OS IMPERADORES DO BRASIL E A EGIPTOLOGIA

D.PEDRO I

Aconselhado por JOSÉ BONIFÁCIO DE ANDRADA E SILVA, mandou arrematar no leilão da Alfândega do Rio de Janeiro, em 1827, peças originais egípcias trazidas por  NICOLAU FIENGO  da França, por encomenda do ditador argentino  D.JUAN MANUEL DE ROSAS.
Eram objetos de um extinto museu de antiguidades gregas e egípcias, trazidas de Marselha.


Como, ao chegar a Buenos Aires, ROSAS havia sido deposto, o governo sucessor não quis sustentar os compromissos da compra.
FIENGO as trouxe para o Rio de Janeiro e abandonou-as na alfândega, indo para a Bahia.


Essas peças estão expostas nas salas  HUMBOLDT  e  CHAMPOLLION, no Museu Nacional da Quinta da Boa Vista, que outrora fora residência de D.JOÃO VI enquanto esteve no Brasil.

DOCUMENTO NO ARQUIVO DA DIVISÃO DE ANTROPOLOGIA DO MUSEU NACIONAL :


 "Atendendo ao que Me representou Nicolau Fiengo, que propôs a venda das Antiguidades Egípcias, já depositadas no Museu Nacional desta Côrte :  Hei por bem que pelo  Tesouro Público se pagou ao dito  Nicolau Fiengo s quantia de cinco contos de réis em que ele avaliou as referidas antiguidades ; verificando-se o pagamento desta compra o prazo de seis, doze e dezoito meses.  O  Marquês de Queluz do Meu Conselho de Estado,  Ministro e Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros,  Encarregado interinamente dos da Fazenda, o tenha assim entendido e faça executar com os despachos necessários.
Palácio do Rio de Janeiro em três de Abril de mil oitocentos e vinte e sete, sexto da Independência e do Império.
[ Rubrica do Imperador ] / (ao) / Visconde de São Leopoldo /
Cumpra-se, e registre-se, Rio de Janeiro, em 10 de abril de 1827 /  (as.)  Queluz."

   

ALBERT  CHILDE
Conservador-chefe da secção, decifrou os hieróglifos dos sarcófagos, estelas, fez estudos e catalogações.

Obras :

LADISLAU NETO  -  "Investigações Históricas sobre o Museu Nacional"  -  Rio, 1870.

J.BATISTA DE LACERDA  -  "Fatos do Museu Nacional do Rio de Janeiro"  -  Imprensa Nacional, Rio, 1905 

D.PEDRO II

Tornou-se um  'egiptófilo'. 

As provas são anotações em 3 cadernetas de  Notas de Viagens,  no Arquivo da Família Imperial no Museu Nacional de Petrópolis.

D.PEDRO II  realizou duas viagens ao Egito :

a primeira em 1871  - 

de 25 de maio de 1871  a  30 de março de 1872 ,

visitou a Europa, Egito, Palestina e Ásia Menor.

A 1ª caderneta contém 40 páginas de texto à lápis :

      são dados relativos ao Cairo,

                                               Alexandria,

                                               e curta subida ao Nilo, até Mênfis.

São notas destinadas à Condessa de Barral e de Pedra Branca.

D.PEDRO desembarcou em Alexandria em 28 de outubro de 1871  -  aí  recebeu notícias, por despachos privativos, da  "Lei do Ventre Livre", sancionada pela Princesa ISABEL a 28/09/1871.

O registro iniciou-se no Cairo, em 03 de novembro de 1871.

Em 11 de novembro deixa Alexandria rumo a Brindisi  (Itália).

Posteriormente faz referências a

HENRI BRUGSCH   (alemão /  Diretor da Biblioteca do Instituto de Alexandria)  e

AUGUST  MARIETTE   (francês /  Diretor do Museu de Bulaq).

Estes foram condecorados com a  "Ordem da Rosa", comprovado pela carta de  28 de novembro de 1874 endereçada ao  Visconde do Bom Retiro.

A 1ª caderneta foi copiada pelo  Visconde de TAUNAY.

Seu filho  AFFONSO DE ESCRAGOLLE TAUNAY, com permissão da  Princesa  ISABEL, publicou-a na

"Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro"  -  Tomo 72, p. II, volume 120, 1909.

O  "Anuário do Museu Imperial"  -  volume VIII de 1947  [Rio, 1950]  transcreveu parcialmente as anotações.

Temos fotografias, conservadas no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro,  do Imperador, da Imperatriz, do Visconde do Bom Retiro e de Itaúna, de D. JOSEFINA DA FONSECA COSTA  (dama da Imperatriz), AUGUST MARIETTE,  HENRI  BRUGSCH  e outros, aos pés da Esfinge e Pirâmides de Gizé.

As outras duas cadernetas :

A 2ª caderneta inicia anotações em 26 de março de 1876 a 26 de setembro de 1877.

Está escrita em francês.

D.PEDRO  subiu o Nilo a bordo do vapor  "Fércuz"(= Turquesa), desde o Cairo até Assuan.

Chegou à ilha de Filas (Filae) e à  2ª catarata.

Estas anotações são mais minuciosas quanto à descrição dos monumentos de Luxor, Karnak e Filas.

O  Quediva ISMAIL  presenteou-o com o ataúde da cantora  SHAMAMENSUT, da época Saíta  (XXVI Dinastia).

Ataúde da cantora SHAMAMENSUT, contendo a sua múmia. 

Entre 30 de junho de 1887  a  05 de setembro de 1888,  quando pela terceira vez foi à Europa, embora para tratamento de saúde, pensou em retornar ao Egito  :  mas pelas precárias condições financeiras não pôde realizar esse desejo.

Com a proclamação da República, em 1889, a família real foi banida do Brasil.

D.PEDRO viveu exilado em Paris, onde faleceu em 1891.

Lamentavelmente todo esse preciosíssimo acervo histórico virou cinzas no incêndio que devastou o Museu Nacional, em 2019.  Dele só restam poucas fotografias.  

MUSEOLOGIA ... egípcia.

Esta é a praça  Tahrir  ( da Libertação )  -  o centro do Cairo, a capital egípcia.
Os edifícios à esquerda são o Nilo Hilton Hotel, a Prefeitura e, ao fundo, a Rádio Egito.
No centro da praça, o famoso Museu das Antiguidades faraônicas.


Os museus não guardam coisas inúteis, velhas e sem valor :
contam a história dos nossos antepassados  - 
seus usos e costumes,
seus inventos e crenças,
seus pensamentos ...

Para se entender o mundo de 4.000 anos antes de Cristo, é preciso que se tenha um certo grau de cultura e conhecimentos.

Aqui vemos uma peruca e objetos de maquilagem de MERIT, encontrados na tumba de seu marido, o Engenheiro KÁ, que viveu no ano 1.450 aC.  : 
pinças,
espelhos,
vasos para 'khol' ,
unguentos e
frascos de perfume foram guardados há milênios, nessas caixinhas de madeira pintada.

Constantemente são realizadas grandes descobertas no Egito.
Levadas para o museu, as peças encontradas nas escavações arqueológicas passam por processos de restauração. 
Polivinil é aplicado no calcário macio em paredes de túmulos para evitar sua desintegração.

Esta é uma das poucas imagens da famosa CLEÓPATRA VII FILOPATER, filha de PTOLOMEU AULETE, rainha da dinastia Ptolomaica.
Sabe-se que era muito inteligente e que falava fluentemente egípcio, grego, latim, etíope, hebreu, árabe e persa.

















Este jovem portador de oferendas leva às costas uma mochila que bem  parece com a de um menino estudante moderno indo à escola.


























O Templo de Karnak, dedicado ao deus AMEN-RÁ, é considerado como a primeira e maior basílica do mundo. Todos os faraós deixaram aqui suas homenagens.

O faraó-herege  AKHENÁTEN também ergueu um templo ao seu deus predileto ÁTEN  -  mas ele foi desmantelado pelos seus sucessores imediatos e suas pedras foram espalhadas.
Com o auxílio de sofisticados computadores , o Dr. Mohamed Hamad, diretor dos serviços de restauração, pôde reconstituir  parcialmente os painéis desse templo, determinando o lugar de cada pedra.

Quem incentivou o estudo sistemático do Antigo Egito foi NAPOLEÃO BONAPARTE, em 1798.

Em museus franceses há inúmeros quadros e pratos de porcelana decorados onde ele foi retratado enfrentando os mamelucos na famosa  'Batalha das Pirâmides'.

Aí, onde ele travou essa batalha, D. PEDRO II e sua comitiva, tiraram esta foto para a posteridade :  ele visitou duas vezes o Egito.

Nesta outra fotografia, D. PEDRO II  (à esquerda), de costas e segurado pelas mãos por dois árabes, prepara-se para subir num dos blocos de pedra calcária da grande pirâmide de QUÉOPS ( = KHUFÚ ).

Shamamensut

Ele condecorou egiptólogos com a "Ordem da Rosa" e foi presenteado pelo Quediva do Egito com o ataúde  (contendo a múmia)  da cantora  SHAMAMENSUT, da época Saíta.
Ela estava no setor egípcio do Museu Nacional na Quinta da Boa Vista  -  Rio de Janeiro . 
Jamais abriram o ataúde para examinar a múmia, que foi apenas radiografada.

[ NOTA  -  Lamentavelmente esse precioso acervo egípcio já não mais existe, devorado pelas chamas que consumiram o Museu Nacional, em 2019.  O tesouro egípcio 'brasileiro' desapareceu para sempre, dele restando apenas umas poucas imagens fotográficas. ]

O Egito tem uma história atraente e maravilhosa porque é bastante longa : ela se desenrola através de 4 milênios.
No Brasil e na América, nós só estamos com apenas 500 anos.
Lá, foram 4.000 anos !!!





Os egípcios criaram o seu próprio padrão de vida e foram um tanto alheio aos outros povos.
Seu modo de vida  era considerado superior ao lado das outras nações.


Akhenáten, dá um beijo carinhoso, de boca, em uma de suas filhas, sentada em seu colo. Isto raramente se vê na arte egípcia.

Seu gosto pelo riso, pela música e pela brincadeira eram coisas desconhecidas dos povos vizinhos.
Afirmou HERÓDOTO  : "não há homens mais sadios e de melhor temperamento do que os egípcios."





Sua justiça era rigorosa e implacável aos criminosos, o que contribuiu para a prosperidade desse povo.
Até os juízes que proferiam má sentença, recebiam castigos cruéis.

 

Ramsés II recebe o sinete real, com sua titulatura, na cerimônia de coroação.

Esse povo era governado por um rei, cujo nome era secreto e mágico.
O rei era um deus que reinava pessoalmente.
O povo egípcio era, ao mesmo tempo, filho e adorador desse deus.
As ordens do rei não podiam ser discutidas... eram ordens de deus.
Sua figura divina adquiriu os dos criadores de RÁ  ( o deus-sol ) e o soberano passou a se apresentar como  "filho de RÁ"  -  ele recebeu o título de  "faraó"  =  luz do sol.

O egípcio acreditava que, sem as orações e os ritos sagrados, haveria
desorganização das leis da natureza,
da ordem social,
das enchentes do Nilo e
fertilidade das terras.
Os deuses garantiam o equilíbrio do mundo  -  e o faraó era o intermediário entre os deuses e os homens.

THOT  era o patrono dos escribas e da literatura  -  visivelmente representado pela íbis ,  uma ave sagrada no antigo Egito.

 Estas foram as maiores construções em pedra que os egípcios edificaram : as famosas pirâmides.
Aqui, constantes estudos vêm sendo realizados para se conhecer os métodos e a técnica empregada pela engenharia daquela época.

Artistas esculpindo suas obras.

Todos os tipos de rochas usadas na estatuária, provém deste ou daquele ponto do deserto.
Esta estátua do faraó  MENKAURA ( MIQUERINOS )  foi talhada em diorita : a rocha mais dura do solo egípcio

Maquete de casa com jardim.

Nas paredes dos túmulos e dos templos, eles nos deixaram, desenhadas, a vegetação da época, como os detalhes das flores de lótus e papiro, a mandrágora, a tamareira e tantas outras.

O nobre SENEFER decorou o teto de seu túmulo com uma parreira de uvas...












Em pinturas decorativas que mostram lagos, aparecem espécies de peixinhos, de aves, de árvores e arbustos que havia no tempo dos faraós.

 




As paredes da tumba de NEBAMEN reproduzem alguns animais da fauna egípcia, sendo que algumas espécies já desapareceram dado o extermínio do homem.

Olhos de cristal de rocha, incrustados na estátua de um escriba sentado, Museu do Louvre

O morto deveria rever, com seus olhos eternos, tudo o que lhe fora agradável nesta vida.
O além-túmulo era uma continuidade da existência terrena, com todos os seus prazeres e sofrimentos.

O estudo dos botânicos nas madeiras dos móveis, nos ataúdes e sarcófagos, nas estátuas, determinam as espécies de árvores que eles empregavam.



Através dos esqueletos ou de seus próprios corpos embalsamados, médicos, antropólogos e cientistas, com sofisticados aparelhos moderníssimos, elaboram relatórios minuciosos sobre a constituição física daquele povo.
Esta múmia é do faraó SETHI I.

Esta outra é de seu filho RAMSÉS II.

Aí está um conjunto estatuário de gêmeos.
São raríssimas as estátuas egípcias de homens com bigode.

Os defeitos físicos do faraó AMENHETEP IV , o anão SENEB, e tantos outros, também foram revelados pelos artistas, até com exageros, nas estátuas de gesso ou pedra, nas estelas ou painéis tumulares.

Através desta imagem conhecemos a postura protocolar de prece numa cerimônia religiosa :  este é o sacerdote funerário  KAEMKEB, do Antigo Império.

Na tumba do príncipe  MEKETRÁ, descoberta em Assuan, descobriram-se inúmeras maquetes de padarias,

celeiros,

indústrias de tecelagem e

modelos de infantaria.

  Aqui vemos o censo dos animais de uma propriedade : sentado sob o baldaquim, com seus auxiliares, está o vizir, a certificar a contagem.

Os tipos de redes para captura de aves e peixes,
os tipos de barcos e navios ...
enfim, todo um mundo de atividades foi documentado dentro das sepulturas egípcias.

Eles se representavam a si mesmos e a seus vizinhos, nas paredes de seus monumentos, com uma esquematização tão segura que nos permite reconhecer, sem hesitação, seus traços distintivos.

Mercado de escravos.

Foram encontrados milhares de textos religiosos e mágicos,

matemáticos,

sobre medicina,

autobiografias,

cânticos,

máximas

e até mesmo um papiro contendo autógrafos de personalidades célebres.

Esta é uma ilustração do Livro dos Mortos.

Os hieróglifos, esse estranho tipo de escrita que tão vivamente caracteriza o espírito visual e inventivo dos egípcios, são lidos hoje, pelos arqueólogos, como se estivessem lendo um jornal da nossa época... e isso graças a  CHAMPOLLION e às pesquisas dos seus sucessores.

 

Os estudos dos peitorais,

brincos,

pulseiras,

braceletes,

revelam a liga dos metais,

a técnica de lapidação

 e as pedras preciosas daquela época.

Eles demonstram também os amuletos sagrados para sua proteção contra as forças do mal.

A máscara funerária de TUTANKHAMEN, o faraó-menino, foi elaborada com ouro maciço 22 quilates e incrustações de lápis-lazúli, cornalina, feldspato verde, obsidiana, alabastro e esmaltes coloridos.
Ela vale uma fortuna em dólares.



Entre as estatuetas de ouro de TUTANKHAMEN, no Museu do Cairo, ele aparece , arpoando peixes sobre um pequeno bote de papiros, com a coroa do Baixo Egito.

Nesta estátua de madeira e gesso colorido, TUTANKHAMEN  desabrocha de uma flor de lótus, evocando e identificando-se com o nascimento divino de RÁ, o deus-sol, criador do mundo.

Este é o túmulo e o sarcófago antropomorfo de MERNEPTAH  -   13º filho e sucessor de RAMSÉS II.
MERNEPTAH foi o faraó do Êxodo, descrito na Bíblia dos hebreus.

A conjugação de todos esses elementos, mediante as espantosas revelações da arqueologia e das pesquisas, mostram esse espetáculo grandioso do Egito faraônico :  uma civilização única em seu gênero e, talvez, a maior que apareceu sobre a terra.

Antes de  NAPOLEÃO BONAPARTE, só se conhecia o Egito através da história de JOSÉ, no Gênesis e pela descrição do Êxodo  :  relatos de um povo estrangeiro que lá viveu e foi submetido à escravidão.

Hoje, temos noções mais claras e verdadeiras sobre essa civilização, graças aos esforços de inúmeras pessoas que se dedicam a conhecer o passado do homem.




Hoje, a Egiptologia não é mais privilégio de uns poucos estudiosos.
A cultura egípcia representa um patrimônio universal :  você tem o direito de conhecê-la, apreciá-la e assimilá-la, pois é uma parte de nossa história comum.









"A História não é registrada apenas por palavras.  Ela fica gravada para sempre em documentos de mármore ou pedra, nas cores, volumes e imagens, sons e movimentos.  A arte nos leva a pensar sobre o mundo e o homem."

Cada objeto que se vê num museu representa uma parcela da vida dos nossos antepassados.

Cada objeto é uma fonte histórica, que foi estudada minuciosamente por grandes pesquisadores, de diferentes áreas do saber.
Descubra, você mesmo(a) os detalhes e o significado de cada um deles.


Converse com as peças...
elas lá estão, tranquilas, receptivas e eternas...