condensado de um artigo para Seleções do Reader's Digest - Tomo IX, nº 52 - Setembro de 1975.
"A civilização, como entendo o termo, floresceu pela primeira vez no Egito e nas imediações da Mesopotâmia, há cerca de 5.000 anos. encerrava muitas das qualidades que consideramos válidas em nossa civilização atual.
Os egípcios consideravam o indivíduo como um ser humano moral;
acreditavam na beleza e na dignidade do homem, dotado de uma alma que lhe sobreviveria após a morte;
encaravam a natureza como algo de belo e útil e muito ligada ao próprio homem;
possuíam um sistema bem organizado de governo;
e uma arte de inexcedível grandeza.
Tais requisitos, que julgamos essenciais ao nosso próprio conceito de civilização, parecem ter surgido com a rapidez de um crepúsculo no Vale do Nilo, entre os anos 3000 e 2800 aC.. Foi como se, após meio milhão de anos de existência sem consciente, o homem tivesse adquirido plena noção de si próprio e daquilo que o rodeava, no espaço de cerca de 200 anos.
A ciência descobriu fascinantes traços de vida civilizada em muitas outras terras, mas o Egito foi o primeiro berço da civilização.
E, por que ?
A resposta é simples : por causa do Nilo.
Não só o rio era incomensuravelmente longo, mas ao contrário dos que tenham sido fonte de outras civilizações primitivas (o Tigre, o Eufrates, o Indo e o Hwang Ho ), apresentava-se completamente regular em seus movimentos. Na medida em que a civilização crescia, o Nilo era o perfeito lugar para o seu nascimento.
Os antigos egípcios constituíam um povo profundamente visual. Mesmo a sua escrita constituía de séries der experiências visuais em letras ( só consoantes; não havia vogais ).
língua egípcia - sátira
Pelo fato de uma escrita representar imagens estereotipadas, os egípcios não podiam adquirir uma abstração "verbal"; assim, nunca criaram uma filosofia no sentido grego da palavra. Não podiam especular com o significado das palavras.
Mas, como demonstram suas formas de arte, os primeiros egípcios tinham autêntico interesse pela humanidade.
Que desde o inicio, começaram a fazer pequenas esculturas de pessoas comuns a trabalhar, o que demonstra tocante sensibilidade para a condição atual dos trabalhadores.
Não se esperaria encontrar tal pormenor na arte babilônica ou assíria; muito menos na Grécia, onde os trabalhadores eram escravos, cujas atividades não mereciam referências à não ser como figurar cômicas no drama.
A arte egípcia demonstra ainda um amor pelos animais e pela natureza em geral.
As pirâmides e os túmulos são, à sua maneira, construções religiosas.
No interior da pirâmide de Khufú
( Quéops, em grego )
As pinturas nos túmulos demonstram que acreditavam na
imortalidade e, em particular, na ressurreição do corpo - só que eles simbolizavam isso de um modo material : embalsamando e enchendo o túmulo com coisas que seriam necessárias na outra vida.
Muitos textos demonstram a crença de que as boas ações eram recompensadas na outra vida.
Mas, por fim, o curso da história inverteu-se e submergiu o Egito, tal como fizera com todas as civilizações.
Entretanto, o longo triunfo do Egito dependeu de seu respeito pela ordem natural das coisas : o retorno anual das águas milagrosas do Nilo.
No Antigo Império, a civilização egípcia baseava-se na renovação, no cunúbio com a natureza e não na expansão e exploração de seus recursos.
Talvez devêssemos aprender com o velho Egito.
Hoje em dia é considerado retrógado olhar para trás e tentar buscar inspiração nas artes e nas crenças do passado.
Diz-se que o homem mudou.
Acho que não; nem os homens, nem as mulheres.
A tecnologia não vai remover a desesperada necessidade de ordem e harmonia;
ou o sentimento de simpatia pelos nossos semelhantes, quer humanos, quer animais;
ou a crença, para a qual não há provas materiais, de que uma parte de nós é imortal.
Essas idéias foram expressas há 5000 anos e, mesmo quando desprezadas por algum tempo, podemos sempre renová-las, tal como os egípcios fizeram no passado."
Conviria ainda recordar os dizeres dos sacerdotes egípcios a SÓLON, sobre a pouca antiguidade da história grega, em comparação à deles :
"Vós sois crianças, que apenas sabeis as coisas de hoje e de ontem".
Templo de Hórus
- em Edfu
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