções feitas pelos membros de sua sociedade.
A cultura americana, em sua grande parte, é por muitos considerada autóctone.
Somente a título de curiosidade, façamos então esta breve análise retrospectiva histórica :
" Um cidadão norte-americano desperta num leito construído segundo padrão originário do Oriente Próximo, mas modificado na Europa Setentrional, antes de ser transmitido à América.
Sai debaixo de cobertas feitas de algodão, cuja planta se tornou doméstica na Índia; ou de seda, cujo emprego foi descoberto na China.
Todos esses materiais foram fiados e tecidos por processos inventados no Oriente Próximo.
Ao levantar da cama faz uso de mocassins que foram inventados pelos índios das florestas do leste dos Estados Unidos e entra no quarto de banho, cujos aparelhos são uma mistura de invenções europeias e norte-americanas, umas e outras recentes.
Tira o pijama, que é vestuário inventado na Índia e lava-se com sabão, que foi inventado pelos antigos gauleses ; faz a barba, que é um mito masoquístico que parece provir dos sumerianos ou do antigo Egito.
Voltando ao quarto o cidadão toma as roupas que estão sobre uma cadeira de tipo europeu meridional e veste-se.
As peças de seu vestuário têm a forma das vestes de peles curtidas por um processo inventado no antigo Egito e cortadas segundo um padrão proveniente das civilizações clássicas do Mediterrâneo; a tira de pano de cores vivas que amarra ao pescoço é sobrevivência dos xales usados aos ombros pelos croatas do Século XVII.
Antes de ir tomar seu 'breakfast' , ele olha a rua através da vidraça feita de vidro inventado no Egito; e se estiver chovendo, calça galochas de borracha descoberta pelos índios da América Central e toma um guarda-chuva, inventado no sudoeste da Ásia.
Seu chapéu é feito de feltro - material inventado nas estepes asiáticas.
De caminho para o 'breakfast' pára para comprar um jornal pagando-o com moedas, invenção da Líbia antiga.
No restaurante, toda uma série de elementos tomados de empréstimos o espera : o prato é feito de uma espécie de cerâmica inventada na China.
A faca é de aço - liga feita pela primeira vez na Índia do sul ; o garfo é o inventado na Itália medieval.
Começa seu 'breakfast' com uma laranja vinda do Mediterrâneo oriental, melão da Pérsia ou talvez uma fatia de melancia africana.
Toma café, planta Abissínia, com nata e açúcar.
A domesticação do gado bovino e a idéia de aproveitar seu leite são originários do Oriente Próximo, ao passo que o açúcar foi feito pela primeira vez na Índia.
Depois das frutas e do café, vêm 'waffles', os quais são bolinhos fabricados segundo uma técnica escandinava, empregando como matéria prima o trigo que se tornou planta doméstica na Ásia Menor.
Rega-se com um xarope de 'maple' inventado pelos índios das florestas do leste dos Estados Unidos.
Como prato adicional talvez coma ovo de uma espécie de ave domesticada na Indochina ou delgadas fatias de carne de um animal doméstico da Ásia Oriental, salgada e defumada por um processo desenvolvido no norte da Europa.
Acabando de comer, nosso amigo se recosta para fumar - hábito implantado pelos índios americanos e que consome uma planta originária do Brasil; fuma cachimbo que procede dos índios da Virgínia, ou cigarros provenientes do México.
Se for fumante valente, pode ser que fume mesmo um charuto, transmitido à América do Norte pelas Antilhas, por intermédio da Espanha.
Enquanto fuma, lê notícias do dia, impressas em caracteres inventados pelos antigos semitas, em material [ papel ] inventado na China e por um processo inventado na Alemanha [ impressão ].
Ao inteirar-se das narrativas dos problemas estrangeiros, se for um bom cidadão conservador, agradecerá a uma divindade hebraica, numa língua indo-europeia, o fato de ser cem por cento americano".
( RALPH LINTON, Ph.D. - "O homem: uma introdução à antropologia". Editora Martins, São Paulo, 1962 - págs. 355/356 )
Muitos cientistas afirmam que a História começa com a descoberta e uso dos metais (o primeiro deles foi o cobre ), levando o homem a uma sedentarização em torno da mina.
Outra corrente e a mais aceita pela maioria dos historiadores e pesquisadores, diz que a escrita (= transmissão do pensamento em grafia ), deve ser tomada como o inicio da História.
Mas, onde começa e escrita... e a História ?
Pela investigação acredita-se que se tenha originado na Suméria, 300 ou 500 anos antes que no Egito.
A escrita aí apareceu como uma finalidade "religiosa financeira" : a de registrar os impostos pagos ao templo.
É por isso que SAMUEL NOAH KRAMER denominou "A História começa na Suméria" ("L'Histoire commence à Sumer" - B.Arthand, 1957) a uma de suas obras principais.
As Ciências relacionam-se entre si.
Essa mútua relação é enorme.
As Ciências abaixo relacionadas, são as usualmente designadas como "auxiliares" da História :
ANTROPOLOGIA - da evolução e cultura do homem.
ARQUEOLOGIA - monumentos antigos.
CRONOLOGIA - da sequência dos fatos em relação ao tempo.
DIPLOMÁTICA - do documento.
ECONOMIA - da criação e distribuição das riquezas dos grupos.
EPIGRAFIA - das inscrições.
GENEALOGIA - das linhagens : ascendências e descendências.
GEOGRAFIA - da estrutura da Terra.
HERÁLDICA - dos escudos e brasões.
LINGUÍSTICA - da estrutura das línguas.
NUMISMÁTICA - das moedas.
PALEOGRAFIA - das escritas.
SOCIOLOGIA - dos grupos humanos e seus comportamentos.
Jarbas Vilela
Santos, agosto de 1974.
Pela gravidade, um corpo abandonado no espaço tende sempre a cair. Mas, e a morte de CLEÓPATRA ? Quando a maçã caiu da árvore, EVA criou a lei da gravidez e NEWTON, a da gravidade...
c) tem projeção social - Exemplo : toda a Europa e o mundo viveu em expectativa de HITLER. Essa projeção se faz por imitação voluntária, consciente ou pela coação.
O nazismo, desenvolvido por etnólogos, na França, foi importado para a Alemanha.
d) deve ter provocado consequências espirituais ( culturais). Exemplo : a imigração fenícia permitiu-lhes o surto da escrita alfabética.
SEIGNOBOS
(Ch. Seignobos - "El método histórico aplicado a las ciencias ". Trad. espanhola de Domingo Vaca. Jorro Ed., Madrid, 1923) explica o fato histórico como um fato do passado, sempre datado e vinculado a uma cadeia de causas e consequentes.
Sua apreensão é retrospectiva (do presente para o passado), embora o fenômeno histórico seja prospectivo e inacabado.
DEFINIÇÕES
Pedro Américo - A Noite e os gênios do estudo e do amor. |
Várias são as definições que os pensadores dão à História :
CÍCERO sabiamente denominou de "magistral vitae" (= mestra da vida) ;
"História é a ciência dos atos humanos do passado e dos vários fatores que neles influenciaram, vistos de sua secessão temporal" - BESSELAAR ( Jose Van den Besselaar - "Intodução aos Estudos Históricos". 3ª ed. Herder, S.Paulo, 1970).
"História é o conhecimento do passado humano: ações, pensamentos, sentimentos, criações materiais 0u espirituais das sociedades e das civilizações - obras através das quais atingimos os seus criadores. É o conhecimento do passado do homem enquanto um fato no tempo - do homem já tornado homem" - MARROU.
FONTES HISTÓRICAS
Delacroix - Le Moulin de la Gaullete |
Para nós conhecermos o passado é preciso buscar traços dos fatos naquilo que permita reconstituir a vida histórica: a fonte.
"Consideram-se fontes históricas tudo o que chegou até nós como efeito cognoscível dos fatos : a múmia numa câmara sepulcral, os utensílios, os móveis, vestidos, armas..." - BAUER (Wilhelm Bauer - "Introdución al estúdio de la historia". Trad. Luis G.de Valdeavelhano , 3ª ed. Bosch, Barcelona, 1957).
O último fim de uma investigação não se encontra em que só o descobridor do monumento o veja, mas em que seu resultado se guarde e se conserve o melhor possível em um museu, num arquivo ou de qualquer outra forma, tornando-o acessível a outros investigadores.
Assim, no decorrer das buscas, um arqueólogo trabalha ao lado dos seus operários, manejando a pá e a picareta, sempre alerta a qualquer imprudência que possa ser cometida.
Isto é aplicável a todas as fontes, quer sejam escritas ou plásticas - menos a oral, é lógico.
"Em buscas científicas, a primeira e a mais importante das regras é a do arqueólogo, em pessoa, trazer à superfície cada achado. Um produto de conservação (como a cera de parafina), pode ajudar a preservar utensílios que ao menor contato se transformariam em poeira.
Logo que um objeto é descoberto, deve-se desenhá-lo com todos os detalhes, fotografá-lo e restaurá-lo. Quando se trata de rolos de papiros, deve-se envolve-los com panos úmidos e deixa-los assim algumas horas : isto possibilitará desenrolá-los cuidadosamente e estendê-los numa placa de vidro.
Cada descoberta é uma prenda do passado ao presente ; o arqueólogo é simplesmente um intermediário" - GRIMBERG (Carl Grimberg - "História Universal". Trad. Jorge de Macedo, Publ.Europa-América, Lisboa, 1965, I).
Em se tratando de um documento escrito, deve-se desenhá-lo precisamente, determinar sua idade, o lugar de sua origem e as circunstâncias pelas quais chegou ao seu paradeiro atual.
Cumbe aos domínios técnicos da Arquivística, Biblioteconomia, e Museística a sua conservação.
Toda a problemática da verdade histórica está na investigação, na compreensão e na exploração dos documentos e monumentos.
Estas palavras "documento" e "monumento", num sentido amplo, têm o mesmo sentido de fonte histórica ; num sentido restrito, possuem conceitos próprios.
Jordânia : Petra - Sítio histórico-arqueológico |
Os monumentos podem ser móveis (pinturas, esculturas, utensílios, mobiliários, etc.) ou imóveis (fixados ao chão : edifícios, murais, lápides, etc.).
Os relatos são fontes ou de primeira mão (se a pessoa viu o fato, presenciou-o ou descreveu-o através do depoimento de pessoas que o viram ), ou de segunda mão ( quando o fato não é observado pela própria pessoa; quando não se pode interrogar as testemunhas primitivas; quando não se pode testar nenhum sobrevivente ).
O relato de segunda mão não oferece garantias.
HEURÍSTICA e HERMENÊUTICA
Istambul - Arabesco da Mesquita de Suleiman. |
Ao levantamento e identificação das fontes dá-se o nome de heurística. Há diversas maneiras de classificar as fontes. A que demonstramos à seguir é uma modesta tentativa.
A fonte pode ser :
I - Oral - Quando o relato é oral ou conservado na memória. Merece crédito restrito, pois pode conter alterações de conteúdo. Pode se referir a fatos, concepções e costumes. Exemplos :
anedotas,
mitos,
fábulas,
lendas,
sagas,
provérbios,
canções,
narrações,
discursos.
II - Escrita - quando a tradição oral for registrada, alcança um crédito maior, bem como as fontes transmitidas por escrito ou impressas.
As fontes escritas podem ser referentes :
a) à vida prática : fábulas, receitas, escritos econômicos (contas, inventários), calendários, livros de viagem, itinerários, nomes próprios ou de lugares...
b) à ordem volitiva :
1 - Lendas, sagas, provérbios, textos jurídicos, códigos.
2 - Assuntos oficiais : documentos, inscrições de conteúdo jurídico, atas judiciais, de conselhos, de Cordes, de concílios, estatutos locais, livros de rendas eclesiásticas, registros penais, livros de gastos, notas estatísticas, atas de tipo administrativo, atas de relações internacionais, informes de embaixadores, atas de assuntos militares...
3 - Escritos de índole religiosa-litúrgicos : sermões, tratados, fundações, penitências, cartas de indulgências, bulas...
c) à vida do espírito :
1 - Descrições históricas, inscrições de conteúdo histórico, árvores genealógicas, crônicas, anais, genealogias, biografias, obras literárias em geral.
2 - Autobiografias : memórias, diários, cartas.
3 - Meios especiais de expressão da publicidade, libelos, folhas soltas, prognósticos, periódicos.
4 - Escritos artístico-literários ; catálogos de bibliotecas.
5 - Escritos científicos.
6 - Escritos epigráficos (sobre material duro) : Pedra de Rosetta, sarcófagos, ataúdes...
III - Pictórica - quando forem transmitidas por meio da representação plástica. Podem ser :
a) de conteúdo geográfico : mapas, planos, quadros de paisagem.
b) de conteúdo antropológico : retratos.
c) referentes à vida prática : reproduções de utensílios, vestidos, armas, moedas, escudos, películas cinematográficas, cartazes.
d) representações plásticas : de festas, sessões de tribunais, cultos, caricaturas, filmes...
IV - Restos - todos os demais vestígios de informação histórica : ruínas, restos humanos, de armas, de utensílios, mobiliários... e até as falsificações.
Esta é apenas uma idéia da complexidade do estudo da valorização metódica das fontes.
Através da Hermenêutica ficamos conhecendo o conteúdo do documento : se o que diz é válido, se o autor é exato e sincero e se não há interpolações.
Os documentos e monumentos das civilizações desaparecidas "não pertencem somente aos países onde ficam situados... São partes de uma herança comum que abrange também a mensagem de SÓCRATES, os afrescos de Ajanta e as sinfonias de BEETHOVEN. Tesouros universais são destinados à projeção universal" (trecho do discurso de VITORIO VERONESE , em 8/3/1960 (ex-Diretor Geral da UNESCO), iniciando a campanha "Salve os monumentos da Núbia").
Quando as relíquias arquitetônicas da civilização nubiana estiveram ameaçadas pela contrução da Alta Represa de Assuan, enormes somas de dólares foram destinadas ao salvamento daquelas obras que ilustram um capítulo deslumbrante do patrimônio da humanidade.
Alemanha, Áustria, Espanha, Estados Unidos, França, Holanda, Inglaterra, Itália, Suíça, Tchecoslováquia, entre outras, enviaram para o Egito suas delegações de arqueólogos, professores, engenheiros e especialistas, com o propósito de preservar o passado do homem e sua História.
O PAPEL DA HISTÓRIA /
O HISTORIADOR
Pedro Américo - Suplício de Tiradentes. (Museu Mariano Procópio) |
" A utilidade da História, seu verdadeiro papel, está em fornecer à consciência do homem que sente, que pensa, que age, uma abundância de materiais sobre os quais exerce seu domínio e sua vontade.
O historiador não se propõe reanimar, ressuscitar o passado, pois este era uma coisa completamente diversa para os seus atores - para os homens que o viveram era o presente.
O historiador apreende-o, situa-o, conhece-o enquanto passado. Elabora sobre ele uma inteligibilidade verdadeira, e não imaginária, da realidade vivida. Procura compreender a mentalidade do homem, a sua maneira de pensar e sentir, em função do meio cultural e social que o formou." ( I.A. MARROU - "Do Conhecimento Histórico". Trad.Ruy Belo. Ed.Aster, Lisboa, s.d. ).
Fazemos História, diz PAULING ("The Repórter" - dezembro 11, 1951 - pág. 39), "para aprender o que não sabíamos e o que seria praticamente impossível descobrir só por nós, a menos que fôssemos precisamente esse homem que no-lo dá a conhecer. Depois de o termos conhecido e compreendido, convertemo-nos nesse homem e sabemos o que ele sabe", mesmo que tenha vivido há muito tempo longe de nós.
Ele volta a ganhar vida e adquire uma nova realidade, uma segunda historicidade no pensamento do historiador e da cultura contemporânea, onde este o reintroduz.
"Nenhum século nos está vedado - asseverou SÊNECA. Pela História "o poder do nosso espírito pode ultrapassar os limites da fraqueza do homem sozinho."
Porisso, a História estuda e conhece a civilização romana, quer a cultura antiga, quer a personalidade de CÍCERO.
Nós devemos sempre estar atentos e sempre fazer uso do nosso espírito crítico para as informações que obtivermos, analisando minuciosamente a posição do historiador.
Este, deve permanecer vinculado aos fatos, isto é, não deve ir além do que eles registram.
Porém, quando as informações não disserem tudo o que se deseja saber, então o historiador tem todo o direito de formular uma hipótese metódica - que é uma conjectura, um elemento de ligação em alguma lacuna.
Essa hipótese, se vier a ser confirmada, tornar-se-á um fato histórico.
O historiador deve ser consciencioso, domador dos seus sentimentos e estar profundamente vinculado à época que estuda.
Jamais poderá representar problemas passados com configurações de seu tempo histórico, pois incorreria num anacronismo, tal como na Idade Média se representavam peças teatrais da Antiguidade com trajes medievais, ou como no Renascimento, que se pintavam cenas bíblicas com os personagens vestidos na moda renascentista.
Cada lugar e cada época tem seus padrões de comportamento e suas peculiaridades inconfundíveis e próprias. Tudo no homem é relativo ao seu tempo.
O historiador deve ser educado por um forte sentido do real, para não anular totalmente uma realidade humana.
O ideal é que não tenha preferências pessoais ( gostos ou antipatias ), preconceitos, teorias de interpretação divergente, diferenças de moral e crença, sem tomar partido, refazendo um fato em função de um sistema ou idéia que convém a ele, ou ao grupo a que pertence ou quer agradar.
"A História só começa quando o historiador se esquece o bastante para sair de si mesmo e avança, disponível, à descoberta, ao encontro de outrem. Ele sabe que não pode saber tudo ; não se considera mais do que um homem." ( I.A.MARROU )
HISTÓRIA : ALMA DA PÁTRIA
Pedro Américo - Independência ou Morte. (Museu do Ipiranga) |
História, não é somente a reconstituição da nossa linhagem, dos nossos antecedentes - é a nossa própria história, a reconstituição do desenvolvimento humano, que fez de nós o que somos e nos colocou na situação cultural, social, econômica e política na qual estamos inseridos.
Conforme asseverou o escritor e político PLÍNIO SALGADO, em uma de suas obras, "a História é a alma da Pátria.
Não pode haver verdadeiro sentido de amor à Pátria, se não houver a embasá-lo o culto das tradições nacionais.
A pátria, como seus filhos, tem um corpo e uma alma.
O corpo é o território e a população que o preenche, naquilo que esta possue de material.
Á História é a formação moral e cultural.
Dar alma a uma pátria é reativar-lhe as energias oriundas dos séculos pretéritos, é dar-lhe uma personalidade.
É na História que está a alma de uma nação.
Preservar os monumentos e documentos dessa História é vitalizar essa alma.
Ensinar a nação a saber quem é, para que ela continue a ser, é missão dos seus condutores.
Foi a missão de MOISÉS, através do deserto.
Foi a missão de PÉRICLES, na Grécia.
Foi a missão de AFONSO HENRIQUES quando fundou a Monarquia Lusitana, de RICHELIEU unificando a França, de PEDRO, o GRANDE, construindo a Rússia, de FREDERICO criando a Alemanha, de WASHINGTON anunciando ao mundo uma nova nação, de JOSÉ BONIFÁCIO fundando o Império Brasileiro."
( PLÍNIO SALGADO - "O ritmo da história". Livraria Clássica Brasileira. Rio de Janeiro, s.d. )
Tanto como um processo prospectivo como retrospectivo, convém lembrar que a História "tem ainda todo o encanto de uma folha inacabada." ( MARK BLOCH - "Sociedade Feudal", pág. 88 )
O LEGADO DAS CULTURAS
Istambul - Mesquita Azul / antiga Basílica de Santa Sofia |
LEOPOLD VON RANKE, venerado como o primeiro historiador moderno e um dos iniciadores do movimento que deu à História sua forma atual, bem asseverou :
" O conhecimento do passado é incompleto sem a noção do presente ; a compreensão do presente inexiste, sem o conhecimento das épocas anteriores." ...
Assim, aquele que se propuser a "compreender sua época e seu ambiente, terá que retroceder até a Antiguidade" ( OTTO NEUBERT - "O Vale dos Reis". Trad. Liselotte Jokl. Editora Itatiaia, Belo Horizonte, 1962. ) , pois o legado que recebemos dos nossos ancestrais é enorme.
As culturas de hoje, provavelmente, devem apenas uns 10% de seus elementos totais a invenções feitas pelos membros de sua sociedade.
A cultura americana, em sua grande parte, é por muitos considerada autóctone.
Somente a título de curiosidade, façamos então esta breve análise retrospectiva histórica :
" Um cidadão norte-americano desperta num leito construído segundo padrão originário do Oriente Próximo, mas modificado na Europa Setentrional, antes de ser transmitido à América.
Sai debaixo de cobertas feitas de algodão, cuja planta se tornou doméstica na Índia; ou de seda, cujo emprego foi descoberto na China.
Todos esses materiais foram fiados e tecidos por processos inventados no Oriente Próximo.
Ao levantar da cama faz uso de mocassins que foram inventados pelos índios das florestas do leste dos Estados Unidos e entra no quarto de banho, cujos aparelhos são uma mistura de invenções europeias e norte-americanas, umas e outras recentes.
Tira o pijama, que é vestuário inventado na Índia e lava-se com sabão, que foi inventado pelos antigos gauleses ; faz a barba, que é um mito masoquístico que parece provir dos sumerianos ou do antigo Egito.
Voltando ao quarto o cidadão toma as roupas que estão sobre uma cadeira de tipo europeu meridional e veste-se.
As peças de seu vestuário têm a forma das vestes de peles curtidas por um processo inventado no antigo Egito e cortadas segundo um padrão proveniente das civilizações clássicas do Mediterrâneo; a tira de pano de cores vivas que amarra ao pescoço é sobrevivência dos xales usados aos ombros pelos croatas do Século XVII.
Antes de ir tomar seu 'breakfast' , ele olha a rua através da vidraça feita de vidro inventado no Egito; e se estiver chovendo, calça galochas de borracha descoberta pelos índios da América Central e toma um guarda-chuva, inventado no sudoeste da Ásia.
Seu chapéu é feito de feltro - material inventado nas estepes asiáticas.
De caminho para o 'breakfast' pára para comprar um jornal pagando-o com moedas, invenção da Líbia antiga.
No restaurante, toda uma série de elementos tomados de empréstimos o espera : o prato é feito de uma espécie de cerâmica inventada na China.
A faca é de aço - liga feita pela primeira vez na Índia do sul ; o garfo é o inventado na Itália medieval.
Começa seu 'breakfast' com uma laranja vinda do Mediterrâneo oriental, melão da Pérsia ou talvez uma fatia de melancia africana.
Toma café, planta Abissínia, com nata e açúcar.
A domesticação do gado bovino e a idéia de aproveitar seu leite são originários do Oriente Próximo, ao passo que o açúcar foi feito pela primeira vez na Índia.
Depois das frutas e do café, vêm 'waffles', os quais são bolinhos fabricados segundo uma técnica escandinava, empregando como matéria prima o trigo que se tornou planta doméstica na Ásia Menor.
Rega-se com um xarope de 'maple' inventado pelos índios das florestas do leste dos Estados Unidos.
Como prato adicional talvez coma ovo de uma espécie de ave domesticada na Indochina ou delgadas fatias de carne de um animal doméstico da Ásia Oriental, salgada e defumada por um processo desenvolvido no norte da Europa.
Acabando de comer, nosso amigo se recosta para fumar - hábito implantado pelos índios americanos e que consome uma planta originária do Brasil; fuma cachimbo que procede dos índios da Virgínia, ou cigarros provenientes do México.
Se for fumante valente, pode ser que fume mesmo um charuto, transmitido à América do Norte pelas Antilhas, por intermédio da Espanha.
Enquanto fuma, lê notícias do dia, impressas em caracteres inventados pelos antigos semitas, em material [ papel ] inventado na China e por um processo inventado na Alemanha [ impressão ].
Ao inteirar-se das narrativas dos problemas estrangeiros, se for um bom cidadão conservador, agradecerá a uma divindade hebraica, numa língua indo-europeia, o fato de ser cem por cento americano".
( RALPH LINTON, Ph.D. - "O homem: uma introdução à antropologia". Editora Martins, São Paulo, 1962 - págs. 355/356 )
ONDE COMEÇA A HISTÓRIA ?
Arabesco - caligrafia árabe rebuscada. |
Muitos cientistas afirmam que a História começa com a descoberta e uso dos metais (o primeiro deles foi o cobre ), levando o homem a uma sedentarização em torno da mina.
Outra corrente e a mais aceita pela maioria dos historiadores e pesquisadores, diz que a escrita (= transmissão do pensamento em grafia ), deve ser tomada como o inicio da História.
Mas, onde começa e escrita... e a História ?
Pela investigação acredita-se que se tenha originado na Suméria, 300 ou 500 anos antes que no Egito.
A escrita aí apareceu como uma finalidade "religiosa financeira" : a de registrar os impostos pagos ao templo.
É por isso que SAMUEL NOAH KRAMER denominou "A História começa na Suméria" ("L'Histoire commence à Sumer" - B.Arthand, 1957) a uma de suas obras principais.
AS CIÊNCIAS AUXILIARES
Heráldica alemã - brasão é um escudo de armas, uma insígnia de nobreza. |
As Ciências relacionam-se entre si.
Essa mútua relação é enorme.
As Ciências abaixo relacionadas, são as usualmente designadas como "auxiliares" da História :
ANTROPOLOGIA - da evolução e cultura do homem.
ARQUEOLOGIA - monumentos antigos.
CRONOLOGIA - da sequência dos fatos em relação ao tempo.
DIPLOMÁTICA - do documento.
ECONOMIA - da criação e distribuição das riquezas dos grupos.
EPIGRAFIA - das inscrições.
GENEALOGIA - das linhagens : ascendências e descendências.
GEOGRAFIA - da estrutura da Terra.
HERÁLDICA - dos escudos e brasões.
LINGUÍSTICA - da estrutura das línguas.
NUMISMÁTICA - das moedas.
PALEOGRAFIA - das escritas.
SOCIOLOGIA - dos grupos humanos e seus comportamentos.
Brasão da cidade do Rio de Janeiro - Simbologia heráldica : a ciência dos brasões. |
Jarbas Vilela
Santos, agosto de 1974.
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